PEPA DELGADO Arquivo Marcelo Bonavides |
Há 75 anos falecia a
atriz e cantora PEPA DELGADO.
Pepa
Delgado de Moraes nasceu em Piracicaba (SP), em 21 de julho de 1886.
Nas
primeiras décadas do século XX, ela seria uma das mais famosas atrizes-cantoras
de nosso teatro, atuando em revistas, operetas, dramas, comédias e burletas.
PEPA DELGADO Arquivo Marcelo Bonavides |
Pepa Delgado deu uma
grande contribuição para nossa cultura através de seu trabalho. Ela faleceria
em 11 de março de 1945, deixando esposo e um filho.
Há quase três décadas
venho pesquisando a vida e obra de Pepa Delgado. Esse trabalho de pesquisa
resultou em uma monografia (Pepa Delgado – A Trajetória de uma atriz-cantora:
1886 – 1945) na minha conclusão no curso de Licenciatura em História, pela UECE
(Universidade Estadual do Ceará). Nessa pesquisa, tive a ótima orientação do
Prof. Dr. Francisco Damasceno. Dessa forma, podemos trazer para a Academia a
vida e obra de Pepa Delgado.
Em homenagem à queria
atriz-cantora, trago uma parte de minha monografia onde falo sobre a
consagração de Pepa Delgado nos palcos. Em breve, trarei o restante do capítulo.
“3.2 CONSAGRAÇÃO NOS
PALCOS
Com mais de uma
década de carreira artística, com experiência em discos, cinema e,
principalmente, nos palcos, Pepa Delgado era uma atriz-cantora completa,
interpretando com segurança, estudando bem seus papéis e possuidora de uma bela
voz. A imprensa sempre destacava suas qualidades aliada a uma graça natural,
que podemos associar a um possível carisma perante a plateia. Seguindo o
conselho de profissionais mais experientes, como o dramaturgo Arthur Azevedo,
ela procurou se instruir mais nas lides teatrais, aprendendo as nuances da
interpretação e os diferentes tipos de gêneros que o teatro abrigava. Em
especial, seria no teatro musicado, através da revista ou burleta, que ela
atingiria a consagração como artista, tornando-se uma atriz-cantora de grande
popularidade e estrela da empresa do Theatro São José.
3.2.1
"Rentrée": Manobras do Amor e o Theatro São José
O Theatro São José
havia sido o antigo teatro Príncipe Imperial, depois chamado de Variedades e
até de Moulin Rouge. Situava-se na Praça Tiradentes, nº 03, em frente ao
Theatro São Pedro de Alcântara (atual Teatro João Caetano). No começo do século
XX, era propriedade do empresário Paschoal Segreto. Em 1906, o Almanaque d´O
Theatro informava que a iluminação do São José era feita por 101 bicos de gás
incandescente, também podendo ser feita por eletricidade, com cinco lâmpadas em
arco (duas na plateia, uma no saguão e duas na frente do teatro). O almanaque
ainda destacava a boa localização do teatro, com bastante frequência de pessoas
à noite, e próximo à companhias de bondes, o que facilitava a locomoção das
pessoas. (Almanaque d´O Theatro, 1906, p.23-25).
O italiano Paschoal
Segreto, desde 1883 no Brasil, era um empresário de grande visão para os
negócios de entretenimento, sendo dono ou arrendando algumas das melhores casas
de espetáculos da Capital Federal no começo do século XX49. Vendo que o Teatro
de Revista era um ramo que rendia muitos lucros, o empresário procurou investir
no gênero, patrocinando vários espetáculos, tornando-se uma figura popular, a
ponto de ser chamado de o “papa do teatro brasileiro” pelo ator Procópio
Ferreira, segundo Martins (2014, p.92), que completa:
[...] Uma das iniciativas
que mais contribuiu para tamanha popularidade foi a fundação da Companhia de
Operetas, Mágicas e Revistas do Cine-teatro São José, em 1911. A casa vivia
cheia porque o empresário adotava a fórmula do teatro por sessões, com duas a
três apresentações por dia do mesmo espetáculo a preços populares. Dessa forma,
Paschoal conseguiu popularizar o teatro levando-o às camadas mais baixas e
médias da população.
Seria nesse espaço
que Pepa Delgado brilharia por alguns anos, contribuindo com seu talento e
carisma para o sucesso das peças do Theatro São José.
Seria na segunda
metade de 1911 que Pepa Delgado era contratada pela empresa do Theatro São
José, estreando como uma das protagonistas da opereta de costumes, Manobras
do Amor, de Osório Duque Estrada (também autor da letra do Hino Nacional
Brasileiro), com música de Chiquinha Gonzaga. Segundo O Paiz, “[...] manobrando
com o amor estréa a graciosa divette Pepa Delgado, para quem foi escolhido um
dos principais papeis” (O Paiz, 14 de outubro de 1911, p.4). Estreada em
18 de outubro de 1911, Manobras do Amor (FIG.17) era
apresentada três vezes ao dia, em sessões às 19h, às 20h e 45m e às 22h e 30m.
Cabia à Pepa Delgado
desempenhar o papel de Ernestina, sendo saudada pela imprensa no dia da
estreia, que relembrava sucessos da atriz:
Pepa Delgado. Reapparece
hoje, no theatro S. José, a intelligente actirz Pepa Delgado, uma das figuras
de destaque do theatro nacional. Na platéa carioca o seu nome é bastante
conhecido, desde o tempo em que foi levada à scena a revista Cá e Lá,
onde ella se destacou do elenco pela graça com que cantava os tangos
brazileiros. Pepa Delgado goza de geral sympathia por parte dos espectadores,
que jamais lhe regateiam applausos. Sciente do valor da artista, ha mezes o
emprezario Loureiro contratou-a para a companhia da rua dos Condes, em
substituição a uma sua collega que se retirou do theatro, fazendo então Pepa
Delgado uma excursão pelo Estado do Rio Grande do Sul, onde agradou
immensamente. De regresso a esta capital, a graciosa artista faz hoje a
sua reatrée no theatro S. José, creando o papel de Ernestina,
na opereta Manobras do amor. (O Paiz, 18 de outubro de 1911,
p.4, grifos do autor).
Afastada da cena
carioca, devido às excursões que vinha fazendo desde 1909, Pepa Delgado
reaparecia em definitivo nos palcos do Rio de Janeiro, agora contratada por uma
grande empresa local. A imprensa a saudava destacando suas qualidades e
inteligência, o que nos faz crer que ela vinha se dedicando com afinco à sua
carreira e ao estudo de seus personagens.
Figura 17 – Cartaz de Manobras do Amor.
Fonte:
O Paiz, 18 de outubro de 1911, p.16.
Hemeroteca Digital Brasileira da
Biblioteca Nacional.
Disponível em
|
É interessante
observarmos no cartaz a alusão de “grandiosos effeitos” de luz elétrica e a
ênfase de que o espetáculo era da mais rigorosa moralidade50. As novas
tecnologias estavam a serviço do teatro musicado que, nem por isso, deixava de
ser um espetáculo para as famílias. Também nos chama atenção os nomes dos
protagonistas, Alfredo Silva e Pepa Delgado, estarem bem destacados em letras
garrafais. Periódicos como o Jornal do Brasil, elogiavam o fato de ser “uma
peça inteirinha, genuinamente brasileira, lettra e musica”. E previa que “[...]
não será de admirar que a esta succedam outras peças tambem genuinamente
nacionaes” (Jornal do Brasil, 18 de outubro de 1911, p.11).
A crítica de O Paiz
não foi favorável a Osório Duque Estrada como dramaturgo iniciante, afirmando
que o primeiro ato havia decorrido sem maiores problemas, mas o segundo ator
havia sido infeliz, com muitos monólogos e sem que as pessoas o entendessem
bem. Já Chiquinha Gonzaga foi muito elogiada por sua originalidade,
destacando-se a desgarrada apresentada no final da peça. Os protagonistas, Pepa
Delgado e Alfredo Silva, destacaram-se “como bons artistas que são. A primeira
fez a sua Rentrée no S. José, dando uma feição especial ao
papel de Ernestina, cantando com graça e representando com donaire” (O Paiz,
20, de outubro de 1911, p.4, grifo do autor). Apesar do texto, a opereta foi um
sucesso segundo o mesmo jornal, onde sobressaíram:
[...] o mimoso fado
portuguez, maviosamente cantado pela distinca actriz Pepa Delgado, em duo com
Laura Godinho, [...] bisado com enthusiasmo, e a imponente Desgarrada
portugueza, cantada por todos os artistas e corpo de coros, [...] trizada
com retumbantes e repetidos chamados á scena dos principais artistas e da
maestrina Francisca Gonzaga [...]. Alfredo Silva, Pepa Delgado, Laura Godinho e
Franklin de Almeida foram os reis da noite (O Paiz, 20, de outubro de
1911, p.4, grifos do autor).
Ao que parece, a
parte musical contribuiu para o êxito da peça. O trabalho do elenco era
intenso, fora as três apresentações diárias no domingo, dia 22 de outubro de
1911, a companhia apresentou cinco vezes a opereta e, segundo O Paiz, do dia 24
de outubro do mesmo ano, o movimento foi assombroso, “[...] foram cinco as
sessões realizadas, e outras tantas as enchentes que o elegante theatro
abiscoitou” (p.3).
Com mais de cinquenta
apresentações, Manobras do Amor ainda seria remontada quase um
ano depois (FIG. 18).
Figura 18 – Fotografia da atriz Pepa Delgado.
Através do site do
Instituto Moreira Salles tivemos acesso ao arquivo da compositora Chiquinha
Gonzaga e à partitura de Manobras do Amor, cuja letra do fado
cantado por Ernestina (Pepa Delgado) e Rosália (Laura Godinho) encontra-se
registrada em alguns versos e cifras: “Teus olhos, contas escuras. São duas Ave
Marias. Do rosário de amarguras, qu´eu rezo todos os dias”.
Saindo, com sucesso,
de uma peça saudada pela imprensa como totalmente brasileira, Pepa Delgado iria
estrear meses depois uma revista ainda mais nacional, com temas carnavalescos,
inaugurando um novo estilo dentro do Teatro de Revista: a Revista Carnavalesca”.
Jornal de Theatro & Sport, 1915 http://memoria.bn.br/ |
GRAVAÇÕES DE PEPA DELGADO
O ABACATE
Selo de O Abacate Arquivo Marcelo Bonavides |
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga, Tito
Martins e Gouveia.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.059, matriz R-379
Lançado em 1904
Da Revista “Cá e Lá”
UM SAMBA NA PENHA
Selo de Um Samba na Penha Arquivo Marcelo Bonavides |
Maxixe de Assis Pacheco, Álvaro Peres e
Álvaro Colás.
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Pinheiro
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.063, matriz R-489
Lançado em 1904
Da Revista “O Avança”
A RECOMENDAÇÃO
Selo de A Recomendação Arquivo Marcelo Bonavides |
Cançoneta de Assis Pacheco.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.064
Lançado em 1904
Da Revista “O Avança”
O EIXO DA AVENIDA
Selo de O Eixo da Avenida Arquivo Marcelo Bonavides |
Valsa de Assis Pacheco.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.065
Lançado em 1904
Da Revista “O Avança”
CAFÉ
IDEAL
Selo de Café Ideal https://discografiabrasileira.com.br/ |
Maxixe de Chiquinha Gonzaga e letra de
Tito Martins,
com o refrão da melodia de “Oh, sole mio”.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.074
Lançado em 1904
De Revista “Cá e Lá”
MARIXE
ARISTOCRÁTICO
Selo de Maxixe Aristocrático https://discografiabrasileira.com.br/ |
Maxixe de José Nunes
Gravado por Pepa Delgado e Alfredo
Silva
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.224, matriz
RX-161
Lançado em 1905
Da Revista “Cá e Lá”
LARANJAS
DA SABINA
Selo de Laranjas da Sabina https://discografiabrasileira.com.br/ |
Lundu de Arthur Azevedo
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.350
Lançado em 1906
Da Revista “A República”
VEM
CÁ, MULATA
Selo de Vem Cá, Mulata https://discografiabrasileira.com.br/ |
Maxixe de Arquimedes de Oliveira e
Bastos Tigre
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Pinheiro
Acompanhado de piano
Disco Odeon Record 40.407
Lançado em 1906
Da Revista “O Maxixe”
O
QUINDIM DA MODA
Selo de O Quindim da Moda Arquivo Nirez |
Cançoneta sobre a melodia de O Angú do
Barão, de Ernesto de Souza.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon 40.487
Lançado em 1906.
A
BANDOLEIRA
Selo de A Bandoleira https://discografiabrasileira.com.br/ |
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga
Sobre a melodia “Machuca”, também de
Chiquinha Gonzaga
Gravada por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.531
Lançado em 1906
O VENDEIRO E A MULATA
Selo de O Vendeiro e a Mulata Arquivo Marcelo Bonavides |
Dueto
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.599
Lançado em 1906
Agradecimento à D. Tânia Delgado e ao Arquivo Nirez
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