terça-feira, 25 de agosto de 2020

CANÇÃO DOS INFELIZES – UM CLÁSSICO DE DONGA POR TRÊS DAMAS DE NOSSA CANÇÃO

Da esquerda para a direita:
ZAÍRA CAVALCANTI, ZAÍRA DE OLIVEIRA E ELIZETH CARDOSO



Há 46 anos falecia o compositor e violonista DONGA.  


Nascido no Rio de Janeiro em 05 de abril de 1890, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, foi um de nossos maiores compositores.
 
Foi um dos autores do clássico samba Pelo Telephone, sucesso em 1917 e conhecido até hoje.
 
Casou-se com a soprano Zaíra de Oliveira, sendo pai de Lygia dos Santos, futura historiadora. Após a morte de Zaíra, Donga se casaria com Maria, que aos 90 anos de idade se tornaria cantora.
 
Donga faleceu no Rio de Janeiro em 25 de agosto de 1974, aos 84 anos de idade.


ERNESTO DOS SANTOS (DONGA)
http://pt.jango.com/


 
 
Uma das mais belas canções de Donga, sem dúvida, é Canção dos Infelizes. Composta em parceria com Luiz Peixoto, foi gravada em 1930 por Zaíra Cavalcanti na Odeon e por Zaíra de Oliveira na Parlophon em 1931. Décadas depois, seria regravada por Elizeth Cardoso em 1974 no álbum A Música de Donga. Ainda receberia regravações de Cristina Buarque, em 1981, e Moacyr Luz, em 2001.
 
Os versos de Luiz Peixoto retratam a realidade de mulheres que amam demais e que sofrem com suas desilusões amorosas. Algumas, com sorte no amor, “sobem mais que uma estrela”, já outras, sem tanta sorte, “andam mais baixo que a lama”. Ao acolher em seus corações um amor, as mulheres experimentariam emoções extremas, dando milhões de prazeres ou cortando mais que uma navalha.
 
Zaíra Cavalcanti, em sua interpretação, recita a segunda parte, enquanto Zaíra de Oliveira e Elizeth Cardoso cantam todos os versos.
 
Também era conhecida como Canção das Infelizes, sendo gravada dessa forma por Zaíra de Oliveira.
 

Trago as três interpretações, todas belíssimas, feitas por artistas de grande talento e sensibilidade.



CANÇÃO DOS INFELIZES
 
São as mulheres raízes
Ou frondes muito elevadas
Uma são sempre felizes
Outras, as mais desprezadas
Há as que amam na vida
E as que só vivem amadas
Sofrem as mais esquecidas
Gozam as sempre lembradas
 
Eu quis alguém que não me quis bem
Agora, também não quero a ninguém
Dei meu amor
Deixaram perder
Eu morro de dor
Mas hei de esquecer
 
No coração das mulheres
Quando um amor se agasalha
Ou dá milhões de prazeres
Ou corta mais que a navalha
Uma infeliz quando ama
Não há amor igual ao dela
Ama mais baixo que a lama
Ou sobe mais que uma estrela.


 
 

ZAÍRA CAVALCANTI


ZAÍRA CAVALCANTI
Arquivo Nirez



A crítica de O Paiz, em 01 de junho de 1930, se referia à gravação de Zaíra Cavalcanti para Canção dos Infelizes: “Assim, na Canção dos infelizes, ella diz com muita expressão e sentimento os bonitos versos de Luiz Peixoto, musicados com notável propriedade e comprehensão por Ernesto dos Santos, o querido Donga, autor especializado em genero genuinamente popular, como é o samba e o chôro”.


 O Paiz, 01 de junho de 1930, p.08
http://memoria.bn.br/


 Já o Correio da Manhã, ao comentar o disco, que trazia do Lado A o samba de Gonçalves de Oliveira, Diga, e do lado B, Canção dos Infelizes, de Donga e Luiz Peixoto, assim escrevia: “Este disco profundamente sentimental, tem em ‘Diga’ samba canção gentil e apreciavel e na outra canção um momento de lyrismo que ha de provocar muita emoção. A artista interpreta com esmero, em boa demonstração de sua intelligencia e da sua sensibilidade”.


Correio da Manhã, 08 de junho de 1930, p.08
http://memoria.bn.br/


 

CANÇÃO DOS INFELIZES


Selo de Canção dos Infelizes
Arquivo Dijalma Candido



Canção de Ernesto dos Santos (Donga) e Luiz Peixoto
Gravada por Zaíra Cavaçcanti
Acompanhamento da Orquestra Pan American, sob a Direção de Simon Bountman
Disco Odeon 10.611-A, matriz 3547-1
Lançado em junho de 1930




ZAÍRA DE OLIVEIRA


ZAÍRA DE OLIVEIRA



Em uma apresentação de Zaíra de Oliveira, no qual ela cantava Canção das Infelizes, o jornal Diário Carioca fez a seguinte observação: “A voz clara de Zaíra de Oliveira, suave, mansa, embalante, vai se elevando, naquele andamento moderado de valsa lenta, a cantar as amarguras das infelizes que foram desprezadas... [...] As palavras lhe caem dos labios como se fossem lagrimas que lhe tombassem dos olhos. [...] Finda a canção. Não se ouvem palmas logo. Teria desagradado? Não. Cada um revivia, em silencio, uma saudade; sonhava com uma canção que já ouvira outrora. Sómente depois de passado o encantamento do sonho, despertaram para aplaudir a interprete e o autor da musica”.


Diário da Noite 29 de outubro de 1931, p.03
http://memoria.bn.br/

 

 

CANÇÃO DAS INFELIZES
Canção de Ernesto dos Santos (Donga) e Luiz Peixoto
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon 13.361-A, matriz 131246
Lançado em 1931




ELIZETH CARDOSO

 

ELIZETH CARDOSO
https://g1.globo.com/


Elizeth Cardoso, A Divina, gravou Canção dos Infelizes em 1974, para o álbum A Música de Donga, do selo Discos Marcus Pereira.











Agradecimento a Dijalma Candido, Luciano Hortêncio e ao Arquivo Nirez







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