quinta-feira, 12 de setembro de 2024

ZAÍRA CAVALCANTI E SEU ESPÍRITO AVENTUREIRO

ZAÍRA CAVALCANTI
"Zaira Cavalcanti tinha estado alguns mêses no Chile, interpretando,
com a graça que já lhe é peculiar, as nossas melodias populares,
em uma das primeiras propagandas da nossa música naquele país andino"
Carioca, 1952
Arquivo Nirez





Há 43 anos falecia a cantora e atriz ZAÍRA CAVALCANTI, uma das mais belas e talentosas artistas de nosso teatro de revista e nossa música popular brasileira.      

Zaíra Baltazar Cavalcanti nasceu em Santa Maria (Rio Grande do Sul), em 01 de outubro de 1913. Era filha do militar pernambucano Otávio Cavalcanti e de Conceição Baltazar.  


Zaíra Cavalcanti iniciou sua carreira ainda no Rio Grande do Sul, indo ainda muito jovem para o Rio de Janeiro.

Tornou-se estrela de nosso Teatro de Revista aos 16 anos de idade, nos primeiros dias de janeiro de 1930, ao lançar na revista Dá Nela, no Theatro Recreio, a marchinha da autoria de Ary Barroso com o mesmo título. A partir de então, passaria a ser uma de nossas principais artistas do teatro musicado.

Seja em excursões pela Argentina, Chile, ou nas gravações em discos, no cinema e, principalmente, nos palcos, Zaíra Cavalcanti deixou sua marca como artista talentosa, ornada por uma grande beleza física e carisma.

Em 1940, em uma dessas viagens à Argentina, participou do filme Luna de Miel em Río, dirigido por Manuel Romero, atuando ao lado de Niní Marshall, Tito Lusiardo e Enrique Serrano, interpretando o personagem Mercedes. No filme, ela canta o samba Eu Tenho Tudo, com letra de sua autoria.


Por ocasião da divulgação do filme no Brasil, a revista A Scena Muda fez uma reportagem sobre Zaíra Cavalcanti e seu “espírito aventureiro”, falando sobre sua experiência no cinema argentino. Na matéria, ela posa ao lado do ator Milton Marinho.

Já trouxemos todas as gravações de Zaíra Cavalcanti, acompanhadas de fotos dos selos dos discos, em algumas postagens:



Zaíra Cavalcanti e suas gravaçõeshttp://bit.ly/2xaEv6i


Zaíra Cavalcanti (Uma Estrela Brasileira)




Vamos conferir alguns trechos da reportagem, com meus comentários, e algumas gravações de Zaíra Cavalcanti. Obs. Pontuações e acentuações originais.




O ESPÍRITO AVENTUREIRO DE ZAÍRA CAVALCANTI



A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940.
Arquivo Marcelo Bonavides



"Acha-se atualmente no Rio a artista conterrânea Zaíra Cavalcanti, gaúcha de Santa Maria, muito conhecida desta capital, onde viveu desde garota.
Zaíra é uma das principais figuras do filme argentino Luna de Miel en Río, da Lumilton, dirigido por Manuel Romero, incontestavelmente uma das mais completas de direção de filmes no Novo Mundo".

O ator e galã Milton Marinho, que atuou em Romance Proibido, era um fã e amigo de Zaíra. Ao saber que a revista faria uma matéria sobre ela, se prontificou a acompanhá-la.

"Desde muito criança que nossa conterrânea mostrou possuir um espírito acentuadamente aventureiro e livre. Com uma vocação representativa, doutou-a a natureza de bonita voz, que ela tem aproveitado sempre na divulgação de nossa música popular por todos os países da América do Sul".

Em Buenos Aires o público e meio artístico lhe prestigiava resultando, segundo a publicação, em um filme, rodado em 1936, Rádio-Bar.

A matéria afirma que em 1938 Zaíra Cavalcanti empreendeu sozinha uma excursão pelo Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Venezuela..., "cantando músicas brasileiras e sul-americanas", sempre com muito sucesso. Só não foi mais além "porque as saudades já eram tantas que ela sentia os olhos cheios d´água ao ler nos jornais o nome do Brasil, em correspondências telegráficas".

Depois, filmou A Canção do Mundo e, finalmente, Luna de Miel en Río, de 1940, onde teve um papel mais importante, interpretando a personagem Mercedes. Todos esses filmes foram rodados na Argentina. Nesse último, ela cantou o samba Eu Tenho Tudo, com letra de sua autoria e música de Ciamarelli. Zaíra aparece desenvolta cantando e é uma rara oportunidade de vermos seu talento, carisma e um gostoso sapateado.





Eu Tenho Tudo

Pela rua da vida eu esperava
O amor que minh´alma vive ornando
No caminho minha esperança ia ficando
E meu sonho em realidade se tornou

Minha tristeza fugiu
Veio a alegria
E desde então
vivo cantando o meu amor

Pela rua da vida eu esperava
E pela rua da vida apareceu

Minha vida hoje é felicidade
Pois tenho tudo com seu amor
Eu tenho tudo
Eu tenho tudo
A sua boca para beijar-me
As suas mãos para acariciar-me
Tenho seus olhos para olhar-me
Suas palavras, seu sorriso e seus beijos
É o paraíso do meu viver



Em Luna de Miel en Río, ela aparece ao lado de Niní Marshal, grande atriz e comediante argentina.

Zaíra Cavalcanti "é profundamente brasileira e, se possui atualmente sotaque platino na pronuncia, deve-o aos cinco ou seis anos de convivência com os povos de língua hispano-americana; mas isso não lhe diminui o amor ao Brasil, o seu entusiasmo por tudo o que é nosso".


MILTON MARINHO e ZAÍRA CAVALCANTI
"Em companhia do gala Milton Marinho, 
Zaira Cavalcanti deixa o edifício do antigo Conselho Municipal, 
aonda (sic) fôra em vistita a velhos amigo"
A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940.
Arquivo Marcelo Bonavides


Por todos os países que andou, a cantora teve a melhor impressão. Também teve a satisfação de sempre ouvir elogios ao nosso País.

Zaíra Cavalcanti cultivava um hobby interessante: o estudo da língua Guarany.

Ela era apaixonada por essa língua, dedicando carinhosamente horas de seu tempo procurando aperfeiçoar-se, mesmo convivendo longe das zonas onde o idioma era falado. No Paraguai foi o que mais a prendeu; essa língua de alguns dos nossos primeiros habitantes, "dotada de uma sintaxe aglutinada e rica de expressão". O Paraguai era "um extenso curso dialectal" para ela, "concorrendo vitoriosamente com o castelhano, o que torna o Paraguai a unica nação bilíngue deste continente".

Em dezembro de 1940, Zaíra fazia sua rentrée ansiosamente esperada no Theatro Recreio.

A reportagem ainda desejava que o talento da artista fosse aproveitado no cinema brasileiro.

Para ela, a indústria cinematográfica de Buenos Aires era realidade absoluta, com estúdios completos, muito dinheiro e excelentes artistas profissionais. Luna de Miel en Río foi quase todo rodado nos estúdios da Lumilton, sendo dirigido por Manuel Romero, tendo as filmagens durado um mês e treze dias e custado, em moeda brasileira, ao câmbio da época, cerca de 1500 contos.

Dentre os artistas do Cinema Argentino, Zaíra admirava vários, destacando "Catita", personagem criado por sua colega Niní Marshall e protagonista de vários filmes de sucesso, Libertad Lamarque, Tito Lusiardo, Fernando Borel, Muiño ...



TITO LUSIARDO e ZAÍRA CAVALCANTI
"Zaira Cavalcanti e Tito Lusiardo, numa scena de 'Luna de Miel no Rio'. 
Esse film custou cerca de 1.500 contos e foi rodado em menos de mez e meio"
A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940.
Arquivo Marcelo Bonavides


Até a data da reportagem, o momento mais sensacional de sua vida havia sido em 02 de agosto de 1939, quando ela recebeu em Montivedéu o convite da Lumilton para integrar o cast de Luna de Miel en Río, uma boa e positiva propaganda do Rio de Janeiro, ao contrário de Hollywood e seu Rio fantasioso...     

A reportagem terminava com Zaíra Cavalcanti expressando admiração com as instalações da Cinédia que, para ela, em nada devia às melhores de Buenos Aires.



ZAÍRA CAVALCANTI e MILTON MARINHO em um café na Cinelândia.
A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940.
Arquivo Marcelo Bonavides



Fonte:
A Scena Muda nº 1030, Arquivo Marcelo Bonavides.





GRAVAÇÕES DE ZAÍRA CAVALCANTI

  

CANÇÃO DOS INFELIZES

Selo de Canção dos Infelizes
Arquivo Dijalma Candido

Canção de Ernesto dos Santos (Donga), Luís Peixoto e Marques Porto
Gravada por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento da Orquestra Pan American, sob a direção de Simon Bountman
Disco Odeon 10.611-B, matriz 3547-1
Lançado em junho de 1930




ORGIA

Selo de Orgia
Arquivo Dijalma Candido
Samba de A. Neves e Luís Peixoto
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento de Simão nacional Orquestra
Disco Parlophon 13.200-A, matriz 3733
Gravado em 1930 e lançado em setembro de 1930



POR QUÊ?


Selo de Por Quê?
Arquivo Dijalma Candido


Samba Olímpio Bastos
Acompanhamento de Simão nacional Orquestra
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Disco Parlophon 13.200-B, matriz 3739
Gravado em 1930 e lançado em setembro de 1930
Obs. Lançado por Zaíra Cavalcanti na revista musical Pau Brasil, de 1930.




SEM QUERER...

Selo de Sem Querer...
Arquivo Dijalma Candido

Samba canção de Ary Barroso, Marques Porto e Luís Peixoto
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento da Orquestra Guanabara
Disco Parlophon 13.255-B, matriz T-16
Lançado em janeiro de 1931



QUANDO ESCUTO VOCÊ CANTAR


Selo de Quando Escuto Você Cantar
Arquivo Dijalma Candido

Fox de Milton Amaral e Jerônimo Cabral
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento da Orquestra Copacabana
Disco Odeon 10.951-A, matriz 4529
Gravado em 20 de outubro de 1932 e lançado em janeiro e fevereiro de 1933




NOSSAS CORES

Selo de Nossas Cores
Arquivo Dijalma Candido

Samba de Oscar Cardona
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento da Orquestra Copacabana
Disco Odeon 10.984-A, matriz 4524
Gravado em outubro de 1932 e lançado em março de 1933
Obs. Na verdade é uma marcha.












Agradecimento a Dijalma Candido e ao Arquivo Nirez










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