Há 153 anos nascia o pioneiro
cantor BAHIANO.
Manuel Pedro dos Santos nasceu em
Santo Amaro da Purificação, Bahia, em 05 de dezembro de 1870.
Trago novamente um texto que escrevi
em 2013 sobre Bahiano, com algumas adaptações:
“Há 152 anos, em uma segunda-feira,
05 de dezembro de 1870, nascia em Santo Amaro da Purificação, Bahia, o mais
popular cantor do começo do século XX, Manuel Pedro dos Santos, mais conhecido
como BAHIANO.
Bahiano foi, provavelmente, o primeiro cantor a gravar discos no Brasil e na
América Latina, em 1902.
O célebre lundu Isto é Bom,
do ator e compositor Xisto Bahia, foi gravado juntamente com dezenas de outras
músicas na primeira sessão de gravação para discos em nosso País. Isto
é Bom foi a primeira música a ser lançada, em disco Zon-O-Phone 10001.
De 1902 até meados da década de 1920, Bahiano gravou centenas de músicas dos
mais variados estilos, fazendo antológicos duetos com vários (e também lendários)
artistas de sua época.
Cançonetista do tempo dos chopes berrantes, cafés concertos, Bahiano logo ficou
popular no Rio de Janeiro e em São Paulo. Sua fama o levou às gravações em
cilindros e nos discos (chapas), tornando sua popularidade maior ainda.
Versátil, ele estava sempre muito à vontade em suas gravações; assumindo
personagens, brincava e implicava com Senhorita Consuelo e Júlia Martins,
levando delas divertidas respostas.
Braga, Escudeiro, O. de Azevedo, Cadete, Eduardo das Neves, Mário Pinheiro,
entre outros, fizeram desafios ou duetos com ele. Assim, como Risoleta, Maria
Roldan, Maria Marzulo, Isaltina e, até arrisco, Medina de Sousa, também
gravaram em sua companhia. Aliás, Medina o levou a soltar sua voz em uma
interpretação lírica.
Isso sem falar com os novos talentos
de uma nova era, pós Belle Époque, como Vicente Celestino e Januário.
Além do pioneirismo, ele gravou muitos sucessos em discos, dos quais vários se
tornaram clássicos de nosso cancioneiro: Perdão Emília, A
Mulata, O Angú do Barão, O Sino da Tarde, Ai
Philomena, Pelo Telephone... a lista, só dos clássicos, é
imensa.
Digo mais. Bahiano, assim como mais tarde Aracy Côrtes, participou da transição
de épocas marcantes. Ele, até mais que Aracy.
Começando a gravar em 1897 (cilindros) e depois em 1902 (discos), juntamente
com o início da indústria fonográfica brasileira, ele trazia toda a bagagem
cultural e modismos do século XIX. Até então, a única forma de se divulgar a
música eram as partituras, teatro musical e bandas de músicas. As composições
ficavam um pouco presas em cada cidade, principalmente no Rio de Janeiro, onde
eram propagadas entre os moradores. Como vantagem, haviam as partituras para
piano e canto, que rodavam o país (e mundo); também,
as heroicas excursões feitas pelas trupes teatrais e, não menos
importantes, os cantadores, boêmios, e os amantes da música popular, que saiam
espalhando as melodias e letras por onde conseguissem chegar. O povo era também
um grande divulgador.
Com a chegada da gravação em disco, isso mudou. Ficou mais fácil levar as
chapas para as várias regiões do Brasil, onde seriam ouvidas por muitas
pessoas, entre um misto de espanto e prazer.
Havia um detalhe: os inúmeros sucessos dos tempos do Brasil Colônia, do Império
e início da República, não poderiam cair no esquecimento. Muitos estavam
fresquinhos na memória da população graças ao teatro de revista e suas atrizes,
e aos cançonetistas que entretinham o público dos cafés concertos. Dessa forma,
Bahiano e seus colegas gravaram muitos sucessos de peças teatrais, modinhas e
poesias de grandes e saudosos talentos; bem como precisavam ir registrando os
sucessos da atualidade e seus modismos.
Dessa forma, ele viveu vários personagens em suas gravações. Saindo do Império,
com suas modinhas e cançonetas, ingressou na República, com os lundus que
faziam as delícias das plateias teatrais, afinal, ninguém esquecera da Sabina e
o fazendeiro Euzébio; ingressou na Belle Époque, cantando o Art
Nouveau e sua interessante moda, como também registrou acontecimentos
marcantes de sua atualidade, afinal, ‘A Europa curvou-se ante o Brasil’ e entre
o clamor de parabéns em meio tom, ‘apareceu Santos Dumont’. Engraxou,
foi abanador apaixonado por uma Vassourinha e,
até, Feiticeiro, onde partiu com sua Cigana para
encontrar a buena dicha nas linhas do coração. Veio a Primeira
Grande Guerra e ele cantou para os soldados que partiam. Nesse meio tempo,
gravou modinhas lindíssimas e, ele mesmo, também registrou suas impiedosas
paródias. Com o sucesso teatral de sua amiga Julinha Martins, colocou a Philomena na
história de tal forma que, no futuro (muito futuro) iam incluir
um coelhinho no meio, em uma paródia muito sem-vergonha (para usar um
termo de outrora). Ai, Philomena, seu eu fosse como tu...
E assim ele foi gravando, sempre animado e inspirado. Se haviam acabado as
cançonetas, havia o samba. Por onde? Pelo Telephone mesmo!
Afinal, tudo podia ser motivo para um samba ou uma marcha, até um Pé de
Anjo.
Sempre reencontrando os colegas, gravou com o coro do Theatro São José, onde
sua velha amiga Julinha Martins se sobressai no coro. Aliás, esses dois
gravaram nada menos que a Cabocla de Caxangá. Nas palavras de hoje,
Júlia Martins e Bahiano tinham uma química incrível nas gravações.
Mas, os anos 20 já chegavam com seus jovens e novos astros. Mesmo assim, o sr.
Manuel Pedro ainda emplacou sucessos, antes de se afastar. Nessa fase final de
sua carreira, nada menos que Luar de Paquetá; Ai, Seu Mé; Sai
da Raia; De Bam Bam Bam; Vida Apertada...
Mas, ele se afastou. Nosso querido País, ao mesmo tempo em que acolhia os novos
talentos da década de 30, esquecia-se de seus antigos intérpretes. Os meios de
comunicação, a mídia e as informações aumentavam e se propagavam de forma
assustadoramente rápida, mas isso em nada ajudava a lembrar dos pioneiros. E
olha que haviam se passado apenas três décadas.
Nesse esquecimento ele faleceu. Nascido na Bahia (05 de dezembro de 1870), na
cidade de Santo Amaro da Purificação, Manuel Pedro dos Santos, faleceu em um
sábado, 15 de julho de 1944, no Rio de Janeiro, meses antes de completar 74
anos.
Para os pesquisadores, amantes da boa e pioneira MPB, ele será sempre lembrado.
Nunca sairá de moda.
Em nossos assuntos musicais ele nunca
precisará de permissão para fazer parte, basta repetirmos euforicamente a
exclamação de Júlia Martins em uma de suas gravações: ‘Entra, Bahiano!’”.
O jornal O Echo Phonographico fez uma homenagem a Bahiano por seu aniversário, em 1904. |
BAHIANO Revista Musical, 1924 http://memoria.bn.br/ |
Em sua homenagem, trago vinte e cinco gravações feitas por ele na Casa Edison entre 1902 e 1920.
BOLIMBOLACHO
Lundu
Gravado por Bahiano
Disco Zon – O – Phone 10.002
Gravado e lançado em 1902
ESPECOLONDRÍFICO
Selo de Especulondrífico Arquivo Nirez |
Monólogo
Gravado por Bahiano
Disco Zon – O – Phone 1.535
Gravado em 1902
TUDO PODE ACONTECER
Selo de Tudo Pode Acontecer Arquivo Nirez |
Monólogo
Gravado por Bahiano
Disco Zon – O – Phone 1.655, matriz 1655
Gravado em 1902 e lançado em 1903
AMENIDADE
Selo de Amenidade Arquivo Nirez |
Serenata de Catullo da Paixão Cearense
Gravada por Bahiano
Disco Zon – O – Phone X-639
Gravado em 1903
O ANGÚ DO BARÃO
Selo de O Angu do Barão Arquivo Nirez |
Cançoneta de Ernesto de Souza
Gravada por Bahiano
Disco Zon – O – Phone X-670
Gravado em 1903
PRA EXPOSIÇÃO
Selo de Pra Exposição Arquivo Nirez |
Cançoneta
Gravada por Bahiano
Disco Zon – O – Phone X-697, matriz X-697
Gravado em 1903
VALSA DOS SINOS DE CORNEVILLE
Selo de Valsa dos Sinos de Corneville Arquivo Nirez |
Valsa de Roberto Planquete
Gravada por Bahiano
Disco Zon – O – Phone X-701
Gravado em 1903
JURAMENTO ESQUECIDO
Selo de Juramento Esquecido Arquivo Nirez |
Modinha
Gravada por Bahiano
Disco Odeon Record 10.234
Lançado em 1906
A ROSA
Modinha de Bernardo Cunha
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Violão
Disco Odeon Record 10.284, matriz R-1359
Lançado em dezembro de 1912
MINGAU BEM MEXIDO
Selo de Mingau Bem Mexido Arquivo Nirez |
Lundu
Gravado por Bahiano
Disco Odeon Record 10.320, matriz R-1491
Lançado em dezembro de 1912
O MAXIXE BRASILEIRO
Selo de Maxixe Brasileiro Arquivo Nirez |
Lundu de Luiz Moreira e Aurélio Cavalcante
Gravado por Bahiano
Disco Odeon Record 120.172, matriz XR-1721
Gravado em 18 de setembro de 1911 e lançado em fevereiro de 1913
TELEFONANDO
Cançoneta
Gravada por Bahiano
Disco Odeon Record 120.305, matriz XR-1867
Gravado em 21 de setembro de 1911 e lançado em fevereiro de 1913
CACHORRO IDEAL
Selo de Cachorro Ideal Arquivo Nirez |
Cançoneta Paródia de Sam Marshall e Gustavo Tjader
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon Record 120.570
Gravado em 16 de abril de 1913 e lançado em 1913
O PASSARINHO
Selo de O Passarinho Arquivo Nirez |
Canção de Francisco Teles
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.033
Lançado em 1915
VALSA DA PRIMAVERA
Selo de Valsa da Primavera Arquivo Nirez |
Valsa
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.059
Lançado em 1916
BAHIANO VAIDOSO
Selo de Bahiano Vaidoso Arquivo Nirez |
Cançoneta Alegre
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.060
Lançado em 1916
MEIA NOITE
Modinha
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.062, matriz R-517
Lançado em 1916
DESPEDIDA DO MARUJO
Selo de Despedida do Marujo Arquivo Nirez |
Canção
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.306, matriz R-521
Gravado e lançado em 1917
OS PEIXINHOS DO MÁ
Canção Sertaneja
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Orquestra e Coro
Disco Odeon Record 121.317
Gravado e lançado em 1917
PELO TELEPHONE
Selo de Pelo Telephone Arquivo Nirez |
Samba de Ernesto dos Santos (Donga) e Mauro de Almeida
Gravado por Bahiano
Acompanhamento de Conjunto e Coro
Disco Odeon Record 121.322, matriz 121332-3
Gravado e Lançado em 1917
A ROLINHA DO SERTÃO (ASSIM É QUE É)
Selo de A Rolinha do Sertão Arquivo Nirez |
Samba Carnavalesco de Mirandella e J. Rezende
Gravado por Bahiano
Acompanhamento de Violão
Disco Odeon Record 121.531
Lançado em 1919
O SABIÁ
Selo de O Sabiá Arquivo Nirez |
Canção de José Francisco de Freitas
Gravado por Bahiano
Acompanhamento de Flauta, Cavaquinho e Violão
Disco Odeon Record 121.532
Lançado em 1919
FOI ENGANO
Schottisch de Anacleto de Medeiros
Gravado por Bahiano
Disco Odeon Record 121.642
Lançado em 1919
FATALIDADE DE UM BEIJO
Selo de Fatalidade de um Beijo Arquivo Nirez |
Schottisch de Américo Jacomino (Canhoto)
Gravado por Bahiano
Acompanhamento de Américo Jacomino (Canhoto) ao Violão
Disco Odeon Record 121.645
Lançado em 1919
NA VALSA
Valsa
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Violão
Disco Odeon Record 121.800
Lançado em 1920
Agradecimento ao Arquivo Nirez
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