O PÉ DE ANJO
Há
104 anos estreava uma das mais famosas peças de nosso Teatro de Revista, intitulada O PÉ DE ANJO.
Confiram sua história.
Em
outubro de 1919, o compositor José Barbosa da Silva, o Sinhô, levava um jovem
cantor iniciante para gravar seu primeiro disco pela gravadora A Popular,
de propriedade de João Gonzaga, esposo da maestrina e compositora Chiquinha
Gonzaga. O jovem cantor se chamava Francisco Alves, que ficaria conhecido como
O Rei da Voz décadas depois.
Na
ocasião, Francisco Alves gravou algumas composições de Sinhô, como: Papagaio
Louro (Fala, Meu Louro), samba; Alivia esses Olhos, samba, e O
Pé de Anjo, marcha. Todas elas seriam sucesso no Carnaval de 1920, porém, O
Pé de Anjo se sobressaiu, sendo cantada e lembrada por muito tempo.
O
sucesso da marchinha levou a dupla de revistógrafos, Cardoso de Menezes e
Carlos Bittencourt, a escreverem a peça O Pé de Anjo. Em 17 de abril de
1920, segundo o jornal O Paiz, os ensaios estavam bem animados,
anunciando a estreia para o dia 28 do mesmo mês.
O Paiz, 17 de abril de 1920, p.04 http://memoria.bn.br/ |
O
teatro onde era preparada a peça era o São José, que então apresentava a “hilariante”
burleta em três atos, O Cabo Ophrasio, estrelada por Otília Amorim e
Alfredo Silva. No cartaz da peça, exibido nos jornais, em baixo, se lia que a
próxima atração seria O Pé de Anjo.
No
dia 28 de abril de 1920, uma quarta-feira, a revista O Pé de Anjo estreava no
Theatro São José, da Empresa Paschoal Segreto. Era assinada, como já dissemos,
por Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt. O espetáculo apresentava dois
atos, sete quadros e duas apoteoses. Era apresentado em três sessões: ás 19:00,
20:45 e às 22:30 (na grafia da época: “Ás 7, 8 ¾ e 10 ½). O diretor da peça
(ensaiador) era Isidoro Nunes. A música era composta por vários nomes como
Sinhô (José Barbosa da Silva), Eduardo Souto, Júlio Cristóbal, Bernadino Vivas
e Bento Mossurunga, esses dois últimos também maestros da peça. Os cenários
eram assinados por Angelo Lazary, Jaime Silva e Rômulo Lombardi.
O Paiz, 28 de abril de 1920, p.14 http://memoria.bn.br/ |
O
elenco trazia grandes nomes do Teatro de Revista: Alfredo Silva, Otília Amorim,
Júlia Martins, João de Deus, J. Figueredo (que interpretava O Pé de Anjo),
Cecília Porto, Antonieta Olga, Henriqueta Brieba, Cândida Leal, Pedro Dias,
Raul Gonçalves, Luiza Caldas, Maria Ruiz, Dolores Lopes, Isaura Pereira e Rita
Ribeiro.
O
cartaz destacava a estreia da atriz Antonieta Olga, que estava afastada do
palco há alguns anos.
Os
quadros da peça eram comentados antes de sua estreia, destacando-se o quadro do
vagão dormitório de um trem (wagon leito). Um dos pontos altos da peça
era o foxtrote dançado por Otília Amorim e Pedro Dias, vestidos de cowboys,
bem ao estilo de Tom Mix, astro americano da época. Esse quadro seria
relembrado por décadas.
O Malho, 1940 http://memoria.bn.br/ |
A
crítica à peça já previa o estrondoso sucesso que viria nas semanas seguintes,
já prevendo o centenário de apresentações, segundo O Paiz, de 29 de abril de
1920. Seguia dizendo que o espetáculo, segundo a gíria dos frequentadores do
Theatro São José, era um “succo”. As três sessões lotadas, com o público
pedindo bis em várias ocasiões, havia marcado a estreia da peça. Houve
elogio ao quadro dos vagões leitos, uma sátira aos trens noturnos mineiros,
também se elogiou o foxtrote de Otília Amorim e Pedro Dias, com o inconveniente
do revólver de Otília ter falhado em cena.
O Paiz, 29 de abril de 1920, p.05 http://memoria.bn.br/ |
Correio da Manhã, 29 de abril de 1920, p.06 http://memoria.bn.br/ |
Gazeta de Notícias, 29 de abril de 1920, p.05 http://memoria.bn.br/ |
Jornal de Theatro & Sport, 1920 http://memoria.bn.br/ |
Palcos e Telas, 1920 http://memoria.bn.br/ |
Os
cartazes da peça apresentavam, a cada dia, o número de pessoas que assistiram à
peça, bem como a crítica de outros jornais famosos ao espetáculo. Era uma bem
sucedida publicidade em torno da revista em cartaz no Theatro São José. O
número de pessoas que assistiam O Pé de Anjo aumentava cada vez mais pois, além
das três sessões, ainda era exibido um espetáculo na matinê. O centenário das
apresentações se aproximava e foi providenciada uma festa para se comemorar,
bem como novas atrações para a peça.
O Paiz, 01 de maio de 1920, p.14 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 29 de abril de 1920, p.08 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 11 de maio de 1920, p.12 http://memoria.bn.br/ |
O
Pé de Anjo
fez tanto sucesso que foi alcançando 150, 200, 250 até atingir a marca de 300
apresentações seguidas. No dia que completou 300 apresentações, 26 de julho de
1920, uma segunda-feira, a peça disse adeus ao público, encerrando sua
triunfante carreira. Porém, segundo Salvyano Cavalcanti de Paiva, a revista
retornou em agosto e setembro, e em outubro, com o mesmo elenco e no mesmo
teatro, reunindo ao todo quase 500 representações. Depois, com outro elenco
(destacando-se Laís Areda, Antonieta Olga e Mesquitinha) e no Teatro Lírico,
chegaria a 1921, com muito sucesso.
O Paiz, 01 de junho de 1920, p.06 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 01 de junho de 1920, p.07 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 02 de junho de 1920, p.08 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 26 de julho de 1920, p.06 http://memoria.bn.br/ |
Enquanto
esteve em cartaz na primeira temporada, O Pé de Anjo apresentou quadros
novos. Vale lembrar que os artistas não tinham folga. Enquanto apresentavam
centenas de vezes a mesma peça, já ensaiavam para outras que iriam substituir a
que estava em cartaz.
Ao
longo das apresentações houve algumas festas em benefício a atores como Cecília
Porto, Franklin de Almeida e Alfredo Silva. E novas atrações eram exibidas para
o público, como novos quadros e até a apresentação dos Oito Batutas em uma das
festas.
O Paiz, 22 de junho de 1920, p.04 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 30 de junho de 1920, p.10 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 23 de julho de 1920, p.04 http://memoria.bn.br/ |
O
Pé de Anjo foi um marco na história do Teatro de Revista, com autores, elenco,
músicos e um quadro de colaboradores competentes e aclamados, surgiu em uma
época em que as revistas estavam mornas, precisando ser feita uma remodelação
na forma de se fazer o Teatro de Revista no Brasil. Com grande acerto, Cardoso
de Menezes e Carlos Bittencourt emplacaram um grande sucesso, cujos ecos ainda
se fazem ouvir hoje aos que pesquisam e amam nosso teatro musicado.
Autores de O Pé de Anjo
Elenco de O Pé de Anjo
OTÍLIA AMORIM
Arquivo Marcelo Bonavides |
JÚLIA MARTINS
Arquivo Marcelo Bonavides |
HENRIQUETA BRIEBA
http://memoria.bn.br/ |
CECÍLIA PORTO
http://memoria.bn.br/ |
ANTONIETA OLGA
Arquivo Marcelo Bonavides |
CÂNDIDA LEAL
http://memoria.bn.br/ |
LUIZA CALDAS
http://memoria.bn.br/ |
DOLORES LOPES
http://memoria.bn.br/ |
MARIA RUIZ
http://memoria.bn.br/ |
ALFREDO SILVA
http://memoria.bn.br/ |
JOÃO DE DEUS
http://memoria.bn.br/ |
PEDRO DIAS
http://memoria.bn.br/ |
Fotos e Cartazes
ALFREDO SILVA E HENRIQUETA BRIEBA O Pé de Anjo, 1920 Arquivo Marcelo Bonavides |
PEDRO DIAS E OTÍLIA AMORIM O Pé de Anjo, 1920 http://memoria.bn.br/ |
JORNAL DE THEATRO & SPORT Cenas de O Pé de Anjo, 1920 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 25 de junho de 1920, p.10 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 01 de julho de 1920, p.07 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 13 de julho de 1920, p.05 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 25 de julho de 1920, p.10 http://memoria.bn.br/ |
Gravações de O Pé de Anjo
O PÉ DE ANJO
Eu tenho uma
tesourinha
Que corta ouro e
marfim
Guardo também para
cortar
As línguas que falam
de mim
Oh, Pé de Anjo
Oh, Pé de Anjo
És rezador, és rezador
Tens um pé tão grande
Que és capaz de pisar
Nosso Senhor
Nosso Senhor!
A mulher e a galinha
São dois bichos
interesseiros
A galinha pelo milho
E a mulher pelo
dinheiro.
O PÉ DE ANJO
Selo de O Pé de Anjo Arquivo Nirez |
Marcha Carnavalesca de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada por Francisco Alves
Acompanhamento do Grupo dos Africanos
Disco Popular Record 1.008, matriz 1008-2
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
O PÉ DE ANJO
Selo de O Pé de Anjo Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Marcha Carnavalesca
de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada pelo Bloco do
Fala Meu Louro
Disco Popular Record
1.000, matriz 1000
Gravado em outubro de
1919 e lançado em 1920
O PÉ DE ANJO
Marcha de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de Coro
Disco Odeon Record 122. 453
Lançado em 1923
O Pé de Anjo, com Blecaute
O PÉ DE ANJO
Baião de Sinhô
(José Barbosa da Silva)
Gravado por Orlando
Silveira (Acordeon)
Acompanhamento de
Regional
Disco Copacabana 098-A,
matriz C-098-A
Lançado em agosto de
1952
O PÉ DE ANJO
Baião de Sinhô
(José Barbosa da Silva)
Gravado por Orlando
Silveira (Acordeon)
Acompanhamento de
Regional
Disco Copacabana 5.105-B,
matriz M-463
Lançado em maio/junho
de 1953
O PÉ DE ANJO
Marcha de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada pela Banda RGE, sob a Direção de
Henrique Simnetti
Disco RGE 10.050-A, matriz RGO-190
Lançado em julho de 1957
Agradecimento a Gilberto Inácio Gonçalves e ao Arquivo Nirez
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