Faleceu
na manhã deste domingo, 28 de julho, a atriz RUTH DE SOUZA, aos 98 anos de
idade.
Desde
o início da semana passada, ela estava internada no Centro de Tratamento
Intensivo do Hospital Copa D´Or, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro,
devido a uma pneumonia.
Ela
estava com mais de 70 anos de carreira artística.
Ruth
Pinto de Souza nasceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1921.
Em
criança, viveu com a família em uma fazenda em Minas Gerais, mas aos nove anos
de idade perdeu o pai, retornando com a mãe para o Rio de Janeiro, indo morar
em uma vila de Copacabana.
Ingressou
no Teatro Experimental do Negro em 1945, que era liderado por Abadias do
Nascimento.
Pioneira,
Ruth de Souza abriu caminhos para o artista negro no Brasil, sendo a primeira
atriz negra a atuar no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a
peça O Imperador Jones, de Eugene O´Neill. Recebendo uma bolsa de
estudos da Fundação Rockefeller, morou um ano nos Estados Unidos, onde estudou
na Universidade de Harvard e na Academia Nacional do Teatro.
Sua
estreia no cinema aconteceu em 1948, em Terra Violenta (baseado
no romance Terras do Sem-Fim, de Jorge Amado). Participou de vários
filmes, conseguindo a consagração nacional através de Sinhá Moça,
filme de 1953, onde, mais uma vez foi pioneira: por seu desempenho, seria a
primeira atriz brasileira indicada ao prêmio de melhor atriz em um festival
internacional de cinema (festival de Veneza em 1954).
Também
participou de radionovelas e em teleteatros da TV Tupi. Nos anos 60, fez
sucesso na televisão atuando na novela A Deusa Vencida (1965)
de Ivani Ribeiro, exibida pela TV Excelsior. Ao integrar o elenco de artistas
da TV Globo, em 1968, mais uma conquista: torna-se a primeira atriz negra a
protagonizar uma novela, A Cabana do Pai Tomás, de 1969. Desde
então é contratada da emissora carioca, aparecendo em produções como a
telenovela Sinhá Moça, de 1986, onde interpretou o personagem Balbina,
irmã de Virgínia (Bá), interpretada por Chica Xavier. Nesse
trabalho, Ruth de Souza mais uma vez mostrou seu talento, em cenas ao lado de
Grande Otelo.
Aos
96 anos, no início de 2018, após oito anos afastada das telas, Ruth de Souza
participou do primeiro episódio da nova temporada de Mister Brau,
ao lado de Lázaro Ramos.
Seu
último trabalho foi na minissérie Se Eu Fechar Os Olhos Agora, em 2019.
Também em 2019, Ruth de Souza foi homenageada pela Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
Ruth de Souza e a escritora Carolina Maria de Jesus. Favela Canindé, São Paulo, 1961. g1.globo.com
NAPOLEÃO TAVARES "Em cima - o maestro napoleão Tavares, uma revelação na arte dificil de dirigir orchestras modernas, arte que fez famoso Paul Whiteman. PRA 9 inclue Napoleão Tavares sempre em seus programmas" O Cruzeiro, 1934. http://memoria.bn.br
Vamos relembrar o regente e compositor NAPOLEÃO TAVARES.
Napoleão Tavares nasceu em 23 de julho de 1892, em Ubá (MG). Ele se transferiu para o Rio de Janeiro no começo da década de 1910. Também era trompetista e arranjador.
Na então capital do país, Rio de Janeiro, deu início à sua carreira como trompetista. Em 1912, fez sua primeira gravação, registrando em solo de piston a valsa Marta, de Elias Amaral, sendo acompanhado pela Banda Faulhaber, em disco Favorite Record.
No final da década de 1920, formou a Orquestra Colbáz (grupo de estúdio da gravadora Columbia), reunindo importantes instrumentistas da época como Gaó, Zé Carioca, Jonas Aragão, entre outros. Com a Orquestra Colbáz, Napoleão Tavares gravou clássicos de Zequinha de Abreu pela primeira vez como a valsa Branca e os choros Tico Tico no Fubá e Os Pintinhos no Terreiro, em 1931. Em 1930, gravou o choro Pery, de Jonas Aragão, na Columbia, sendo acompanhado pelo Jazz Band Columbia.
Em 1935, Napoleão Tavares era diretor de orquestras da Rádio Mayrink Veiga e o locutor César Ladeira passou a chamar o seu grupo de Napoleão Tavares e Seus Soldados Musicais. Esse grupo acompanharia vários cantores em importantes gravações, como Sílvio Caldas em As Pastorinhas, marcha de Noel Rosa e João de Barro, sucesso em 1937, e Pirolito, marcha de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada por Emilinha Borba e Nilton Paz em 1939, entre outros acompanhamentos.
CARMELITA PAREDA "Carmelita Pareda, interprete de canções mexicanas, reingressou no 'broadcasting' carioca. Actúa no programma de Napoleão Tavares, na Cruzeiro do Sul". Fon Fon, 1939. http://memoria.bn.br
Suas primeiras composições começaram a ser gravadas no começo da década de 1930, como o choro Recordando-te, registrado em 1930 na Columbia pela Columbia Brasil Orquestra. Ainda esse ano Francisco Alves gravaria o samba Negando um Lamento, pela Parlophon e Paraguassu gravaria a embolada Paraguassu se Diverte, pela Columbia.
Em 1931, Helena Pinto de Carvalho gravou o belíssimo samba canção Num Sorriso dos Teus, de Napoleão Tavares e Jayme Redondo, onde há um início romântico e, depois, uma transição para um sambinha arreliado.
Aracy Côrtes e Alberto Ribeiro gravariam a cena típica, Velha Baiana, de Napoleão Tavares e Alberto Ribeiro, em uma representação de como seria o quotidiano de uma vendedora de quitutes pelas ruas do Rio de Janeiro. Disco Columbia lançado em 1932.
PEPA DELGADO "A ti, querido pae meu amigo. Tua filha, Pepa Delgado Rio 23 - 10 - 1913" Arquivo Marcelo Bonavides
Há 133 anos nascia a atriz e cantora PEPA DELGADO.
Pepa
Delgado nasceu em Piracicaba (SP) em 21 de julho de 1886. Era filha da
sorocabana Ana Alves e do espanhol Lourenço Delgado.
Seu
pai era toureiro na Espanha e continuou suas atividades artísticas com touros
no Brasil, apresentando-se em São Paulo, no interior paulista e pelo sul do
país. Teve algum sucesso nessa carreira, como os jornais mostram.
Pepa
Delgado surgiu como atriz fazendo pequenos papeis em peças da Companhia Dias Braga,
no Rio de Janeiro, no primeiro semestre do ano de 1900. Ainda nesse ano, em
julho, estava com a companhia excursionando pelo Nordeste e Norte do país, com
um variado repertório de peças.
PEPA DELGADO Arquivo Marcelo Bonavides
Sua
grande oportunidade veio em 1904, e ela soube bem aproveitar. Com alguns papeis
de destaque na peça Cá e Lá, de Tito Martins e Bandeira de Gouvea, ela
foi chamada a substituir uma das principais atrizes da peça, a famosa Aurélia
Delorme, interpretando onze personagens.
Sua
atuação foi bem recebida pela imprensa e pelo público, aumentando sua
popularidade. Nesse mesmo ano, ela gravaria seus primeiros discos pela Casa
Edison, registrando o repertório de Cá e Lá e da outra revista em que
atuou com sucesso, Avança!, de Álvaro Peres e Álvaro Colás. Nesse ano,
gravaria alguns sucessos como O Maxixe Aristocrático (de José Nunes), ao lado do ator
Alfredo Silva, e O Abacate (de Chiquinha Gonzaga).
Selo de O Abacate, de Chiquinha Gonzaga. Arquivo Marcelo Bonavides
Selo de O Quindim da Moda. Arquivo Nirez
Selo de O Vendeiro e a Mulata. Arquivo Marcelo Bonavides
A
partir de então, sua carreira continuou colhendo os frutos de sua dedicação e
estudo, conselhos que recebeu de pessoas como Arthur Azevedo. Tal empenho não
foi em vão, pois no começo da década de 1910 ela era uma das mais famosas e
requisitadas atrizes-cantoras de seu tempo. Brilhou por alguns anos no Theatro
São José, lançando peças antológicas, como Forrobodó, A Gatinha
Branca, Manobras do Amor, Morro da Favela…
Era
uma profissional em função de sua arte e, ao que parece, não era deslumbrada
com o sucesso. Em seus altos e baixos na carreira, sempre procurou trabalhar
dignamente seja em grandes teatros ou em locais mais simples. Trabalhando com sua
companhia ou com a companhia de outras pessoas, sempre estava comprometida com
os novos desafios e só abandonou sua carreira artística quando a gravidez de
seu único filho já estava avançada.
Pepa Delgado, 1918.
http://memoria.bn.br
Após
unir-se ao militar Almerindo Álvaro de Moraes, e com o nascimento de seu filho
Heitor, Pepa Delgado passou a se dedicar à família, porém, sem nunca esquecer
os amigos artistas, em especial os que estavam em início de carreira, ajudando-os.
Pepa Delgado em seu
último aniversário. Foto tirada em 21 de julho de 1944,
quando ela completava 58 anos de idade. Foto tirada por seu filho, Heitor,
em frente à casa da família. Arquivo Marcelo Bonavides.
Ela
faleceria em 11 de março de 1945, aos 58 anos de idade, vitimada por uma hepatite.
Pepa
Delgado tem sido um personagem constante em minhas pesquisas musicais, que tem
trazido muitas alegrias e conquistas, fazendo com que eu tenha um carinho
especial por sua pessoa, quer como artista, quer como mulher à frente de seu
tempo.
Ao
me formar em História, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), defendi a
monografia “Pepa Delgado: A trajetória de uma atriz cantora (1886 – 1945)”,
onde procurei centralizar Pepa Delgado nas discussões sobre trajetórias de
vidas, gênero e música popular. Dessa forma, tracei uma biografia sobre ela,
trabalho que não terminou ainda, pois, as fontes ora são poucas, ora vão
surgindo de forma inesperada. Foi dessa forma que, já no final do processo de
escrita da monografia, descobri que sua data de nascimento não era 1887 como
muitos pesquisadores (inclusive eu) divulgávamos, e sim o ano de 1886. A nova
data consta em seu registro de casamento, dando a cidade de Piracicaba (como já
prevíamos) como o local de seu nascimento. Mesmo encontrando somente esse
documento indicando o ano de 1886 como seu nascimento, pude observar que seu
atestado de óbito indicava a idade de 58 anos quando ela faleceu. Tendo
falecido em 11 de março de 1945 e fazendo aniversário em 21 de julho, o ano de
1886 novamente se encaixava em nossas contas.
Diante
disso, passamos a adotar a nova data como sendo de seu nascimento.
Falar
sobre Pepa Delgado é também relembrar várias outras suas contemporâneas que,
assim como ela, estavam enfrentando os obstáculos que as mulheres artistas do
começo do século XX enfrentavam: Júlia Martins, Cecília Porto, Laura Godinho,
Risoletta, Nina Teixeira, Medina de Souza, Cinira Polonio, Virginia Aço, Maria
Lino, entre tantas outras.
Ela
e suas colegas, apesar do ambiente machista e preconceituoso com para com as
atrizes (e muitos ataques vinham da própria imprensa) atravessaram suas vidas
exibindo-se nos palcos, entretendo grandes plateias e vivendo a cada
apresentação diversos personagens, com direito a cantar ao vivo, acompanhadas
por orquestras, em um desgaste físico tremendo. Lembremo-nos que as
apresentações se davam todos os dias, três vezes por noite (quando não havia
matinês).
Meu
intuito ao pesquisar sobre Pepa Delgado ou outra artista desse tempo (final do
século XIX e início do século XX) é justamente procurar conhecer o trabalho e a
contribuição que cada uma deu à nossa cultura, muitas vezes dedicando uma vida
inteira a ela. Não importa se passaram cem anos ou mais de suas atuações, o
valor de cada vida pesquisada, de cada contribuição prestada é riquíssimo e de
muita valia para entendermos nossa história cultural.
É
um trabalho/luta que fazemos questão de continuar e a nos dedicar cada vez
mais.
O ABACATE
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga, Tito Martins e Gouveia.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.059, matriz R-379
Lançado em 1904
Da Revista “Cá e Lá”
O QUINDIM DA MODA
Cançoneta sobre a melodia de O Angú do Barão, de Ernesto de Souza.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon 40.487
Lançado em 1906
O VENDEIRO E A MULATA
Dueto
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.599
Lançado em 1906
NO SAMBA
De José Nunes, mesma melodia de “A Pimentinha”, lançada em 1913 por Risoletta e Eduardo das Neves.