Há 39 anos falecia a grande atriz-cantora ARACY
CÔRTES.
Zilda
de Carvalho Espíndola nasceu no Rio de Janeiro em 31 de março de 1904, na rua
do Matoso, perto da Praça da Bandeira. Era filha de Argemira Carvalho Espíndola
e Carlos Espíndola.
Ela diria tempos depois: “Sou uma mestiça terrível: filha
de brasileiro com espanhol e neta de paraguaio”. Carlos era filho de espanhol
com paraguaia e Argemira era filha de português com brasileira. O casal teve
dois filhos antes de Zilda: Silvino e Dalva.
Ainda
menina, ela iria com a família morar no Catumbi, na rua Magalhães, onde seria
vizinha da família Rocha Viana, que reunia os amigos para rodas de choro e
muita música brasileira. Um dos filhos dessa família seria Pixinguinha, amigo
de infância de Zilda e seus irmãos. Nas rodas de música, comandada por Alfredo,
pai de Pixinguinha, os filhos tomavam parte tocando instrumentos, inclusive o
amigo Carlos Espíndola, que também era flautista, admirador de Joaquim Callado. No meio
da roda, duas meninas acompanhavam o ritmo, dançando: Dalva e Zilda.
Segundo
Roberto Ruiz, biógrafo de Aracy Côrtes, em criança, seu pai exigiu que ela
estudasse: o ginasial, datilografia, francês e inglês. Carlos aprendera a tocar
flauta com o mestre João Salgado, ensinando à filha uma rica musicalidade. Um
dia, ela chegou com a novidade: havia sido convidada para atuar no grupo amador
Filhos de Talma.
Nessa
época, os grupos amadores tinham grande importância, revelando vários talentos.
Os Filhos de Talma estavam entre os mais prestigiados, com um pequeno palco na
rua do Propósito, na Saúde. A jovem Zilda ficaria pouco tempo neste grupo. Foi
depois para o Circo Spinelli, onde brilhava o célebre Benjamin de Oliveira.
Aos
dezesseis anos de idade, em 1920, ela estreava no circo. Porém, mesmo dizendo
ter bastante experiencia, ao encarar uma grande plateia, a jovem se assustou e
ficou paralisada, com a orquestra esperando-a começar a cantar, então...
desmaiou. Recebendo uma nova chance, não decepcionou, cantou como sabia, o
público gostou e pediu que ela repetisse.
Zilda
gostava de ser chamada artisticamente como Zilda mesmo. E assim ela
passou a participar da Companhia Arruda, dirigida por Genésio Arruda,
especializado em tipos caipiras. Porém, seu amigo de infância Otávio Viana, o
China, irmão de Pixinguinha (e segundo Roberto Ruiz, compadre de Argemira, mãe
de Zilda), pensava o contrário: não era um nome muito artístico. Ele e o
crítico teatral Mário Magalhães conversavam sobre isso, na redação do jornal A
Noite, pois China e Pixinguinha agora tinham um novo grupo, os Oito Batutas,
e precisavam de uma cantora para acompanha-los nas apresentações. China havia
sugerido Zilda, mas ambos estavam de acordo com a substituição de seu nome
artístico.
Depois
de pensarem muito, decidiram que um nome bem brasileiro seria Aracy, mas
Aracy de quê? Após muito discutirem e não encontrarem solução (a essa altura,
até o secretário do jornal, Silva Ramos, participava da conversa), entrou da
rua, muito agitado com uma notícia urgente, um repórter policial. Na mesma
hora, Mário Magalhães pulou da cadeira e gritou:
-
Côrtes, meu velho! Você veio na hora certa!
O
repórter Côrtes não entendeu nada. Silva Ramos soltou uma gargalhada e, segundo
ainda Roberto Ruiz, Mário Magalhães virou-se para China, dizendo:
-
Está aí, seu China! Está aí o novo nome da moça!
Assim,
Zilda ia desaparecendo do cenário artístico, surgindo Aracy Côrtes.
Porém,
não pensem que foi uma mudança fácil. De início Zilda não aceitou o novo nome
e, para completar, havia uma Aracy Côrtes, professora conhecida no cenário da
educação do Rio de Janeiro na época. A professora Aracy Côrtes também ficou
irritada, achando que queriam desmoraliza-la.
Grupo de alunos da professora Aracy Côrtes. O Malho 1912. http://memoria.bn.br |
Mas, aos poucos Zilda foi
aceitando. Não sem antes fazer uma experiência e se apresentar com os Oito
Batutas como Zilda Côrtes.
Seria
como Zilda Côrtes que ela faria sua estreia no teatro, em 15 de outubro de
1921 na burleta Na casa da Chica do Velho, onde interpretava Chica.
O resto do elenco era interpretado pelos integrantes dos Oito Batutas e
outros artistas: Mané Piqueno (Galleguinho), Octavio Vianna (Bolacha), José de
Lima (Juca Ficha), Ernesto dos Santos (Porfirio Grosso), João Thomaz (Pinga-Fogo),
Alfredo Santos (Pé Leve), Nelson Alves (Cambucá), Sizenando de Oliveira (Pendenga),
José Monteiro (Boa Vida).
O
teatro era o Polytheama Meyer, onde o grupo fazia apresentações. Em 22 de
outubro, apresentavam a mesma peça no Theatro Eden.
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas. A Noite, 10 de outubro de 1921, p.5. http://memoria.bn.br |
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas em Na casa da Chica do Velho. A Noite, 15 de outubro de 1921, p.5. http://memoria.bn.br |
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas em Na casa da Chica do Velho. O Fluminense, 22 de outubro de 1921, p2. http://memoria.bn.br |
Com
seu novo nome artístico Aracy Côrtes, Zilda estrearia no Teatro de
Revista em 31 de dezembro de 1921, um sábado, na revista Nós, Pelas Costas. Levada
à cena no Theatro Recreio, a peça era da autoria de J. Praxedes, com música do
maestro Pedro de Sá Pereira. Os jornais anunciavam que o empresário e ator João
de Deus havia contratado para estrearem no espetáculo os artistas A. Vidal e
Aracy Côrtes. Ela interpretaria os personagens: Guitarra Falsa, Rosa
Branca e Vinho do Porto. Nessa peça também estava a atriz Célia
Zenatti que, em breve, seria esposa do (então) iniciante cantor e ator Francisco
Alves.
Correio da Manhã, 28 de dezembro de 1921, p. 05 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 29 de dezembro de 1921, p. 07 http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 30 de dezembro de 1921, p. 12. http://memoria.bn.br/ |
O Paiz, 31 de dezembro de 1921, p. 05. http://memoria.bn.br/ |
Correio da Manhã, 31 de dezembro de 1921 http://memoria.bn.br/ |
A
próxima revista em que Aracy Côrtes tomaria parte estreou em 19 de janeiro de
1922 e se chamava Ver, Ouvir e Callar... Com o passar dos anos, ela ia
se aprimorando, ganhando mais visibilidade e fazendo sucesso junto ao público e
à crítica teatral. Nos anos 20, sua irmã Dalva Espíndola também seria atriz, atuando na famosa Companhia Negra de Revistas, onde lançou o famoso maxixe de Sebastião Cirino, Cristo Nasceu na Bahia, em 1926.
Aracy Côrtes, anos 20. Livro Aracy Côrtes - Linda Flor, de Roberto Ruiz (Funarte) Arquivo Marcelo Bonavides |
Illustração Moderna, 1924 http://memoria.bn.br/ |
Illustração Moderna, 1924 http://memoria.bn.br/ |
Illustração Moderna, 1924 http://memoria.bn.br/ |
Em 1925, Aracy Côrtes fez suas primeiras gravações em discos mecânicos pela Casa Edison, em selo Odeon Record. Ela registrou A Casinha (da Colina), de Pedro de Sá Pereira; Serenata, de E. Toselli e Petropolitana, canção de Adalberto de Carvalho, que a famosa atriz-cantora Pepa Delgado havia lançado 10 anos antes. Voltaria a gravar, agora no processo elétrico, em 1928, lançado sucessos como Chora Violão, de Josué de Barros; Baianinha, de De Chocolat e Oscar Mota; Jura!..., de Sinhô (José Barbosa da Silva) e Yayá (Linda Flor), de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto, todas em selo Parlophon. Gravaria ainda na Brunswick e na Odeon até, aproximadamente, 1934, voltando a gravar nos anos 50 e 60.
Da
segunda metade da década de 1920 em diante, Aracy Côrtes dominaria a cena do
Teatro de Revista na Praça Tiradentes, sendo considerada uma de suas mais
queridas Rainhas. Lançou diversos compositores como Noel Rosa, Ary Barroso,
Assis Valente, entre outros, brilhando até o começo da década de 1940, quando
se afastou dos palcos por alguns anos.
Retornaria
em algumas aparições na década de 1950 e, com muito sucesso, em 1965 no
espetáculo Rosa de Ouro, ao lado de Elton Medeiros e Paulinho da Viola,
onde estreava Clementina de Jesus.
Ao
longo dos próximos anos, Aracy Côrtes foi sendo esquecida pela grande mídia,
fazendo poucos shows e enfrentando dificuldades financeiras, sendo amparada por
amigos fiéis e dedicados como J. Maia e a cantora Marília Barbosa, que Aracy declarou
sua sucessora e herdeira artística. As duas cantariam juntas em um memorável
show na Funarte em 1984, celebrando os 80 anos de vida de Aracy.
Aracy
Côrtes faleceu no Rio de Janeiro em 08 de janeiro de 1985, aos 80 anos de
idade.
MÚSICAS
DISCOS ODEON RECORD
(CASA EDISON)
A CASINHA
Canção de Luís Peixoto e Pedro de Sá Pereira
Acompanhamento do Jazz Band Sul Americano Romeu Silva
Disco Odeon Record 122.884
Lançado em 1925
PETROPOLITANA
Canção de Adalberto de Carvalho
Acompanhamento do Jazz Band Sul Americano Romeu Silva
Disco Odeon Record 122.885
Lançado em 1925
JURA...!
Samba de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Acompanhamento de Simão Nacional Orquestra
Disco Parlophon 12.868-A, matriz 2071
Lançado em novembro de 1928
CHORA VIOLÃO
Canção Sertaneja de Josué de Barros
Acompanhamento de piano e violão
Disco Parlophon 12.868-B, matriz 2083
Lançado em 1928
YAYÁ
Canção Brasileira de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto
Acompanhamento da Orquestra Parlophon
Disco Parlophon 12.926-A, matriz 2366
Lançado em março de 1929
BAIANINHA
Samba de De Chocolat e Oscar Mota
Acompanhamento da Orquestra Parlophon
Disco Parlophon 12.926-B, matriz 2365
Lançado em março de 1929
A POLÍCIA JÁ FOI LÁ EM CASA
Samba Canção de Olegário Mariano e Júlio Cristóbal
Acompanhamento da Orquestra Pan American
Disco Odeon 10.426-A, matriz 2656
Lançado em julho de 1929
QUEM QUISER VER
Samba de Eduardo Souto
Acompanhamento da Orquestra Pan American
Disco Odeon 10.426-B, matriz 2657
Lançado em julho de 1929
TU QUÉ TOMÁ MEU HOME
Samba de Ary Barroso e Olegário Mariano
Acompanhamento da Orquestra Pan Amercian
Disco Odeon 10.446-A, matriz 2764
Lançado em agosto de 1929
ZOMBA
Samba de Francisco Alves
Acompanhamento da Orquestra Pan Amercian
Disco Odeon 10.446-B, matriz 2765
Lançado em agosto de 1929
QUINDIS DE YAYÁ
Samba de Pedro de Sá Pereira e Cardoso Menezes Bittencourt
Acompanhamento da Orquestra Pan American
Disco Odeon 10.457-A, matriz 2815
Lançado em agosto de 1929
VAMOS JUNTAR OS TRAPINHOS
Canção Dolente de Pedro de Sá Pereira
Acompanhamento da Orquestra Pan American
Disco Odeon 10.457-B, matriz 2816
Lançado em agosto de 1929
O AMOR VEM QUANDO A GENTE NÃO ESPERA (SAMBA DA PENHA)
Samba de Ary Barroso, Cardoso de Menezes e Bittencourt
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 10.469-A, matriz 2.866
Lançado em outubro de 1929
POETA DO SERTÃO
Cateretê de Eduardo Souto e Arlindo Leal
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 10.469-B, matriz 2.865
Lançado em outubro de 1929
SIM, MAS DESENCOSTA
Selo de Sim, Mas Desencosta Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba Canção de Cândido das Neves (Índio)
Gravado por Aracy Côrtes
Disco Odeon 10.664-A, matriz 3721
Lançado em agosto de 1930
NO ALTO DA SERRA
Selo de No Alto da Serra Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de José Ferreira Lixa
Gravado por Aracy Côrtes
Disco Odeon 10.664-B, matriz 3722
Lançado em agosto de 1930
DISCOS BRUNSWICK
SORRIS
Selo de Sorrir Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba Canção de Jota Soares
Gravado por Aracy Côrtes
Disco Brunswick 10.148-A, matriz 596
Lançado em 1931
DENTINHO DE OURO
Selo de Dentinho de Ouro Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba Canção de Henrique Vogeler e Horácio de Campos
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Brunswick
Disco Brunswick 10.148-B, matriz 595
Lançado em 1931
DISCOS COLUMBIA
À LA ARACY
Selo de À La Aracy Arquivo Marcelo Bonavides |
Samba de Júlio Cristobal
Gravado por Aracy Cõrtes
Acompanhamento de Seu Grupo
Disco Columbia 22.024-B, matriz 381016
Lançado em maio de 1931
REMINISCÊNCIAS
Selo de Reminiscências Arquivo Marcelo Bonavides |
Samba de Jota Soares e Carlos Medina
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Orquestra
Disco Columbia 22.024-B, matriz 381011
Lançado em maio de 1931
TEU DESPREZO
Selo de Teu Desprezo Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Arthur Costa
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Regional
Disco Columbia 22.035-B, matriz 381017-2
Lançado em julho de 1931
A MINHA DOR
Selo de A Minha Dor Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Oscar Cardona
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra de Concertos Columbia
Disco Columbia 22.127-B, matriz 381263-3
Lançado em junho de 1932
RECORDAÇÕES DE UM PASSADO
Samba de Benedito Lacerda e Alcebíades Barcelos (Bide)
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Columbia
Disco Columbia 22.134-B, matriz 381281
Lançado em julho de 1932
TEM FRANCESA NO MORRO
Samba de Assis Valente
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento do Pessoal do Morro
Disco Columbia 22.148-B, matriz 381309
Lançado em novembro de 1932
VOCÊ É O HOMEM DO MEU PEITO
Samba de J. Cabral e M. Rodrigues
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Columbia
Disco Columbia 22.153-B, matriz 381332
Lançado em dezembro de 1932
MORENO FACEIRO
Samba de Custódio Mesquita
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Columbia
Disco Columbia 22.153-B, matriz 381325
Lançado em dezembro de 1932
TENHO VONTADE
Selo de Tenho Vontade Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Guilherme Pereira
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Columbia
Disco Columbia 22.203-B, matriz 381419
Lançado em 1933
DISCOS ODEON
QUANDO MEU AMOR PARTIU
Samba de Benedito Lacerda
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento da Orquestra Odeon
Disco Odeon 11.144-A, matriz 4879
Gravado em 17 de julho de 1934 e lançado em agosto de 1934
FLOR DO LODO
Selo de Flor do Lodo Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba Canção de Ari Mesquita
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 13.398-A, matriz 9546
Gravado em 23 de dezembro de 1952 e lançado em março de 1953
HINO À VIDA
Selo de Hino à Vida Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Vicente Paiva, Max Nunes e J. Maia
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 13.398-B, matriz 9547
Gravado em 23 de dezembro de 1952 e lançado em março de 1953
DENGUINHO
Selo de Denguinho Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Aracy Côrtes e César Cruz
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 13.535-B, matriz 9849
Gravado em 21 de agosto de 1953 e lançado em novembro de 1953
AS CADEIRAS DE YAYÁ
Selo de As Cadeiras de Yayá Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Nelson Castro e Armando Maciel
Gravado por Aracy Côrtes
Acompanhamento de Orquestra
Disco Odeon 13.693-A, matriz RIO-10167
Gravado em 11 de junho de 1954 e lançado em agosto de 1954
ALGUMAS LETRAS
A CASINHA
Você sabe de onde eu venho?
De uma casinha que eu tenho
Fica dentro de um pomar
É uma casa pequenina
Lá do alto da colina
De onde se ouve, longe, o mar
Entre as palmeiras bizarras
Cantam todas as cigarras
Sob o pó de ouro do sol
Do beiral desse horizonte
No jardim canta uma fonte
E, na fonte, há um caracol
Quando vejo, lá da estrada,
A casinha abandonada
Sinto n´alma um não sei quê
Como é triste a natureza
Anda em tudo uma tristeza
Com saudades de você
Você, que é minha amiguinha,
Venha ver minha casinha
Minha Santa, meu pomar
Que o meu cavalo é ligeiro
Dá uma légua só do outeiro
Chega a tempo de voltar
Mas, se acaso anoitecer
Tudo pode acontecer
Que será de mim, depois?
A casinha pequenina
Lá no alto da colina
Chega bem para nós dois.
PETROPOLITANA
Petrópolis linda é brasileira
Oh! Minha terra
Tu és tão bela e tão faceira
E aí na serra
Moram Cupido e a Deusa Flora
Que rindo chora
Com os perfumes e mil odores
Que se exalam dentre as flores
Petropolitana
És a flor mais gentil
Tão linda serrana
Ai, só tem no Brasil
Petrópolis santa és peregrina
Tu és rainha
Tens alma pura e cristalina
Qual cascatinha
Em que desliza amor fecundo
Pedro Segundo
Deu-te vida e realeza
Poetizou com a natureza.
JURA...!
Jura, jura, jura
Pelo Senhor
Jura pela imagem
Da Santa Cruz do Redentor
Pra ter valor a tua jura
Jura, jura de coração
Para que um dia
Eu possa dar-te o meu amor
Sem mais pensar na ilusão
Daí, então,
Dar-te eu irei
O beijo puro na Catedral do Amor
Dos sonhos meus
Bem junto aos teus
Para fugirmos das aflições da dor.
CHORA VIOLÃO
Eu me chamo Frô das Mata
Maria da Conceição
Não sei quantos anos tenho
Nunca me disseram não
Não cheguei a ver meu pai
Minha mãe não conheci
Foi nas margens do Tietê
Que disseram que eu nasci
Chora violão com sodade do sertão
Chora violão com sodade do sertão
Arrecebi um biête
Que foi numa cor de terra
Me chamando pra cantá
As toada lá da serra
Eu cantei, sim, meu senhor
Mas senti, não nego não,
A tristeza mais a dô
Me doer no coração
Essas coisinha que eu sinto
Lá em riba eu não sentia
Essa dô dentro dos peito
Também lá não me doía
Eu não sei se foi pro modo
De um frô avremeiada
Que me deram quando a cá
Vem me cantá minhas toada
Eu só queria sabê
Esses negócio de amô
A mode vê se é por isso
Que meus peito sente dor
Nem eu não queria vir
Tu mesmo me aconseiô
Agora, choremo anssim
Como inda ninguém chorou, oi.
YAYÁ
Ai Yoyô, eu nasci pra sofrê
Fui olhá pra você, meus olhinho fechô
E quando os olho eu abri
Quis gritá, quis fugí
Mas você, eu não sei porque
Você me chamô
Ai Yoyô, tenha pena de mim
Meu Sinhô do Bonfim
Pode inté se zangá
Se ele um dia soubé
Que você é que é
O Yoyô de Yayá.
Chorei toda a noite e pensei
Nos beijo de amô que eu te dei
Yoyô, meu benzinho
Do meu coração
Me leva pra casa
Me deixa mais não.
BAIANINHA
É baianinha faceira
Toda dengosa e gentil
Das melhores, a primeira
Nestas terras do Brasil
Tem um certo requebrado
E um quadril ondulante
Faz ficar apaixonado
Qualquer tipo elegante.
E que candonga no calcanhar
As mussorongas a saltitar
Ela é bonitinha como ninguém é
Com a chinelinha na ponta do pé.
Um belo Pano da Costa
E a trunfa enroscada
Qual o moço que não gosta
De uma camisa bordada
A baiana tem certeza
Certeza que é estimada
Ela vale quanto pesa
Sem precisar ser pesada.
A POLÍCIA JÁ FOI LÁ EM CASA
Polícia já foi lá em casa sabê
Se eu dou meu dinheiro todo a você
Quando tu veio
Só trazia o sobretudo
Te dei camisa, te dei terno
Te dei tudo
Eu já não sei que fazer mais
Para te pagar
Tanta pancada que você me dá
Meu bem, o castigo que Deus me deu
É teu
Não sei como podes zombar assim
De mim
Não vês que morro de amor por ti
Por ti
Por ti, o que era meu eu perdi
Ai, meu Deus foi assim que eu cai
Cruel, teu sorriso me faz sofrer
Morrer
O meu só te faz é te aborrecer, esquecer
Meus beijos, você já quis
Não quer
Os teus, quê que havemos de fazer?
Eu sei que você, marvado,
Dá eles pra outra mulher.
QUEM QUISER VER
Quem quiser ver
Quem quiser ver
Tem que pagar
Sem se mexer
Sem se mexer
Não pode entrar.
Eu sou mulata sabida
Sei mexer, sei dançar
Na perfeição
O meu prazer nesta vida
É machucar um maganão.
Quem quiser ter
Quem quiser ter
Este peixão
Tem que fazer
Tem que fazer
Combinação.
TU QUÉ TOMÁ MEU HOME
Por Deus, me deixa sossegada
Tu qué toma meu home
Mas meu home eu não te dou
Eu gosto é de levar pancada
E até de passar fome
Por amor do meu amor
Pra esse homem eu esquecer
Estou dando pra beber
Estou dando pra roubar
E se a polícia me prender
Já sei que foi você
Que foi me denunciar
Não faz isso assim, não
Tenha compaixão, sim
Não queira me encrencar
Mulher malvada e má
Gozar, me deixa a vida desgraçada
Não faz isso assim, não
Tenha compaixão, sim
Não queira me encrencar
Nem me perder por que
Assim, meu destino é só sofrer.
ZOMBA
Zomba, zomba
Quando ver chorar alguém
Mas um dia, Deus castiga
Faz a gente amar também
O amor custa, mas vem
Fui à Bahia ver o Senhor do Bonfim
O feitiço das baianas
Mal cheguei, pegou em mim
Gente danada pra fazer sofrer de amor
Com certeza foi castigo
Que me deu Nosso Senhor.
Lá na Bahia fiz tudo
O que quis, enfim
As baianas com suas saias
Jogaram feitiço em mim
Gente danada
Pra fazer sofrer de dor
Mas isto não é castigo
Que abale o meu amor.
QUINDIS DE YAYÁ
Yoyô, Yoyô, Yoyô
Repare só como treme toda essa gelatina
Yoyô, Yoyô, Yoyô
É bom que dói
Isto não faz mal
É comida fina
Cheirou, provou, gostou
Mexendo, assim,
Ai, meu Deus, então
Você pede bis
Yoyô, eu sou manjar
Se quer provar
Garanto, eu juro
Que você vai ser feliz
Esses quindins que eu tenho
São para o meu bem
Esses quindins que eu tenho
Que eu tenho
São dele e de mais ninguém.
VAMOS JUNTAR OS TRAPINHOS
Fecho o meu baú de foia
Guardo de novo os trapinho
Com todo o meu carinho
Vamos, bem juntos, pela vida
Continuar nosso caminho
Continuar nosso caminho
Viverei junto, bem juntinho
Com loucura verdadeira
Como bela parasita
Que se agarra a um tronco forte
Para se livrar da morte
E, assim, passa a vida inteira.
Meu amor, bem que mereço
O teu perdão, meu bem
Foi sempre teu meu coração, também
Eu juro à Virgem cara a cara
Nunca mais nós se separa
Amor, a nossa vida é uma só,
Meu bem
Pois eu serei tua mulher
Enquanto houver,
Aqui, nosso querido violão.
O AMOR VEM QUANDO A GENTE NÃO ESPERA (SAMBA DA PENHA)
Eu sei, eu sei
O amor vem quando a gente não espera
Disfarçadamente
Morde como fera
E faz a gente padecer
Sem querer
Depois, os dois
Pensando que a ventura não tem fim
Sofrem tal desilusão
E tudo acaba, então
Em dor
E é sempre assim
Numa barraca lá da Penha
Num domingo dos barraqueiros
Eu te encontrei
Quando puseste em meus olhos
Os teus olhos mexeriqueiros
Quase desmaiei
Sem poder me defender
Fiquei logo cativa
E o motivo desta afeição
É uma interrogação
Uns dizem que sou
Até bem feliz
Que a Santa me ajudou.
POETA DO SERTÃO
O caboclo do sertão
Quando a noite é de luar
Com prazer, satisfação
Sabe a viola temperar
Com ternura, apaixonado
A cantiga sempre entoa
E, pra lá dos descampados,
Os ais ele ressoa, ah.
O poeta do sertão ama o luar
Com a arma e coração
Sempre a cantar.
O poeta do sertão
Sempre a cantar
Com a arma e coração
Bem sabe amar.
O poeta do sertão
Sempre a sonhar
Com a arma e coração
Bem sabe amar.
Com a viola temperada
No descanso além de cá
E seguindo com a toada
Com fervor cantando-a
Fim de amor, crué, padece
Foge logo pra um retiro
E se o canto lhe entristece
Morre sempre num suspiro, ah.
O poeta do sertão ama o luar
Com a arma e coração
Sabe cantar
O poeta do sertão
Bem sabe amar
Com a arma e coração
Sofre penar
O poeta do sertão
Bem sabe amar
Com a arma e coração
Sofre penar.
Agradecimento a Gilberto Inácio Gonçalves e ao Arquivo Nirez
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