CANÇÃO DOS INFELIZES – UM CLÁSSICO DE DONGA POR TRÊS DAMAS DE NOSSA CANÇÃO
Da esquerda para a direita: ZAÍRA CAVALCANTI, ZAÍRA DE OLIVEIRA E ELIZETH CARDOSO
Há 46 anos falecia o compositor e violonista DONGA.
Nascido no Rio de Janeiro em 05 de
abril de 1890, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, foi um de nossos
maiores compositores.
Foi um dos autores do clássico samba
Pelo Telephone, sucesso em 1917 e conhecido até hoje.
Casou-se com a soprano Zaíra de
Oliveira, sendo pai de Lygia dos Santos, futura historiadora. Após a morte de
Zaíra, Donga se casaria com Maria, que aos 90 anos de idade se tornaria
cantora.
Donga faleceu no Rio de Janeiro em 25
de agosto de 1974, aos 84 anos de idade.
Uma das mais belas canções de Donga,
sem dúvida, é Canção dos Infelizes. Composta em parceria com Luiz
Peixoto, foi gravada em 1930 por Zaíra Cavalcanti na Odeon e por Zaíra de
Oliveira na Parlophon em 1931. Décadas depois, seria regravada por Elizeth
Cardoso em 1974 no álbum A Música de Donga. Ainda receberia
regravações de Cristina Buarque, em 1981, e Moacyr Luz, em 2001.
Os versos de Luiz Peixoto retratam a
realidade de mulheres que amam demais e que sofrem com suas desilusões
amorosas. Algumas, com sorte no amor, “sobem mais que uma estrela”, já outras,
sem tanta sorte, “andam mais baixo que a lama”. Ao acolher em seus corações um
amor, as mulheres experimentariam emoções extremas, dando milhões de prazeres
ou cortando mais que uma navalha.
Zaíra Cavalcanti, em sua interpretação,
recita a segunda parte, enquanto Zaíra de Oliveira e Elizeth Cardoso cantam
todos os versos.
Também era conhecida como Canção
das Infelizes, sendo gravada dessa forma por Zaíra de Oliveira.
Trago as três interpretações, todas
belíssimas, feitas por artistas de grande talento e sensibilidade.
CANÇÃO
DOS INFELIZES
São
as mulheres raízes
Ou
frondes muito elevadas
Uma
são sempre felizes
Outras,
as mais desprezadas
Há
as que amam na vida
E
as que só vivem amadas
Sofrem
as mais esquecidas
Gozam
as sempre lembradas
Eu
quis alguém que não me quis bem
Agora,
também não quero a ninguém
Dei
meu amor
Deixaram
perder
Eu
morro de dor
Mas
hei de esquecer
No
coração das mulheres
Quando
um amor se agasalha
Ou
dá milhões de prazeres
Ou
corta mais que a navalha
Uma
infeliz quando ama
Não
há amor igual ao dela
Ama
mais baixo que a lama
Ou
sobe mais que uma estrela.
ZAÍRA CAVALCANTI
ZAÍRA CAVALCANTI
Arquivo Nirez
A crítica de O Paiz, em 01
de junho de 1930, se referia à gravação de Zaíra Cavalcanti para Canção
dos Infelizes: “Assim, na Canção dos infelizes, ella diz com
muita expressão e sentimento os bonitos versos de Luiz Peixoto, musicados com
notável propriedade e comprehensão por Ernesto dos Santos, o querido Donga,
autor especializado em genero genuinamente popular, como é o samba e o chôro”.
Já
o Correio da Manhã, ao comentar o disco, que trazia do Lado A o
samba de Gonçalves de Oliveira, Diga, e do lado B, Canção dos Infelizes, de
Donga e Luiz Peixoto, assim escrevia: “Este disco profundamente sentimental,
tem em ‘Diga’ samba canção gentil e apreciavel e na outra canção um momento de
lyrismo que ha de provocar muita emoção. A artista interpreta com esmero, em
boa demonstração de sua intelligencia e da sua sensibilidade”.
Selo de Canção dos Infelizes
Arquivo Dijalma Candido
Canção de Ernesto dos Santos (Donga) e
Luiz Peixoto
Gravada por Zaíra Cavaçcanti
Acompanhamento da Orquestra Pan
American, sob a Direção de Simon Bountman
Disco Odeon 10.611-A, matriz 3547-1
Lançado em junho de 1930
ZAÍRA DE OLIVEIRA
ZAÍRA DE OLIVEIRA
Em uma apresentação de Zaíra de Oliveira, no qual ela cantava
Canção das Infelizes, o jornal Diário Carioca fez a seguinte observação: “A voz
clara de Zaíra de Oliveira, suave, mansa, embalante, vai se elevando, naquele
andamento moderado de valsa lenta, a cantar as amarguras das infelizes que
foram desprezadas... [...] As palavras lhe caem dos labios como se fossem lagrimas
que lhe tombassem dos olhos. [...] Finda a canção. Não se ouvem palmas logo.
Teria desagradado? Não. Cada um revivia, em silencio, uma saudade; sonhava com
uma canção que já ouvira outrora. Sómente depois de passado o encantamento do
sonho, despertaram para aplaudir a interprete e o autor da musica”.
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