PEPA DELGADO
"A ti, querido pae meu amigo. Tua filha, Pepa Delgado Rio 23 - 10 - 1913" Arquivo Marcelo Bonavides |
Há 133 anos nascia a atriz e cantora PEPA DELGADO.
Pepa
Delgado nasceu em Piracicaba (SP) em 21 de julho de 1886. Era filha da
sorocabana Ana Alves e do espanhol Lourenço Delgado.
Seu
pai era toureiro na Espanha e continuou suas atividades artísticas com touros
no Brasil, apresentando-se em São Paulo, no interior paulista e pelo sul do
país. Teve algum sucesso nessa carreira, como os jornais mostram.
Pepa
Delgado surgiu como atriz fazendo pequenos papeis em peças da Companhia Dias Braga,
no Rio de Janeiro, no primeiro semestre do ano de 1900. Ainda nesse ano, em
julho, estava com a companhia excursionando pelo Nordeste e Norte do país, com
um variado repertório de peças.
PEPA DELGADO Arquivo Marcelo Bonavides |
Sua
grande oportunidade veio em 1904, e ela soube bem aproveitar. Com alguns papeis
de destaque na peça Cá e Lá, de Tito Martins e Bandeira de Gouvea, ela
foi chamada a substituir uma das principais atrizes da peça, a famosa Aurélia
Delorme, interpretando onze personagens.
Sua
atuação foi bem recebida pela imprensa e pelo público, aumentando sua
popularidade. Nesse mesmo ano, ela gravaria seus primeiros discos pela Casa
Edison, registrando o repertório de Cá e Lá e da outra revista em que
atuou com sucesso, Avança!, de Álvaro Peres e Álvaro Colás. Nesse ano,
gravaria alguns sucessos como O Maxixe Aristocrático (de José Nunes), ao lado do ator
Alfredo Silva, e O Abacate (de Chiquinha Gonzaga).
Selo de O Abacate, de Chiquinha Gonzaga. Arquivo Marcelo Bonavides |
Selo de O Quindim da Moda. Arquivo Nirez |
Selo de O Vendeiro e a Mulata. Arquivo Marcelo Bonavides |
A
partir de então, sua carreira continuou colhendo os frutos de sua dedicação e
estudo, conselhos que recebeu de pessoas como Arthur Azevedo. Tal empenho não
foi em vão, pois no começo da década de 1910 ela era uma das mais famosas e
requisitadas atrizes-cantoras de seu tempo. Brilhou por alguns anos no Theatro
São José, lançando peças antológicas, como Forrobodó, A Gatinha
Branca, Manobras do Amor, Morro da Favela…
Pepa Delgado Theatro & Sport 02 de maio de 1914 http://memoria.bn.br |
Era
uma profissional em função de sua arte e, ao que parece, não era deslumbrada
com o sucesso. Em seus altos e baixos na carreira, sempre procurou trabalhar
dignamente seja em grandes teatros ou em locais mais simples. Trabalhando com sua
companhia ou com a companhia de outras pessoas, sempre estava comprometida com
os novos desafios e só abandonou sua carreira artística quando a gravidez de
seu único filho já estava avançada.
Pepa Delgado, 1918. http://memoria.bn.br |
Após
unir-se ao militar Almerindo Álvaro de Moraes, e com o nascimento de seu filho
Heitor, Pepa Delgado passou a se dedicar à família, porém, sem nunca esquecer
os amigos artistas, em especial os que estavam em início de carreira, ajudando-os.
Ela
faleceria em 11 de março de 1945, aos 58 anos de idade, vitimada por uma hepatite.
Pepa
Delgado tem sido um personagem constante em minhas pesquisas musicais, que tem
trazido muitas alegrias e conquistas, fazendo com que eu tenha um carinho
especial por sua pessoa, quer como artista, quer como mulher à frente de seu
tempo.
Ao
me formar em História, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), defendi a
monografia “Pepa Delgado: A trajetória de uma atriz cantora (1886 – 1945)”,
onde procurei centralizar Pepa Delgado nas discussões sobre trajetórias de
vidas, gênero e música popular. Dessa forma, tracei uma biografia sobre ela,
trabalho que não terminou ainda, pois, as fontes ora são poucas, ora vão
surgindo de forma inesperada. Foi dessa forma que, já no final do processo de
escrita da monografia, descobri que sua data de nascimento não era 1887 como
muitos pesquisadores (inclusive eu) divulgávamos, e sim o ano de 1886. A nova
data consta em seu registro de casamento, dando a cidade de Piracicaba (como já
prevíamos) como o local de seu nascimento. Mesmo encontrando somente esse
documento indicando o ano de 1886 como seu nascimento, pude observar que seu
atestado de óbito indicava a idade de 58 anos quando ela faleceu. Tendo
falecido em 11 de março de 1945 e fazendo aniversário em 21 de julho, o ano de
1886 novamente se encaixava em nossas contas.
Diante
disso, passamos a adotar a nova data como sendo de seu nascimento.
Falar
sobre Pepa Delgado é também relembrar várias outras suas contemporâneas que,
assim como ela, estavam enfrentando os obstáculos que as mulheres artistas do
começo do século XX enfrentavam: Júlia Martins, Cecília Porto, Laura Godinho,
Risoletta, Nina Teixeira, Medina de Souza, Cinira Polonio, Virginia Aço, Maria
Lino, entre tantas outras.
Ela
e suas colegas, apesar do ambiente machista e preconceituoso com para com as
atrizes (e muitos ataques vinham da própria imprensa) atravessaram suas vidas
exibindo-se nos palcos, entretendo grandes plateias e vivendo a cada
apresentação diversos personagens, com direito a cantar ao vivo, acompanhadas
por orquestras, em um desgaste físico tremendo. Lembremo-nos que as
apresentações se davam todos os dias, três vezes por noite (quando não havia
matinês).
Meu
intuito ao pesquisar sobre Pepa Delgado ou outra artista desse tempo (final do
século XIX e início do século XX) é justamente procurar conhecer o trabalho e a
contribuição que cada uma deu à nossa cultura, muitas vezes dedicando uma vida
inteira a ela. Não importa se passaram cem anos ou mais de suas atuações, o
valor de cada vida pesquisada, de cada contribuição prestada é riquíssimo e de
muita valia para entendermos nossa história cultural.
É
um trabalho/luta que fazemos questão de continuar e a nos dedicar cada vez
mais.
O ABACATE
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga, Tito Martins e Gouveia.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.059, matriz R-379
Lançado em 1904
Da Revista “Cá e Lá”
O QUINDIM DA MODA
Cançoneta sobre a melodia de O Angú do Barão, de Ernesto de Souza.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon 40.487
Lançado em 1906
O VENDEIRO E A MULATA
Dueto
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.599
Lançado em 1906
NO SAMBA
De José Nunes, mesma melodia de “A Pimentinha”, lançada em 1913 por Risoletta e Eduardo das Neves.
Gravado por Pepa Delgado e Mário Pinheiro
Acompanhamento de Orquestra
Disco Columbia Record 11.646
Lançado em 1910
O VATAPÁ (DO MAXIXE)
Maxixe de Paulino Sacramento
Gravado por Pepa Delgado e Mário Pinheiro
Acompanhamento de Orquestra
Disco Columbia B-31, matriz 11.644
Lançado em 1912
Da Revista “O Maxixe”
Já
homenageamos Pepa Delgado em outras ocasiões:
PEPA
DELGADO - 132 ANOS - http://bit.ly/30MrU6w
PEPA
DELGADO - 130 ANOS: http://bit.ly/2u1gGwo
PEPA
DELGADO - 129 ANOS: http://bit.ly/2SWUqOj
PEPA
DELGADO - 128 ANOS: http://bit.ly/2XRSMS2
PEPA
DELGADO, os 126 anos da primeira grande cantora brasileira: http://bit.ly/2T1GJhm
PEPA
DELGADO, 125 anos: http://bit.ly/2F6TmUF
PEPA
DELGADO - 74 ANOS DE SAUDADE DE UMA FASCINANTE ARTISTA - http://bit.ly/2Ur5AMV
PEPA
DELGADO - 73 ANOS DE SAUDADE: http://bit.ly/2XPBxAF
PEPA
DELGADO - 72 ANOS DE SAUDADE: http://bit.ly/2TwMY1y
PEPA
DELGADO - 71 ANOS DE SAUDADE - http://bit.ly/2Z5dzBu
PEPA
DELGADO, 70 ANOS DE SAUDADE - http://bit.ly/2M2Kwek
PEPA
DELGADO, 69 ANOS DE SAUDADE - http://bit.ly/2Z6wR9U
PEPA
DELGADO, 68 anos de Saudade: http://bit.ly/2HbVGvB
PEPA
DELGADO, ARACY CÔRTES E A PETROPOLITANA: http://bit.ly/2XRM6TF
PEPA
DELGADO E SEU PAI: http://bit.ly/2VPWhpX
AS
LARANJAS DA SABINA: http://bit.ly/2u1KgSC
Agradecimento ao Arquivo Nirez
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