terça-feira, 11 de junho de 2024

RELEMBRANDO O GRANDE BENJAMIN DE OLIVEIRA


BENJAMIN DE OLIVEIRA
Revista da Semana, 1908
http://memoria.bn.br/




Vamos relembrar o grande ator e palhaço BENJAMIN DE OLIVEIRA.

Benjamin Chaves nasceu na fazenda dos Guardas, na atual cidade de Pará de Minas (MG), em 11 de junho de 1870. Era filho de Leandra de Jesus e Malaquias Chaves. Sua mãe era uma escrava de “estimação”, e por isso seus filhos foram alforriados ao nascer, inclusive Benjamin. Ele não guardava boas lembranças do pai, que era capataz da fazenda e considerado um homem terrível, que batia na criança diariamente.


Tendo uma difícil infância, aos doze anos de idade Benjamin já havia exercido várias profissões, como carreiro, candeeiro, “madrinha de tropa”, guarda-freios e também vendendo bolos na porta dos circos que passavam por sua cidade. Esse foi o primeiro contato que ele teve com o mundo circense.

Ainda muito jovem, Benjamin tomou uma séria decisão: fugir com o circo Sotero, que estava visitando sua cidade. Com o circo, aprendeu a fazer acrobacias e a arte do trapézio. A rotina era árdua, com treinamentos e tarefas domésticas. Foi no Circo Sotero que Benjamin conheceu seu mestre, Severino de Oliveira, de quem, provavelmente, adotou o sobrenome Oliveira, tornando-se Benjamin de Oliveira.

Benjamin, mais uma vez, fugiu, abandonando o Circo Sotero (fontes dizem que era espancado lá). Ele mesmo diria anos mais tarde que seu “destino era fugir. Destino de negro...”. Juntou-se a um grupo de ciganos e, talvez, tenha trabalhado como escravo, pois em um momento descobriu através de uma moça do grupo que os ciganos queriam troca-lo por um cavalo. Fugiu novamente e foi abordado por um fazendeiro que o considerou um escravo fugido. Convenceu o homem dizendo que era livre e trabalhava em circos, provando o que dizia com uma apresentação de suas habilidades artísticas, sendo liberado.

Benjamin de Oliveira chegou a andar por várias vilas como mendigo. Chegando à cidade de Mococa, ele finalmente encontra um trabalho remunerado (primeira vez) em um circo do norte-americano Jayme Pedro Adayme.

Sua estreia como palhaço se deu de forma quase acidental, quando aos vinte anos de idade foi obrigado, por contrato, a substituir o palhaço da companhia que havia adoecido. Benjamin lembraria: “Eu tive que fazer o palhaço. E foi ali, na Várzea do Carmo, naquele barracão de zinco e tábua que eu pela primeira vez apareci vestido de palhaço...”. O resultado dessas primeiras apresentações não foi muito bom, pois ele recebeu vaias, assobios e ovadas.

Tempos depois, já firmado como artista de circo e com mais experencia, Benjamin de Oliveira chegou ao Rio de Janeiro, nos primeiros anos da República. Apresentando-se no Circo Caçamba, foi visto pelo então presidente da República, Floriano Peixoto que, surpreso com a apresentação de Benjamin de Oliveira, aliada a ideia do dono do circo (Manuel Gomes), transferiu o circo do subúrbio de Cascadura para a Praça da República, em frente ao Palácio do Itamaraty.

Trabalharia também no circo do francês Jean François, onde conheceu o também palhaço Afonso Spinelli.

Trabalhando em vários circos, como o Spinelli, Benjamin de Oliveira se consagrou como palhaço, sendo o primeiro palhaço negro a se profissionalizar. Depois, surgiria o cantor e compositor Eduardo das Neves.


Benjamin de Oliveira
O Degas, 1908
http://memoria.bn.br/

Porém, Benjamin de Oliveira também foi ator, diretor, produtor, músico, cantor e dançarino. No picadeiro do circo, interpretou célebre e principais papéis, como conde Danilo em A Viúva Alegre e Pery, em O Guarany.

Em A Viúva Alegre, ele atuaria como o conde Danilo, o personagem principal masculino. Ao lado do cantor Bahiano, ele pintava o rosto de branco para dar vida aos pálidos personagens da obra original. Benjamin chegou a trocar cartas com Franz Lehar, autor da opereta, discutindo o figurino da peça. A crítica se encantou com a montagem, não por ter sido a primeira vez que a obra era traduzida para o português, mas pelo fato de os atores saberem o texto decorado, sem precisar do ponto.


Revista da Semana, 1908
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Almanak dos Theatros, 1909
http://memoria.bn.br/

Atuaria também no cinema, interpretando Pery, em Os Guaranys, inspirado na obra de José de Alencar, O Guarany, que foi filmado no picadeiro do Circo Spinelli. Ele também seria o diretor e adaptador do filme e obra.


Benjamin de Oliveira como Pery, em Os Guaranys.
Livro Circo-Teatro, de Erminia Silva
Arquivo Marcelo Bonavides




Benjamin de Oliveira, como Pery, e Ignez Cruzet como Cecy.
Livro Circo-Teatro, de Erminia Silva
Arquivo Marcelo Bonavides




O grande dramaturgo Arthur Azevedo ficou em êxtase ao assistir Benjamin de Oliveira interpretar Othelo, de William Shakespeare.

No disco, Benjamin de Oliveira deixou algumas gravações, em 1910, fazendo dueto com o cantor Mário Pinheiro em uma delas.


Fon Fon, 1910.
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Fon Fon, 1913.
http://memoria.bn.br/


Em 1918, Benjamin de Oliveira e sua esposa, Victória de Oliveira, eram contratados pelo empresário João Alves, recebendo um conto de réis por mês.


Atriz Victória de Oliveira, esposa de Benjamin de Oliveira.
Livro Circo-Teatro, de Erminia Silva
Arquivo Marcelo Bonavides



Palcos e Telas, 1918.
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Voltaria a atuar no cinema em 1931, no filme Alma do Brasil, de Libero Luxardo, interpretando o Compadre. Já idoso, em 1948, ele atuaria no filme Inconfidência Mineira, dirigido por Carmen Santos, ao lado de Rodolfo Meyer, que vivia o personagem Tiradentes.


Benjamin de Oliveira e Rodolfo Meyer no filme Inconfidência Mineira,
dirigido por Carmen Santos, 1948.
Fon Fon, 1948.
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Ele faleceria em 30 de maio de 1954, aos 83 anos de idade, no Rio de Janeiro.


Correio da Manhã, 01 de junho de 1954, p.03.
http://memoria.bn.br/


No Carnaval de 2020, a Escola de Samba Salgueiro homenageou Benjamin de Oliveira, que foi tema do desfile.

Benjamin de Oliveira foi um importantíssimo nome de nossa cultura popular, atuando no circo-teatro e no cinema, abrindo espaço para outros artistas negros que provariam seu talento em uma época de grande preconceito, mostrando que poderiam e deveriam interpretar qualquer papel em qualquer espetáculo.

Benjamin de Oliveira fez isso, com um incomparável talento.




BENJAMIN DE OLIVEIRA
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/



Cândida Leme e Benjamin de Oliveira na "farsa-fantástico-dramática"
A Filha do Campo
, 1907.
Livro Circo-Teatro, de Erminia Silva
Arquivo Marcelo Bonavides



Livro Circo-Teatro, de Erminia Silva
Arquivo Marcelo Bonavides



BENJAMIN DE OLIVEIRA
O Degas, 1908.
http://memoria.bn.br/





GRAVAÇÕES DE BENJAMIN DE OLIVEIRA



CAIPIRA MINEIRO

Selo de Caipira Mineiro
https://discografiabrasileira.com.br/

Gravada por Benjamin de Oliveira
Acompanhamento de Orquestra
Disco Columbia Record 11.545, matriz 11545
Lançado em 1910





CANÇÃO MINEIRA

Selo de Canção Mineira
https://discografiabrasileira.com.br/


Desafio
Gravado por Benjamin de Oliveira e Mário Pinheiro
Disco Columbia Record 11.623
Lançado em 1910





TUTU

Selo de Tutu
https://discografiabrasileira.com.br/

Lundu
Gravado por Benjamin de Oliveira
Acompanhamento de Violão
Disco Columbia Record 11.685, matriz 11685-1-1
Lançado em 1910




CANÇÃO MINEIRA

Selo de Canção Mineira
https://discografiabrasileira.com.br/
  
Desafio
Gravado por Benjamin de Oliveira e Mário Pinheiro
Disco Columbia Record B-38, matriz 11623
Lançado em 1912







RECORTES SOBRE BENJAMIN DE OLIVEIRA



O Rio Nu, 1903.
http://memoria.bn.br/



Correio da Manhã, 18 de setembro de 1908, p.08.
http://memoria.bn.br/

O Paiz, 11 de junho de 1907, p.10.
http://memoria.bn.br/

O Século, 28 de novembro de 1907, p.03.
http://memoria.bn.br/


Correio da Manhã, 18 de setembro de 1908, p.08.
http://memoria.bn.br/

Revista da Semana, 1910.
http://memoria.bn.br/


Revista da Semana, 1910.
http://memoria.bn.br/

Correio da Manhã, 01 de fevereiro de 1910, p.08.
http://memoria.bn.br/



O Paiz, 11 de janeiro de 1910, p.16.
http://memoria.bn.br/


O Rio Nú, 1912.
http://memoria.bn.br/

Segurahaky, 1915.
http://memoria.bn.br/


A Rua, 02 de dezembro de 1916, p.04.
http://memoria.bn.br/


Jornal de Theatro & Sport, 1920.
http://memoria.bn.br/



















Agradecimento ao Arquivo Nirez













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