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FRANCISCO ALVES
100 ANOS DE SUAS PRIMEIRAS GRAVAÇÕES
Em
outubro de 2019 completou-se cem anos que o cantor FRANCISCO ALVES fez suas
primeiras gravações através do selo Popular Record da propriedade de João
Gonzaga.
Em
outubro de 1919, Francisco Alves era um jovem de 21 anos que tentava a sorte na
carreira artística. Sua irmã, Nair Alves, era atriz do Teatro de Revista e já
possuía algum prestígio no cenário artístico, o que iria aumentar ainda mais na
década de 1920. Francisco Alves, também batizado de Chico Viola pela
atriz Zazá Soares, a Bela Zazá, procurava seguir os passos da irmã.
Segundo
Francisco Alves, em suas memórias publicadas na revista O Cruzeiro em
1951, ele e o compositor Sinhô (José Barbosa da Silva) se conheceram em uma
festa, onde ambos cantaram as composições do próprio Sinhô. Logo ficaram amigos
e, dias depois, na loja de discos e partituras Casa Viúva Guerreiro
(então, situada à Rua do Ouvidor) marcaram um novo encontro. Foi aí que Sinhô
informou ao jovem Chico que João Gonzaga estava saindo da Casa Edison e abrindo
sua própria gravadora, A Popular, no quintal de sua casa (à Rua Barão de
Bom Retiro), onde vivia com a esposa, a maestrina e compositora Chiquinha
Gonzaga.
No
dia combinado, Francisco Alves seguiu para o local da gravadora acompanhado de
algumas garotas, suas sobrinhas. Também ia com o grupo seu amigo Juvenal
Fontes, o Jeca Tatu, que fariam o coro das gravações. Em suas recordações, o
cantor dizia não terem recebido nem o dinheiro das passagens, afinal, era uma
tentativa, e “tudo se fazia na base do sacrifício”, como lembrou em 1951.
As
músicas gravadas eram da autoria de Sinhô e seriam: a marcha O Pé de Anjo
e os sambas Papagaio Louro (Fala, meu Louro) e Alivia Esses
Olhos. O acompanhamento foi feito pelo Grupo dos Africanos. A numeração dos
discos Popular Record, respectivamente, ficou 1.008, 1.009, 1.010 e eles seriam
lançados em 1920.
Segundo
ainda Francisco Alves, em 1951, os discos venderam pouco e ele, como cantor,
não fez sucesso. Desanimado, pensou em abandonar a carreira artística, mas
Sinhô o convenceu do contrário.
Francisco
Alves passaria por sérias dificuldades pessoais em 1920, mas tudo melhoraria
com o passar do tempo e ele continuaria sua carreira como cantor e ator.
Falaremos disso em breve.
Se
os discos de Francisco Alves não fizeram sucesso, as músicas por eles lançadas tiveram
grande êxito no Carnaval de 1920. Muito provavelmente pela divulgação de Sinhô
através das partituras para piano. Afinal, o compositor era um grande divulgador
de sua obra, fazendo isso com grande acerto.
A
marcha O Pé de Anjo se tornou muito popular e chegou a ser o título de
uma revista carnavalesca lançada no começo de 1920 que fez muito sucesso,
popularizando mais a marchinha. No elenco brilhavam Otília Amorim, Pedro Dias,
Henriqueta Brieba, Júlia Martins e Alfredo Silva. A peça foi um dos marcos do
Teatro de Revista. A marcha ainda seria gravada em disco Popular Record, de
número 1.000, pelo Bloco do Fala Meu Louro, também em outubro de 1919. Em 1923,
o veterano e célebre cantor Bahiano lançaria sua gravação de O Pé de Anjo,
pela Odeon Record, em disco 122.453. Segundo Abel Cardoso Júnior, essa marcha
era uma resposta ao samba de Pixinguinha e seu irmão China (Otávio Viana), Já
te Digo (parte da polêmica musical Sinhô x Pixinguinha). Pé de Anjo significava
“pés grandes” e, com esse título, Sinhô fazia uma sátira a China, que diziam
ter pés enormes.
Fala
Meu Louro,
samba, foi anunciado como no início da gravação como Papagaio Louro (seu
subtítulo), em desacordo com o selo. A música mexia com o político baiano Ruy
Barbosa: “misto de irreverência (embrulhar o carioca) e admiração pelo tribuno
(bico dourado) e intelectual (coco de respeito)”. Ruy Barbosa fora derrotado na
disputa eleitoral para presidente em 1919 e resolveu ficar em um “surpreendente
mutismo”, intrigando Sinhô que, no samba, pergunta: “Qual a razão que vives
calado?”. Fala Meu Louro seria gravado como Papagaio Louro em
disco Popular Record pelo Bloco do Fala Meu Louro, em disco nº 1.001.
Bahiano também o gravaria em 1923 e Mário Reis, em 1951. A cantora e atriz Zezé
Mota interpretou de forma magistral esse samba no primeiro capítulo da novela Kananga
do Japão, exibida em 1989 pela Rede Manchete. Também foi título de peça do
Teatro de Revista no começo da década de 1920.
O
samba Alivia Esses Olhos foi também gravado em outubro de 1919 pelo
Banda do Grupo dos Africanos, em disco Popular Record nº 1.004. Francisco Alves
o regravaria em 1929, com alterações de versos, trazendo o título de Eu
Queria Saber, também da autoria de Sinhô. No Teatro de Revista era cantado
com outra letra, em dueto.
Na
introdução dos discos, o locutor apresenta “Bloco dos Africanos”, enquanto que
no selo dos discos sai “Grupo dos Africanos”.
Francisco
Alves voltaria a gravar em 1924, pela Odeon Record. Mas, só seria a partir de
1927 que ele alcançaria grande êxito como cantor. E isso será contado em uma
próxima postagem.
Primeiras Gravações de Francisco Alves
O PÉ DE ANJO
Selo de O Pé de Anjo Arquivo Nirez |
Marcha Carnavalesca de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada por Francisco Alves
Acompanhamento do Grupo dos Africanos
Disco Popular Record 1.008, matriz 1008-2
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
Eu tenho uma tesourinha
Que corta ouro e marfim
Guardo também para cortar
As línguas que falam de mim
Oh, Pé de Anjo
Oh, Pé de Anjo
És rezador, és rezador
Tens um pé tão grande
Que és capaz de pisar Nosso Senhor
Nosso Senhor!
A mulher e a galinha
São dois bichos interesseiros
A galinha pelo milho
E a mulher pelo dinheiro.
FALA MEU LOURO (PAPAGAIO LOURO)
Selo de Fala Meu Louro Arquivo Nirez |
Samba de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado por Francisco Alves
Acompanhamento do Grupo dos Africanos
Disco Popular Record 1.009, matriz 1009-3...
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
A Bahia não dá mais coco
Para botar na tapioca
Pra fazer um bom mingau
Para embrulhar o carioca.
Papagaio louro
Do bico dourado
Tu falavas tanto
Qual a razão que vives calado?
Não tenhas medo
Coco de respeito
Quem quer se fazer não pode
Quem é bom já nasce feito.
ALIVIA ESSES OLHOS
Selo de Alivia Esses Olhos De Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado por Francisco Alves
Acompanhamento do Grupo dos Africanos
Disco Popular Record 1.010, matriz 1010-4...
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
Eu queria saber por que é
que este homem bateu na mulher
Que mulher engraçada e adorada
que se acostumou com a pancada!
Ai, como é bom querer!
Sofrer calado
Sem ninguém saber
Alivia esses olhos pra lá
que ainda ontem eu fui me rezar
Tenho medo desse olhar
que procura-me a vida atrasar.
Bônus
(Outras Gravações)
O PÉ DE ANJO
Selo de O Pé de Anjo De Gilberto Inácio Gonçalves |
Marcha Carnavalesca de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravada pelo Bloco do Fala Meu Louro
Disco Popular Record 1.000, matriz 1000
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
PAPAGAIO LOURO (FALA MEU LOURO)
Selo de Papagaio Louro De Gilberto Inácio Gonçalves |
Samba de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado pelo Bloco do Fala Meu Louro
Disco Popular Record 1.001, matriz 1001-2
Gravado em outubro de 1919 e lançado em 1920
EU QUERIA SABER
Samba de Sinhô (José Barbosa da Silva)
Gravado por Francisco Alves
Acompanhamento da Orquestra Pan American
Disco Odeon 10.472-A, matriz 2.805
Lançado em outubro de 1929
Eu queria saber por que é
que este homem bateu na mulher
Que mulher engraçada e adorada
que se acostumou com a pancada!
Ai, como é bom querer!
Sofrer calado
Sem ninguém saber
Tanta gente que anda sofrendo
em virtude de uma paixão
Eu queria saber se eu tenho
um lugar em teu coração.
Agradecimento aos amigos Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo), Gilberto Inácio Gonçalves e Adilson Santos.
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