Carmen
Miranda, nossa Pequena Notável, continua nos dias de hoje a nos encantar e a
conquistar novos e ardorosos fãs. Isso é fruto de seu grande talento e carisma,
que podemos conferir através de suas gravações em discos, filmes e shows de
televisão, fora as inúmeras fotografias que retratam toda sua vida e carreira.
Falando em
carreira, sempre foi de concordância entre os pesquisadores de Carmen Miranda
que sua estreia como cantora para o público, mesmo que amadora, se deu em 07 de
janeiro de 1929 no Instituto Nacional de Música, em um evento beneficente
promovido pelo deputado Annibal Duarte em homenagem ao compositor Ernesto
Nazareth. A data desse evento foi descoberta por nosso querido amigo, o
pesquisador Luiz Antônio de Almeida, biógrafo e herdeiro moral honorário de
Ernesto Nazareth que, ao pesquisar no caderno de notas do músico, descobriu a
data correta.
Nós,
pesquisadores, estamos sempre na ativa, buscando fatos novos, muitas vezes em
vão. Porém, em uma dessas tentativas, encontrei uma data anterior a essa
apresentação, onde Carmen Miranda, ainda em agosto de 1928, tomava parte de um
evento também beneficente no mesmo Instituto Nacional de Música. Creio que essa
nova data seja, até o momento, a estreia de Carmen como cantora perante um
público, ainda na condição de amadora. Interessante é o fato dela se apresentar
cantando tangos, sua paixão na adolescência ao lado da música popular feita no
Brasil.
Vou discorrer
um pouco sobre essa fase da vida de Carmen Miranda, com alguns recortes e
fotografias.
Carmen
Miranda nasceu Maria do Carmo Miranda da Cunha em Portugal, na cidade do Porto,
no vilarejo de Marco de Canaveses, no dia 09 de fevereiro de 1909. Seus pais já
tinham uma filha, Olinda. Em busca de melhores condições de vida, a família se
muda para o Brasil. Primeiro, veio o sr. José Maria Pinto da Cunha, para depois
aqui chegarem d. Maria Emília Miranda da Cunha com suas duas filhas, Olinda e
Maria do Carmo, esta com mais ou menos um ano de idade.
Carmen, como
era chamada pela família, cresceu em bairros como a Lapa e, depois, no Centro
do Rio de Janeiro quando, já adolescente, foi morar na Travessa do Comércio,
nos Arcos da Lapa, ao lado da Praça XV. Sua mãe abriu uma pensão na casa da
família, onde servia refeição ao público. Entre os clientes, vários músicos.
Com o desejo
de ser artista, Carmen Miranda (ela adotara o sobrenome de solteira de sua mãe)
tentou carreira no cinema ainda em meados dos anos 20, conseguindo apenas fazer
figuração em um filme. Por volta de 1928 ela conheceu o violonista e compositor
baiano Josué de Barros que, vendo o potencial talento da jovem, tratou de inseri-la
no meio artístico.
É aí que
chegamos em 28 de agosto de 1928, o dia em que Carmen Miranda se apresenta no Instituto
Nacional de Música, em um evento de caridade em benefício ao Orfanato do
Sagrado Coração de Jesus. Segundo o jornal A Esquerda, de 27 de agosto de 1928,
p.04, seriam apresentados “tangos argentinos pela graciosa senhorinha Carmen
Miranda”.
Após esse
evento, Carmen Miranda aparece na célebre apresentação do Instituto Nacional de
Música em homenagem ao compositor Ernesto Nazareth, realizada em 07 de janeiro
de 1929.
No começo da
década de 1990 descobri uma interessante fotografia na revista O Violão, no
Arquivo Nirez (em Fortaleza – Ce), onde havia um grupo de pessoas reunidas em
um pequeno palco. A legenda da fotografia citava Ernesto Nazareth, mas pude
perceber, entre os presentes, o sorriso marcante de Carmen Miranda e, ao seu
lado, sua irmã Aurora Miranda ainda adolescente. Mais tarde vim a saber que
essa era a participação de Carmen no evento realizado pelo deputado baiano Annibal
Duarte. Por ocasião dos 50 anos de morte de Carmen Miranda, em 05 de agosto de
2005, publiquei um artigo no jornal O Povo, aqui de Fortaleza, divulgando essa
fotografia. Detalhe: na legenda da revista O Violão, o nome de Carmen Miranda
não é citado.
É um
importante registro. Com calma, vários amigos puderam identificar os outros
participantes. No grupo estão, além de Ernesto Nazareth, Carmen Miranda e
Aurora Miranda, o cantor Breno Ferreira, o deputado Annibal Duarte, o namorado
de Carmen, Mário Cunha, o irmão de Carmen, Oscar Miranda, Josué de Barros e seu
filho Betinho. Algumas pessoas ainda não foram identificadas.
Revista O Violão, fevereiro de 1929 Arquivo Nirez |
Jornal O Povo, 05 de agosto de 2005 Arquivo Marcelo Bonavides |
Jornal O Povo, 05 de agosto de 2005 Arquivo Marcelo Bonavides |
Nesse mesmo
ano de 1929, ainda no primeiro semestre, Carmen Miranda e Josué de Barros
estavam investindo bastante em sua carreira como cantora. Ela se apresentou em
algumas rádios como Rádio Educadora do Brasil, Rádio Sociedade e Rádio Mayrink Veiga.
Ainda em
março, ela faria (talvez) sua primeira apresentação fora da cidade do Rio de
Janeiro, indo se apresentar em Petrópolis e sendo apresentada pela imprensa
como especialista em tangos.
Diário Carioca, 21 de março de 1929 http://memoria.bn.br/ |
Com tanto
emprenho na carreira da jovem cantora, o próximo passo dado por Josué de Barros
foi conseguir que ela gravasse um disco. E isso foi feito em setembro de 1929
na gravadora Brunswick, onde Carmen Miranda registrou em cera as composições de
Josué: Se o Samba é Moda, choro, e Não vá Simbora, samba. O disco
demoraria a ser lançado e Josué levou Carmen para um teste na Victor, onde ela
foi aprovada imediatamente.
Na Victor,
ela começou a gravar em dezembro de 1929, sendo os discos lançados já em
janeiro de 1930, juntamente com o seu primeiro da Brunswick. Porém, na Victor,
Carmen Miranda chamaria atenção ao seu modo de interpretar as composições,
destacando-se rapidamente como uma popular intérprete, chegando em pouco tempo
ao posto de maior cantora do Brasil, principalmente após o lançamento da marcha
canção de Joubert de Carvalho, Prá Você Gostar de Mim, mais conhecida como Taí.
A partir de então, Carmen Miranda se sobressairia no cenário artístico brasileiro, conquistando o público através de seus discos, shows, aparições em rádios e no cinema, que agora fazia questão de tê-la nos filmes musicais que eram lançados a cada ano. Com toda essa bagagem não demoraria muito Carmen fascinar, em breve, o mundo.
Primeiro disco gravado por Carmen Miranda
Não vá Simbora/Se o Samba é Moda
P´ra Você Gostar de Mim (Taí)
Obs. Ótima remasterização de Gustavo Lopes
Agradecimentos a Luiz Antoônio de Almeida
Ótimo
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