Há
43 anos falecia a cantora e atriz ZAÍRA CAVALCANTI, uma das mais belas e
talentosas artistas de nosso teatro de revista e nossa música popular
brasileira.
Zaíra
Baltazar Cavalcanti nasceu em Santa Maria (Rio Grande do Sul), em 01 de outubro
de 1913. Era filha do militar pernambucano Otávio Cavalcanti e de Conceição
Baltazar.
Zaíra
Cavalcanti iniciou sua carreira ainda no Rio Grande do Sul, indo ainda muito
jovem para o Rio de Janeiro.
Tornou-se
estrela de nosso Teatro de Revista aos 16 anos de idade, nos primeiros dias de
janeiro de 1930, ao lançar na revista Dá Nela, no Theatro Recreio, a
marchinha da autoria de Ary Barroso com o mesmo título. A partir de então,
passaria a ser uma de nossas principais artistas do teatro musicado.
Seja
em excursões pela Argentina, Chile, ou nas gravações em discos, no cinema e,
principalmente, nos palcos, Zaíra Cavalcanti deixou sua marca como artista
talentosa, ornada por uma grande beleza física e carisma.
Em
1940, em uma dessas viagens à Argentina, participou do filme Luna de Miel em Río,
dirigido por Manuel Romero, atuando ao lado de Niní Marshall, Tito Lusiardo e
Enrique Serrano, interpretando o personagem Mercedes. No filme, ela canta
o samba Eu Tenho Tudo, com letra de sua autoria.
Por
ocasião da divulgação do filme no Brasil, a revista A Scena Muda fez uma
reportagem sobre Zaíra Cavalcanti e seu “espírito aventureiro”, falando sobre
sua experiência no cinema argentino. Na matéria, ela posa ao lado do ator
Milton Marinho.
Já
trouxemos todas as gravações de Zaíra Cavalcanti, acompanhadas de fotos dos
selos dos discos, em algumas postagens:
Zaíra
Cavalcanti e suas gravações - http://bit.ly/2xaEv6i
Zaíra Cavalcanti (Uma Estrela Brasileira)
Parte I: https://bit.ly/3bRNtcn
Parte II: https://bit.ly/3n6MXws
Vamos
conferir alguns trechos da reportagem, com meus comentários, e algumas gravações
de Zaíra Cavalcanti. Obs. Pontuações e acentuações originais.
O ESPÍRITO AVENTUREIRO DE ZAÍRA
CAVALCANTI
A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940. Arquivo Marcelo Bonavides |
"Acha-se atualmente no Rio a artista conterrânea Zaíra Cavalcanti, gaúcha de Santa Maria, muito conhecida desta capital, onde viveu desde garota.
Zaíra
é uma das principais figuras do filme argentino Luna de Miel en Río, da
Lumilton, dirigido por Manuel Romero, incontestavelmente uma das mais completas
de direção de filmes no Novo Mundo".
O
ator e galã Milton Marinho, que atuou em Romance Proibido, era um fã e
amigo de Zaíra. Ao saber que a revista faria uma matéria sobre ela, se
prontificou a acompanhá-la.
"Desde
muito criança que nossa conterrânea mostrou possuir um espírito acentuadamente
aventureiro e livre. Com uma vocação representativa, doutou-a a natureza de
bonita voz, que ela tem aproveitado sempre na divulgação de nossa música
popular por todos os países da América do Sul".
Em
Buenos Aires o público e meio artístico lhe prestigiava resultando, segundo a
publicação, em um filme, rodado em 1936, Rádio-Bar.
A
matéria afirma que em 1938 Zaíra Cavalcanti empreendeu sozinha uma excursão
pelo Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Venezuela..., "cantando músicas
brasileiras e sul-americanas", sempre com muito sucesso. Só não foi mais
além "porque as saudades já eram tantas que ela sentia os olhos cheios
d´água ao ler nos jornais o nome do Brasil, em correspondências
telegráficas".
Depois,
filmou A Canção do Mundo e, finalmente, Luna de Miel
en Río, de 1940, onde teve um papel mais importante, interpretando a
personagem Mercedes. Todos esses filmes foram rodados na Argentina.
Nesse último, ela cantou o samba Eu Tenho Tudo, com letra de sua autoria
e música de Ciamarelli. Zaíra aparece desenvolta cantando e é uma rara
oportunidade de vermos seu talento, carisma e um gostoso sapateado.
Eu Tenho Tudo
Pela rua da vida eu
esperava
O amor que minh´alma
vive ornando
No caminho minha
esperança ia ficando
E meu sonho em
realidade se tornou
Minha tristeza fugiu
Veio a alegria
E desde então
vivo cantando o meu
amor
Pela rua da vida eu
esperava
E pela rua da vida
apareceu
Minha vida hoje
é felicidade
Pois tenho tudo com
seu amor
Eu tenho tudo
Eu tenho tudo
A sua boca para
beijar-me
As suas mãos para
acariciar-me
Tenho seus olhos para
olhar-me
Suas palavras, seu
sorriso e seus beijos
É o paraíso do meu
viver
Em Luna de Miel en Río, ela aparece ao lado de Niní Marshal, grande
atriz e comediante argentina.
Zaíra
Cavalcanti "é profundamente brasileira e, se possui atualmente sotaque
platino na pronuncia, deve-o aos cinco ou seis anos de convivência com os povos
de língua hispano-americana; mas isso não lhe diminui o amor ao Brasil, o seu
entusiasmo por tudo o que é nosso".
Por
todos os países que andou, a cantora teve a melhor impressão. Também teve a
satisfação de sempre ouvir elogios ao nosso País.
Zaíra
Cavalcanti cultivava um hobby interessante: o estudo da língua Guarany.
Ela
era apaixonada por essa língua, dedicando carinhosamente horas de seu
tempo procurando aperfeiçoar-se, mesmo convivendo longe das zonas onde o idioma
era falado. No Paraguai foi o que mais a prendeu; essa língua de alguns dos
nossos primeiros habitantes, "dotada de uma sintaxe aglutinada e rica de
expressão". O Paraguai era "um extenso curso dialectal" para
ela, "concorrendo vitoriosamente com o castelhano, o que torna o Paraguai
a unica nação bilíngue deste continente".
Em
dezembro de 1940, Zaíra fazia sua rentrée ansiosamente esperada no
Theatro Recreio.
A
reportagem ainda desejava que o talento da artista fosse aproveitado no cinema
brasileiro.
Para
ela, a indústria cinematográfica de Buenos Aires era realidade absoluta, com estúdios
completos, muito dinheiro e excelentes artistas profissionais. Luna de
Miel en Río foi quase todo rodado nos estúdios da Lumilton, sendo
dirigido por Manuel Romero, tendo as filmagens durado um mês e treze dias e
custado, em moeda brasileira, ao câmbio da época, cerca de 1500 contos.
Dentre
os artistas do Cinema Argentino, Zaíra admirava vários, destacando
"Catita", personagem criado por sua colega Niní Marshall e
protagonista de vários filmes de sucesso, Libertad Lamarque, Tito Lusiardo,
Fernando Borel, Muiño ...
Até
a data da reportagem, o momento mais sensacional de sua vida havia sido em 02
de agosto de 1939, quando ela recebeu em Montivedéu o convite da Lumilton para
integrar o cast de Luna de Miel en Río, uma boa e positiva
propaganda do Rio de Janeiro, ao contrário de Hollywood e seu Rio fantasioso...
A
reportagem terminava com Zaíra Cavalcanti expressando admiração com as
instalações da Cinédia que, para ela, em nada devia às melhores de Buenos
Aires.
ZAÍRA CAVALCANTI e MILTON MARINHO em um café na Cinelândia.
A Scena Muda, 17 de dezembro de 1940.
Arquivo Marcelo Bonavides
|
Fonte:
A
Scena Muda nº 1030, Arquivo Marcelo Bonavides.
GRAVAÇÕES DE ZAÍRA CAVALCANTI
CANÇÃO
DOS INFELIZES
Selo de Canção dos Infelizes Arquivo Dijalma Candido |
Canção de Ernesto dos Santos (Donga), Luís Peixoto
e Marques Porto
Gravada por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento
da Orquestra Pan American, sob a direção de Simon Bountman
Disco
Odeon 10.611-B, matriz 3547-1
Lançado
em junho de 1930
ORGIA
Selo de Orgia Arquivo Dijalma Candido |
Samba
de A. Neves e Luís Peixoto
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento
de Simão nacional Orquestra
Disco
Parlophon 13.200-A, matriz 3733
Gravado
em 1930 e lançado em setembro de 1930
POR
QUÊ?
Selo de Por Quê? Arquivo Dijalma Candido |
Samba Olímpio Bastos
Acompanhamento
de Simão nacional Orquestra
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Disco
Parlophon 13.200-B, matriz 3739
Gravado
em 1930 e lançado em setembro de 1930
Obs.
Lançado por Zaíra Cavalcanti na revista musical Pau Brasil, de
1930.
SEM
QUERER...
Selo de Sem Querer... Arquivo Dijalma Candido |
Samba
canção de Ary Barroso, Marques Porto e Luís Peixoto
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento
da Orquestra Guanabara
Disco
Parlophon 13.255-B, matriz T-16
Lançado
em janeiro de 1931
QUANDO
ESCUTO VOCÊ CANTAR
Selo de Quando Escuto Você Cantar Arquivo Dijalma Candido |
Fox de Milton Amaral e Jerônimo Cabral
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento
da Orquestra Copacabana
Disco
Odeon 10.951-A, matriz 4529
Gravado
em 20 de outubro de 1932 e lançado em janeiro e fevereiro de 1933
NOSSAS
CORES
Selo de Nossas Cores Arquivo Dijalma Candido |
Samba
de Oscar Cardona
Gravado por Zaíra Cavalcanti
Acompanhamento
da Orquestra Copacabana
Disco
Odeon 10.984-A, matriz 4524
Gravado
em outubro de 1932 e lançado em março de 1933
Obs. Na verdade é uma marcha.
Agradecimento a Dijalma Candido e ao Arquivo Nirez
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