quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

CARMEN MIRANDA - 90 ANOS DE SUAS PRIMEIRAS GRAVAÇÕES


CARMEN MIRANDA
Arquivo José Ramos Tinhorão
https://ernestonazareth150anos.com.br/


O mês de outubro de 2019 marcou os 90 anos da primeira gravação de CARMEN MIRANDA em discos, através do selo Brunswick. Antes de falar sobre o evento, vamos conhecer e/ou relembrar o início da carreira de nossa Pequena Notável.

Nascida no Porto (Portugal), em 02 de fevereiro de 1909, Maria do Carmo Miranda da Cunha veio morar no Brasil com sua mãe e a irmã mais velha, Olinda, quando tinha por volta de um ano de idade. Seu pai já se encontrava aqui, esperando-as.

Adolescente, começou a trabalhar em lojas de modas, atraindo atenção devido sua simpatia e voz agradável, pois gostava de cantar para as colegas e clientes.

Ao ser apresentada ao violonista e compositor baiano Josué de Barros, este logo se interessou em ajudar artisticamente a jovem que cantava suas músicas com uma graça especial, inclusive imitando a estrela Aracy Côrtes na composição Chora Violão.

Em 07 de janeiro de 1929, Carmen Miranda participava de um evento em homenagem ao compositor Ernesto Nazareth, que foi organizado pelo deputado Aníbal Machado, realizado no Instituto Nacional de Música. Uma rara foto, publicada pela revista O Violão (edição de fevereiro de 1929), mostra os participantes do evento, como o homenageado Ernesto Nazareth, o cantor Breno Ferreira, Josué de Barros e seu filho Betinho, Aníbal Machado, e ainda Mário Cunha, então namorado de Carmen. A própria Carmen Miranda aparece na foto, ao lado de Aurora Miranda, sua irmã, e do irmão Oscar Miranda. Somente Ernesto Nazareth foi creditado na fotografia.

Porém, esse não foi a primeira aparição de Carmen Miranda como cantora. Em 1928, às 20:30 do dia 28 de agosto (uma terça-feira), no mesmo Instituto Nacional de Música, ela se apresentava cantando tangos argentinos, em benefício do Orfanato do Sagrado Coração de Jesus. Provavelmente ela foi levada ao evento por Josué de Barros.


A Esquerda, 27 de agosto de 1928
http://memoria.bn.br/

Em seu início de carreira, Carmen Miranda gostava muito de interpretar tangos; ela chegaria a gravar dois pela Victor.

Em 30 de março de 1929, Carmen Miranda faria (talvez) sua primeira viagem artística fora da cidade do Rio de Janeiro, apresentando-se em Petrópolis, no Palace Hotel, em uma audição de violão e canções regionais.


Correio da Manhã, 21 de março de 1929
(imagem editada)
http://memoria.bn.br/


Diário Carioca, 21 de março de 1929
http://memoria.bn.br/


Carmen Miranda começou a aparecer na programação radiofônica em 1929, em rádios como a Rádio Educadora do Brasil, Rádio Sociedade e Rádio Mayrink Veiga. Essas participações, aliadas aos eventos onde tomava parte, ajudavam-na a adquirir experiência perante o público e segurança como cantora. Para seu padrinho artístico, Josué, o próximo passo seria gravar um disco, o que ajudaria a divulgar mais ainda a carreira da jovem artista.


Correio da Manhã, 05 de março de 1929
(imagem editada)
http://memoria.bn.br/


Correio da Manhã, 10 de março de 1929
(imagem editada)
http://memoria.bn.br/


Correio da Manhã, 22 de outubro de 1929
(imagem editada)
http://memoria.bn.br/


Correio da Manhã, 13 de dezembro de 1929
(imagem editada)
http://memoria.bn.br/


A gravadora escolhida foi a Brunswick, cuja filiar fora recém-inaugurada no Brasil. Em setembro de 1929, Carmen Miranda gravava seu primeiro disco com músicas da autoria de Josué de Barros, trazendo no lado A o choro Se o Samba é Moda, e no lado B, o samba Não Vá Simbora. Mas o disco só seria lançado em dezembro de 1929 (como suplemento para janeiro de 1930) e essa demora desagradou a Josué, que levou Carmen para um teste na gravadora Victor (que também iniciou suas instalações no Brasil em 1929). Na Victor, ela gravaria duas músicas ainda em dezembro de 1929, mas isso é assunto para outra postagem.

Abel Cardoso Júnior, saudoso pesquisador e biógrafo de Carmen Miranda, informava que a revista Cruzeiro (15 de março de 1930, p. 39) dava o registro do disco, porém, sem o nome da cantora. Ele ainda informava que o Trio Barros, que acompanhou Carmen na gravação, deveria variar bastante, pois, em março de 1929 "era composto de Josué de Barros, Edmundo Barroso e Francisco Serra. Dias depois, apresentava-se com Manoel Controva no lugar de Edmundo Barroso". 

O pesquisador ainda informa, em seu livro Carmen Miranda - A Cantora do Brasil, uma passagem pitoresca, retirada da Gazeta do Rádio, segunda quinzena de agosto de 1955, p. 02: "Quando do primeiro disco que gravou, isso na gravadora Brunswick, Carmen entrou em contato com o diretor da mesma, um senhor gordo e de nacionalidade alemã. Ao 'topar' com o volumoso corpo do germânico e sua enorme barriga, Carmen, sempre brincalhona, batendo na cintura do diretor, falou:

- Chopp, não é?"



Phono-Arte, 15 de janeiro de 1930, nº 35, p. 26.
Arquivo Nirez


Correio da Manhã, 09 de fevereiro de 1930.
Obs. Nesse dia, Carmen Miranda completava 21 anos de idade.
http://memoria.bn.br/


Excelsior, fevereiro de 1930, nº 25.
http://memoria.bn.br/






O primeiro disco de Carmen Miranda é hoje um raro artigo de colecionador. Tão difícil de se encontrar que, recentemente, vi um anúncio na internet onde um vendedor o oferecia pelo valor de um milhão de reais... Isso mesmo! Mas, raridade a parte, ele também é importante pela simbologia que o envolve. Foi o primeiro disco de uma fascinante artista, uma cantora que iria revolucionar a forma de interpretação feminina dos anos 30. Uma personalidade que, meses depois dessa gravação, se tornaria em um fenômeno no meio musical, graças a seu talento e carisma. Carmen Miranda já estava pronta como cantora em setembro de 1929, só precisava da oportunidade para mostrar a que veio. E isso, a Victor lhe concederia nas centenas de discos e sucessos que ela lançaria nos anos seguintes.



Carmen Miranda, 1930
http://memoria.bn.br




Eventos de Carmen Miranda 


 Theatro Lyrico

Correio da Manhã, 06 de março de 1929
http://memoria.bn.br/


Clube de Regatas Botafogo

Diário Carioca, 14 de novembro de 1929
http://memoria.bn.br/



Primeiras Gravações de Carmen Miranda





SE O SAMBA É MODA
Choro de Josué de Barros
Gravado por Carmen Miranda
Acompanhamento do Trio Barros
Disco Brunswick 10.013-A, matriz 97
Lançado em janeiro de 1930




O samba era original dança dos pobres
E no entanto, hoje, vive nos salões mais nobres

Se o samba é moda, vamos sambar (ui)
Entre na roda e deixe o mundo se acabar

Até na corte, o ? é majestade
Vai um sambinha e quebra mesmo de verdade.



NÃO VÁ SIMBORA
Samba de Josué de Barros
Gravado por Carmen Miranda
Acompanhamento do Trio Barros
Disco Brunswick 10.013-B, matriz 99
Lançado em janeiro de 1930




Se você vai ficá, eu fico
Se você vai sim´bora, eu vô
Se você vai com água no bico
o culpado é você, amô

Não vá sim´bora, nóis não deve assepará
A coisa tá memo boa, inté faz pena se acabá

Você gosta de mim, meu bem
Não me negue o que eu lhe pedi
Pois assim faz quem amô tem
Eu só peço é p´ra não partir

Não se deve brincá cum amô
quando nasce no coração
Não há nada pió que a dô
di uma cruel separação.














Agradecimento ao Arquivo Nirez
Abel Cardoso Júnior (In memoriam)










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