ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : O ENCONTRO DE ARACY CÔRTES E JOSEPHINE BAKER

segunda-feira, 29 de julho de 2024

O ENCONTRO DE ARACY CÔRTES E JOSEPHINE BAKER - 1929

ARACY CÔRTES E JOSEPHINE BAKER

Em novembro de 1929, na Confeitaria Colombo, uma feijoada marcou um antológico encontro entre duas importantes artistas: Aracy Côrtes e Josephine Baker. O acontecimento foi registrado pela imprensa e ficaria na memória de cronistas, que décadas depois, ainda lembrariam de uma tarde regada à música popular e à nossa tradicional culinária.

No final do ano de 1929, a estrela internacional Josephine Baker visitava o Rio de Janeiro, em apresentações que ficariam famosas. Nascida nos EUA, Josephine fez sucesso em Paris, destacando-se pelo resto do mundo com sua bonita voz e um estilo de dança considerado exótico para a época. Ela foi uma das primeiras artistas negras a se destacar internacionalmente.

No mesmo período, no Brasil, Aracy Côrtes já era um nome bastante conhecido em nosso meio artístico, sendo uma das principais atrizes de nosso Teatro de Revista. Aracy também seria, em nosso país, uma das primeiras estrelas negras a se firmar profissionalmente e ter seu talento reconhecido.

Por ocasião da passagem de Josephine Baker pelo Rio de Janeiro, o empresário, Nicolino Viggiani, responsável por sua vinda ao Brasil, resolveu promover uma feijoada em homenagem à artista, tendo como convidada especial para a ocasião, Aracy Côrtes, que tão bem interpretava nosso samba e músicas regionais. Josephine Baker queria muito conhecer nossa música popular e ninguém melhor que Aracy Côrtes para apresentá-la.

O evento aconteceu ao meio-dia do sábado, 23 de novembro de 1929, na Confeitaria Colombo, no Centro do Rio de Janeiro. Aracy Côrtes chegou ao local pouco depois do meio-dia, de braços com seu esposo, o dançarino Esteban Palos. Nossa estrela, segundo os jornais da época, apresentava “um elegante vestido moderno, de velludo estampado, de tonalidade escura, como que um verde-garrafa”, uma boina “branco-creme” enfeitava sua cabeça. Ousada também em suas vestimentas, Aracy Côrtes estava usando “meias modernas, que se dobram em brocado sobre os tornozelos”. O casal tomou o elevador e se dirigiu ao local do banquete. Pouco depois, a pequena multidão, que se concentrava em frente da confeitaria, agitou-se com a chegada de Josephine Bake, que vinha com seu esposo, Pepe Abbatino. Ela se assustou um pouco com a agitação das pessoas e quase passou direto pelo local da reunião. Avisada, voltou e entrou nos salões da Colombo. Vestindo uma “toilette [...] muito elegante, simples e discreta. Era de um suave verde malva, com uma bela e simples casquette da mesma nuança”.

Todos chegaram ao salão de banquetes da Confeitaria Colombo, que reunia cerca de 35 pessoas. Entre elas, estavam: Basílio Viana, Mário Nunes, Paulo Magalhães, Davina Fraga, Jarbas de Carvalho, Alvarenga Fonseca.

O jornalista Lafayette Silva apresentou Aracy à Josephine, que posaram para várias fotografias. Seguiu-se a feijoada, regada à nossa música, que foi executada pelos Boêmios Brasileiros. Terminado o almoço, que também contou com versos declamados por alguns presentes, Aracy Côrtes presenteou os presentes e, em especial, Josephine Baker, cantando algumas músicas de seu repertório, composto por sambas melodiosos, lânguidos e buliçosos. Ao final de sua apresentação, Josephine correu para abraçar e beijar Aracy.

No dia seguinte, Josephine Baker faria sua última apresentação em nosso país. Ela ainda voltaria outras vezes, conquistando mais fãs e, novamente, se encantando com nossa cultura.

Quatro anos depois, em 1933, Josephine Baker aplaudiria Aracy Côrtes mais uma vez, quando Aracy esteve se apresentando em Paris.