domingo, 13 de outubro de 2024

ATRIZ JÚLIA MARTINS - 92 ANOS DE SAUDADE

JÚLIA MARTINS
 



Entre as principais atrizes-cantoras do começo do século XX, destacamos a carioca JÚLIA MARTINS. Ela foi uma das primeiras atrizes negras a se profissionalizar em nossos palcos, na virada do século XIX para o XX, destacando-se também nas gravações em discos.
 
Há 92 anos essa notável artista falecia.
 
Conheçam um pouco de sua trajetória.


Júlia Martins nasceu no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1886 (algumas fontes dão como 1890). Adotamos o ano de 1886, devido a notas nos jornais de 1897, que afirmavam que ela teria onze anos de idade.
 
Em 24 de agosto de 1897, o jornal O Paiz anunciava a primeira representação da tradicional ópera-cômica O Sinos de Corneville, no Theatro Eden Lavradio, com um elenco formado por crianças, pela Companhia Infantil da Empresa Palmerino Martins & C., com direção cênica do célebre Jacinto Heller e tendo Agostinho Gouvêa como regente e ensaiador.


O Paiz, 24 de agosto de 1897, p.06
http://memoria.bn.br/


 
A famosa ópera-cômica era uma tradução de Eduardo Garrido, com música de Robert Planquette. O elenco, todo com crianças entre nove e quatorze anos de idade, trazia Júlia Martins, então com onze anos, interpretando Martha, ao lado de também futuros artistas de destaque, como Asdrúbal Miranda (14 anos), que vivia Nicoláo, o pescador, e o “inteligente menino” Franklin de Almeida (14 anos), vivendo Gaston de Corneville. Em 05 de outubro de 1897, a peça era levada ao Theatro Municipal (seria em Niterói? Uma vez que o conhecido Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1909. Peço ajuda ao colegas pesquisadores.).
 
Em 30 de julho de 1898, no Theatro Sant´Anna, no Rio de Janeiro, Júlia Martins estreava na revista madrileña A Gran-Via, tradução de Moreira Sampaio e música dos maestros Chueca e Valverde. Ela interpretava o papel de “Criada de servir”, sendo apresentada pelo Jornal do Commercio como a “apreciada e gentil actrizinha” Júlia Martins. A empresa era a de Ferreira de Souza e o elenco, também formado por crianças.
 
Em 28 de janeiro de 1899, Júlia Martins embarcava no navio Pernambuco para a cidade de Vitória (ES) e também em direção aos “Estados do norte”, indo com a companhia do empresário Umbelino Dias, que tinha como diretor o ator Cardoso da Motta. Ao lado de Júlia Martins, outros artistas infantis, como Carmen Roldan, Maria Roldan, Consuelo Ulhes, Asdrúbal Miranda e Franklin de Almeida.
 
Essas companhias infantis exibiam as famosas peças de operetas e revistas que eram apresentadas por atores adultos. Dessa forma, Júlia Martins estreou no mundo artístico, como atriz-cantora infantil. Ao longo dos anos, iria se destacar como cançonetista.
 
Em 13 de dezembro de 1902, o jornal A Capital anunciava Júlia Martins, ao lado do ator Lino, apresentando-se no Parque Rio Branco, em Niterói. Nesse local, ao lado dela, também se apresentavam Anna Manarezzi, Eduardo das Neves e Geraldo Magalhães. Em 20 de janeiro de 1903, o mesmo jornal anunciava para esse mesmo teatro, “Júlia Martins, saleroza e cheia de graça promette mil cousas para esta noite”.
 
Ainda em 1902, também atuou na cidade de Petrópolis.


A Capital, 20 de dezembro de 1902
http://memoria.bn.br/




A Capital, 21 de dezembro de 1902, p.05
http://memoria.bn.br/


 
Em 28 de dezembro de 1903, Júlia Martins estreava no Theatro Maison Moderne, como cançonetista brasileira.


Correio da Manhã, 27 de dezembro de 1903, p.02
http://memoria.bn.br/


 
Em 1897, o empresário tcheco Frederico (Fred) Figner iniciou as gravações em cilindros no Brasil, convidando os artistas Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) e Cadete (Manuel Evêncio da Costa Moreira) para fazerem as primeiras gravações. A partir de 1902, na Casa Edison, da autoria de Fred Figner, eram gravados os primeiros discos no Brasil, com a participação de Bahiano e Cadete. Os cilindros ainda circularam por vários anos e, em 1903, no jornal O Echo Phonographico, encontramos um anúncio de cilindros brasileiros: “Continuamos tambem a imprimir Cançonetas e Modinhas Brasileiras de Sta. Consuelo, Júlia e do celebre Bahiano”. Senhorita Consuelo foi uma das primeiras mulheres a gravar disco no Brasil e, pela nota, também gravou cilindros. Já a cantora Júlia, citada no anúncio, seria Júlia Martins? A julgar pela notoriedade da artista como cantora, é provável que sim.
 
A partir de 1907, segundo o site da Discografia Brasileira, Júlia Martins começou a ter seus discos lançados no mercado. Até 1914, gravaria cerca de 32 músicas, algumas em parcerias com cantores como Eduardo das Neves, João Barros e Bahiano.
 
Com Bahiano, ela deixou célebres registros como Cidade Nova e Saco do Alferes, que fazia parte da peça O Rio Nú, do final do século XIX, com melodia do tango Favorito, de Ernesto Nazareth. Júlia e Bahiano tinham uma ótima sintonia e sempre estavam bem à vontade nas gravações, brincando um com outro. Podemos sentir isso ouvindo Ai, que gostos, O Engraxate e O Vagabundo e a Mulata, A Vassourinha. Também sabiam ser românticos em A Cigana e o Feiticeiro e, principalmente, em O Retrato e a Flor.
 
Com João Barros, ela gravou algumas músicas, entre as quais destacamos A Capital Federal, tango da burleta homônima de Arthur Azevedo, no qual eles interpretam, precisamente, o Tango do Lourenço, o cocheiro da peça, que canta com a protagonista, a cortesã Lola. Júlia Martins, em meados da década de 1910, atuara em uma remontagem de A Capital Federal, vivendo a criada Benvinda.
 
Sozinha, Júlia Martins gravaria A Mulatinha, de Chiquinha Gonzaga. Também gravaria, entre outras, A Flor da Pitangueira, modinha que ela cantou na peça República do Amor, em 1913. Também gravaria o sucesso do Carnaval de 1913, Caraboo, de Sam Marshall e Alfredo Albuquerque.



Júlia Martins
O Imparcial, 12 de junho de 1915, p.06
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Em grupo, Júlia Martins participou de duas antológicas gravações: Cabocla de Caxangá, que ela viveu no teatro de revista; e A Viola está magoada. A primeira, gravada por Eduardo das Neves, com Bahiano e Júlia no coro; e a segunda, gravada por Bahiano, com Júlia no coro.
 
No começo da década de 1910, passou a se dedicar mais ao teatro musicado, atuando em várias companhias teatrais e alcançando sucesso nos palcos, sendo uma das primeiras atrizes negras a se profissionalizar nesse gênero teatral.
 
No gênero revista ou burleta, Júlia Martins se destacou em várias peças, como O Reino do Maxixe, A Capital Federal, Cabocla de Caxangá, A Sertaneja, Morro da Favela, Flor de Catumby, O Pé de Anjo, entre outras.


Júlia Martins e Brandão Sobrinho em A Capital Federal, 1915
Ela interpretou Benvinda e ele, Seu Figueiredo
Jornal de Theatro & Sport, 1915
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O Imparcial, 22 de dezembro de 1915, p.12
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Júlia Martins faleceu em 13 de outubro de 1932, à noite, vitimada por um ataque cardíaco, em sua casa, na Rua do Lavradio, nº 70, no Rio de Janeiro. Ela tinha 46 anos.



Júlia Martins
Comédia, 1918
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RECORTES SOBRE JÚLIA MARTINS


A Capital, 03 de janeiro de 1903
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A Capital, 11 de janeiro de 1903
http://memoria.bn.br/




A Notícia, 13 e 14 de janeiro de 1905, p.01
http://memoria.bn.br/



A Capital, 22 de junho de 1909, p.01




A Capital, 24 de junho de 1909, p.01
http://memoria.bn.br/




Jornal de Theatro & Sport, 1915
http://memoria.bn.br/





O Imparcial, 28 de outubro de 1915, p.12
http://memoria.bn.br/





Júlia Martins
Futuro das Moças 1917, p.16
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Comédia, 1918
http://memoria.bn.br/




Jornal de Theatro & Sport, 1919
http://memoria.bn.br/





Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/




Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/





Comédia, 1919
http://memoria.bn.br/




Diário da Noite, 14 de outubro de 1932, p.05
http://memoria.bn.br/




Jornal do Brasil, 14 de outubro de 1932, p15
http://memoria.bn.br/




A Noite, 18 de outubro de 1932, p.12
http://memoria.bn.br/




 A Batalha, 18 de outubro de 1932, p.04
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GRAVAÇÕES DE JÚLIA MARTINS


A CAPITAL FEDERAL


https://discografiabrasileira.com.br/

Tango de Arthur Azevedo e Nicolino Milano
Gravado por Júlia Martins e João Barros
Acompanhamento de Orquestra
Disco Victor Record 98.908
Gravado e lançado em 1907


 
A VASSOURINHA


https://discografiabrasileira.com.br/

Dueto de Felipe Duarte e Luiz Filgueira
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.375
Gravado em 09 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
O ENGRAXATE


https://discografiabrasileira.com.br/

Dueto de B. Esfolado
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.376
Gravado em 09 de dezembro de 1912 e lançado em abril de 1913



 
O RETRATO E A FLOR


Arquivo Nirez

Dueto
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.436
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913





 
CIDADE NOVA E SACO DO ALFERES
Dueto de Bahiano e Ernesto Nazareth
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.438
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913
 




AI QUE GOSTOS!
Dueto de Bahiano
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.439
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
O VAGABUNDO E A MULATA


Arquivo Nirez

Dueto de Bahiano
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.440
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
A CIGANA E O FEITICEIRO


Arquivo Nirez

Dueto de Eustórgio Wanderley
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento de Piano
Disco Odeon Record 120.441
Gravado em 17 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
A VIOLA ESTÁ MAGOADA


https://discografiabrasileira.com.br/

Samba de Catullo da Paixão Cearense
Gravado por Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento do Grupo da Casa Edison
Disco Odeon Record 120.445
Gravado em 18 de dezembro de 1912 e lançado em 1913



 
CABOCLA DE CAXANGÁ


https://discografiabrasileira.com.br/

Batuque Sertanejo de João Pernambuco e Catullo da Paixão Cearense
Gravado por Eduardo das Neves, Bahiano e Júlia Martins
Acompanhamento do Grupo da Casa Edison
Disco Odeon Record 120.521
Gravado em 02 de janeiro de 1913 e lançado em 1913


 
 
CARABOO


https://discografiabrasileira.com.br/

Canção de Sam Marshall e Alfredo Albuquerque (P. Dante)
Gravada por Júlia Martins
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 137.063
Gravado em 16 de abril de 1913 e lançado em 1913



 
A FLOR DA PITANGUEIRA


https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu de Luz Jr.
Gravado por Júlia Martins
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 137.064
Gravado em 16 de abril de 1913 e lançado em 1913














Agradecimento ao Arquivo Nirez










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