CARMEN MIRANDA Arquivo José Ramos Tinhorão https://ernestonazareth150anos.com.br/ |
O
mês de outubro de 2019 marcou os 90 anos da primeira gravação de CARMEN MIRANDA
em discos, através do selo Brunswick. Antes de falar sobre o evento, vamos conhecer
e/ou relembrar o início da carreira de nossa Pequena Notável.
Nascida
no Porto (Portugal), em 02 de fevereiro de 1909, Maria do Carmo Miranda da Cunha
veio morar no Brasil com sua mãe e a irmã mais velha, Olinda, quando tinha por
volta de um ano de idade. Seu pai já se encontrava aqui, esperando-as.
Adolescente,
começou a trabalhar em lojas de modas, atraindo atenção devido sua simpatia e
voz agradável, pois gostava de cantar para as colegas e clientes.
Ao
ser apresentada ao violonista e compositor baiano Josué de Barros, este logo se
interessou em ajudar artisticamente a jovem que cantava suas músicas com uma
graça especial, inclusive imitando a estrela Aracy Côrtes na composição Chora
Violão.
Em
07 de janeiro de 1929, Carmen Miranda participava de um evento em homenagem ao
compositor Ernesto Nazareth, que foi organizado pelo deputado Aníbal Machado,
realizado no Instituto Nacional de Música. Uma rara foto, publicada pela
revista O Violão (edição de fevereiro de 1929), mostra os participantes
do evento, como o homenageado Ernesto Nazareth, o cantor Breno Ferreira, Josué
de Barros e seu filho Betinho, Aníbal Machado, e ainda Mário Cunha, então
namorado de Carmen. A própria Carmen Miranda aparece na foto, ao lado de Aurora
Miranda, sua irmã, e do irmão Oscar Miranda. Somente Ernesto Nazareth foi
creditado na fotografia.
Porém,
esse não foi a primeira aparição de Carmen Miranda como cantora. Em 1928, às
20:30 do dia 28 de agosto (uma terça-feira), no mesmo Instituto Nacional de Música, ela se
apresentava cantando tangos argentinos, em benefício do Orfanato do Sagrado
Coração de Jesus. Provavelmente ela foi levada ao evento por Josué de Barros.
A Esquerda, 27 de agosto de 1928 http://memoria.bn.br/ |
Em
seu início de carreira, Carmen Miranda gostava muito de interpretar tangos; ela
chegaria a gravar dois pela Victor.
Em
30 de março de 1929, Carmen Miranda faria (talvez) sua primeira viagem
artística fora da cidade do Rio de Janeiro, apresentando-se em Petrópolis, no
Palace Hotel, em uma audição de violão e canções regionais.
Correio da Manhã, 21 de março de 1929 (imagem editada) http://memoria.bn.br/ |
Diário Carioca, 21 de março de 1929 http://memoria.bn.br/ |
Carmen
Miranda começou a aparecer na programação radiofônica em 1929, em rádios como a
Rádio Educadora do Brasil, Rádio Sociedade e Rádio Mayrink Veiga. Essas
participações, aliadas aos eventos onde tomava parte, ajudavam-na a adquirir
experiência perante o público e segurança como cantora. Para seu padrinho artístico,
Josué, o próximo passo seria gravar um disco, o que ajudaria a divulgar mais
ainda a carreira da jovem artista.
Correio da Manhã, 05 de março de 1929 (imagem editada) http://memoria.bn.br/ |
Correio da Manhã, 10 de março de 1929 (imagem editada) http://memoria.bn.br/ |
Correio da Manhã, 22 de outubro de 1929 (imagem editada) http://memoria.bn.br/ |
Correio da Manhã, 13 de dezembro de 1929 (imagem editada) http://memoria.bn.br/ |
A
gravadora escolhida foi a Brunswick, cuja filiar fora recém-inaugurada no
Brasil. Em setembro de 1929, Carmen Miranda gravava seu primeiro disco com
músicas da autoria de Josué de Barros, trazendo no lado A o choro Se o Samba
é Moda, e no lado B, o samba Não Vá Simbora. Mas o disco só seria
lançado em dezembro de 1929 (como suplemento para janeiro de 1930) e essa demora
desagradou a Josué, que levou Carmen para um teste na gravadora Victor (que
também iniciou suas instalações no Brasil em 1929). Na Victor, ela gravaria duas
músicas ainda em dezembro de 1929, mas isso é assunto para outra postagem.
Abel Cardoso Júnior, saudoso pesquisador e biógrafo de Carmen Miranda, informava que a revista Cruzeiro (15 de março de 1930, p. 39) dava o registro do disco, porém, sem o nome da cantora. Ele ainda informava que o Trio Barros, que acompanhou Carmen na gravação, deveria variar bastante, pois, em março de 1929 "era composto de Josué de Barros, Edmundo Barroso e Francisco Serra. Dias depois, apresentava-se com Manoel Controva no lugar de Edmundo Barroso".
O pesquisador ainda informa, em seu livro Carmen Miranda - A Cantora do Brasil, uma passagem pitoresca, retirada da Gazeta do Rádio, segunda quinzena de agosto de 1955, p. 02: "Quando do primeiro disco que gravou, isso na gravadora Brunswick, Carmen entrou em contato com o diretor da mesma, um senhor gordo e de nacionalidade alemã. Ao 'topar' com o volumoso corpo do germânico e sua enorme barriga, Carmen, sempre brincalhona, batendo na cintura do diretor, falou:
- Chopp, não é?"
Phono-Arte, 15 de janeiro de 1930, nº 35, p. 26. Arquivo Nirez |
Correio da Manhã, 09 de fevereiro de 1930. Obs. Nesse dia, Carmen Miranda completava 21 anos de idade. http://memoria.bn.br/ |
Excelsior, fevereiro de 1930, nº 25. http://memoria.bn.br/ |
O
primeiro disco de Carmen Miranda é hoje um raro artigo de colecionador. Tão
difícil de se encontrar que, recentemente, vi um anúncio na internet onde um
vendedor o oferecia pelo valor de um milhão de reais... Isso mesmo! Mas, raridade
a parte, ele também é importante pela simbologia que o envolve. Foi o primeiro
disco de uma fascinante artista, uma cantora que iria revolucionar a forma de interpretação
feminina dos anos 30. Uma personalidade que, meses depois dessa gravação, se
tornaria em um fenômeno no meio musical, graças a seu talento e carisma. Carmen
Miranda já estava pronta como cantora em setembro de 1929, só precisava da
oportunidade para mostrar a que veio. E isso, a Victor lhe concederia nas
centenas de discos e sucessos que ela lançaria nos anos seguintes.
Carmen Miranda, 1930
http://memoria.bn.br |
Eventos de Carmen Miranda
Theatro Lyrico
Correio da Manhã, 06 de março de 1929 http://memoria.bn.br/ |
Clube de Regatas Botafogo
Diário Carioca, 14 de novembro de 1929 http://memoria.bn.br/ |
Primeiras Gravações de Carmen Miranda
SE O SAMBA É MODA
Choro de Josué de Barros
Gravado por Carmen Miranda
Acompanhamento do Trio Barros
Disco Brunswick 10.013-A, matriz 97
Lançado em janeiro de 1930
O samba era original dança dos pobres
E no entanto, hoje, vive nos salões mais nobres
Se o samba é moda, vamos sambar (ui)
Entre na roda e deixe o mundo se acabar
Até na corte, o ? é majestade
Vai um sambinha e quebra mesmo de verdade.
NÃO VÁ SIMBORA
Samba de Josué de Barros
Gravado por Carmen Miranda
Acompanhamento do Trio Barros
Disco Brunswick 10.013-B, matriz 99
Lançado em janeiro de 1930
Se você vai ficá, eu
fico
Se você vai sim´bora,
eu vô
Se você vai com água
no bico
o culpado é você, amô
Não vá sim´bora, nóis
não deve assepará
A coisa tá memo boa,
inté faz pena se acabá
Você gosta de mim,
meu bem
Não me negue o que eu
lhe pedi
Pois assim faz quem
amô tem
Eu só peço é p´ra não
partir
Não se deve brincá
cum amô
quando nasce no
coração
Não há nada pió que a
dô
di uma cruel
separação.
Agradecimento ao Arquivo Nirez
Abel Cardoso Júnior (In memoriam)
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