ZAÍRA DE OLIVEIRA - A GRANDE DAMA DA CANÇÃO BRASILEIRA
ZAÍRA DE OLIVEIRA
Vamos relembrar a soprano brasileira ZAÍRA DE OLIVEIRA.
Nascida em 01 de fevereiro de 1900, Zaíra de Oliveira foi uma das mais importantes e belas vozes de nossa música.
Algumas fontes dão como 1891 o ano de seu nascimento, porém, em uma conversa com sua filha, d. Lygia, em julho de 2008, ela me informou ser 1900.
Iniciando seus estudos no final da década de 1910, em 1920 já se apresentava no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, por ocasião do 52º Concerto Sinfônico, cantando trechos de óperas de Carlos Gomes, sendo acompanhada pelo maestro Francisco Braga.
Correio da Manhã, 21 de maio de 1920. http://memoria.bn.br
A crítica elogiou bastante Zaíra de Oliveira, então com 20 anos de idade. O jornal Correio da Manhã, de 24 de maio de 1920, assinalava: “O programma de hontem despertava especial interesse artistico, pois continha dois numeros em primeira audição e apresentava uma cantora nacional, ainda novata, mas rica de aptidões para a carreira lyrica. [...] A cantora chama-se senhorita Zaíra de Oliveira. [...] A senhorita Zaí de Oliveira cantou a aria de Ilara do ‘Schiavo’, com muito sentimento e bella dicção. Um pouco mais de dramaticidade faria talvez melhormente o estado psychologico de uma indigena sonhadora, apaixonada, mas sempre indigena e, pelo tanto, maneirosa. O publico fez uma ovação á gentil cantora e pediu insistentemente, mas inutilmente, a repetição do trecho”.
Mesmo se destacando como cantora lírica, Zaíra de Oliveira continuava tomando aulas de canto, como indica o jornal Correio da Manhã, de 21 de maio de 1921, informando que no dia 22 de maio de 1921 a sra. Angela Vargas Barbosa Vianna, diseuse e professora de canto, abriria o seu salão de arte para apresentação de um grupo de suas melhores alunas, entre elas, Zaíra de Oliveira. O jornal afirmava que algumas delas, além de alunas, também já eram professoras. Realizada em Botafogo, às 16 horas, a festa de arte teve o concurso do maestro Eduardo Souto.
O Fluminense, 06 setembro 1921. http://memoria.bn.br
Em 15 de novembro de 1921, Zaíra de Oliveira participava do concerto em benefício do Instituto de Protecção e Assistencia Á Infancia, realizado às 16 horas no salão do Jornal do Commercio. Na ocasião, ela cantaria Le Cid, de Massenet, e Salvatore Rosa, de Carlos Gomes.
Ao terminar seus estudos no Instituto nacional de Música, no final de 1921 recebeu a Medalha de Ouro, tendo concluído todas as fases do curso com distinção. Isso lhe daria a oportunidade de concorrer a um prêmio que consistia em uma viagem à Europa, com bolsa de estudos para se aprimorar no canto lírico.
Correio da Manhã, 22 de novembro de 1921, p.04. http://memoria.bn.br
Ela concorreu e ganhou o prêmio. Realizado em 30 de dezembro de 1921, às 15 horas, no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, Zaíra de Oliveira obteve o primeiro prêmio por unanimidade de votos da comissão julgadora. O jornal Correio da Manhã, de 31 de dezembro de 1921, p. 03, noticia o fato, informando que a senhorita Emery de Carvalho e Souza também obteve um primeiro prêmio. Seria também uma bolsa de estudo na Europa? O fato é que Zaíra de Oliveira não recebeu o prêmio conquistado. O motivo? Ser negra. Essa foi a conclusão a que muitos chegaram. Quem conta o caso é o cronista Jota Efegê em um artigo publicado em O Globo, em 28 de agosto de 1977, intitulado Soprano Zaíra de Oliveira, A Marian Anderson do Brasil. Um grande e absurdo crime que, infelizmente, ainda persiste nos dias atuais.
Correio da Manhã, 31 de dezembro de 1921. http://memoria.bn.br
Como disse Jota Efegê, Zaíra de Oliveira era uma pessoa simples, “despida de vaidade que a medalha de ouro podia lhe provocar”. Talentosa e com uma voz magnífica, Zaíra de Oliveira cantava óperas com distinção, mas não se esquecia da música popular, gravando marchas e sambas, destacando-se em todos os ritmos.
Entre
suas festas artísticas, destaca-se a promovida pelo jornal Beira-Mar e um grupo
de admiradores, em 16 de junho de 1925, uma terça-feira, às 20h, no Copacabana
Palace. Antes de sua apresentação, foi exibido um filme. O evento contou também
com a participação de vários artistas, como a pianista Maria Amélia, a
violinista Odette Menezes de Oliveira, a soprano Altair Calheiros da Graça
Guigon, o tenor Frederico Rocha, os barítonos Gastão Formenti e Ignácio
Guimarães, o maestro Eduardo Souto e coro, e o poeta Catullo da Paixão
Cearense.
Muito
elogios ela recebeu da crítica do jornal, que informava que era intuito tornar
Zaíra de Oliveira conhecida da sociedade de Copacabana.
Na
ocasião, Zaíra de Oliveira interpretou Tosca, Aída, com Zizinha Costa, Dolor
Suprema e Lo Schiavo. “Com delicado sentimento cantou algumas doridas canções
brasileiras de Eduardo Souto, e melhor, encantadora mesmo, saiu-se dos
cateretês paulistas Chororó e Sarará”, relatou Beira-Mar em 21 de junho de
1925, ainda informando: “Houve muitos applausos, muitas corbeilles de flores
foram offerecidas a Zaira de Oliveira e o festival, cremos bem, agradou”.
ZAÍRA DE OLIVEIRA Beira-Mar, 21 de junho de 1925 p. 08
http://memoria.bn.br/
Sua estreia no disco aconteceu em 1925, quando lançou, pela Odeon Record, alguns discos pela Casa Edison, entre eles o famoso fox trot Cabeleira à la Garçonne, de Américo F. Guimarães e Pedro de Sá Pereira, que Margarida Max havia criado no teatro, em 1924, lançado a moda do Cabelo à la Garçonne. Ainda nesse ano, lançou mais quinze músicas, várias delas cantadas com Bahiano. Entre elas, destaco a belíssima canção de Eduardo Souto, Amargura, que seria regravada em 1932 por Jayme Vogeler.
Em 1926, ao lado de J. Gomes Jr. lançou a marcha Dondoca, que seria um dos sucessos do carnaval de 1927
Selo Dondoca Arquivo Gilberto Inácio Gonçalves
Na fase elétrica, Zaíra de Oliveira gravaria vários discos pela Odeon, Victor e Palophon. Alguns ao lado de Francisco Sena. Destaco nessa fase a Canção dos Infelizes, da autoria de Ernesto dos Santos (Donga) e Luís Peixoto, lançada por ela em 1931, mas que fora gravada em 1930 por Zaíra Cavalcanti. Elizeth Cardoso, décadas depois, também faria uma gravação desta composição. As interpretações das três cantoras são belíssimas.
Também integrou o trio vocal As Três Marquesas, ao lado de Alda Verona e Maria Branca Ortega. Elas gravaram Guarde a Última Valsa para Mim, valsa de Walter Hirsch e De Chocolat.
O amigo e pesquisador Luiz Antônio de Almeida nos apresentou uma importante nota do jornal Correio da Manhã, onde Zaíra de Oliveira participa, ao lado do grande Ernesto Nazareth, de uma irradiação da Rádio Clube, ocorrida em 30 de janeiro de 1929, uma quarta-feira.
Correio da Manhã, 30 de janeiro de 1929 http://memoria.bn.br/
Diario Carioca, 13 de setembro de 1930. http://memoria.bn.br
No início da década de 1930 ela casou-se com o compositor Ernesto dos Santos, o Donga. Poucos anos depois nasceu sua única filha, a futura historiadora Lygia Maria dos Santos.
Diario Carioca, 10 de janeiro de 1934, p. 07. http://memoria.bn.br
Diario de Noticias, 12 de maio de 1934, p. 08. http://memoria.bn.br
Lygia Maria em sua Primeira Comunhão. Revista A Noite Illustrada, 16 de fevereiro de 1943, p. 06. http://memoria.bn.br
Zaíra de Oliveira fez parte do Conjunto Tupy, ao lado de Yolanda Osório, J. B. de Carvalho, Francisco Sena e Herivelto Martins.
Chegou a gravar com Carmen Miranda, mas, sua voz quase não aparece na gravação de Sonhei que era Feliz, samba de Ary Barroso; provavelmente, para não abafar a voz de Carmen com a sua potente, tenha ficado longe do microfone, fazendo com que sua voz ficasse bem distante.
Radiocultura, 15 de julho de 1928, p.15. http://memoria.bn.br
Ao lado de J. B. de Carvalho (provavelmente) lançou um disco não comercial que fazia propaganda do corante Indanthren, vendido como prenda junto das fazendas de roupas. Seu nome não aparece no disco. (Faremos uma postagem sobre esse assunto).
Há poucos anos, o pesquisador Luiz Antônio de Almeida descobriu um disco raro de Zaíra de Oliveira, que não foi lançado nem trazia o nome de sua cantora. Trazia a gravação do samba Meu Pretinho, da autoria de Heitor dos Prazeres. Após uma dedicada pesquisa, Luís descobriu que se tratava de Zaíra de Oliveira.
O maestro e compositor Heitor Villa-Lobos convidou Zaíra de Oliveira para ser a coordenadora dos orfeões escolares que ele dirigia. Ela sempre foi merecedora de vários elogios.
Ao lado de Nascimento Silva e Bidu Sayão, Zaíra de Oliveira fez parte do Coral Brasileiro.
Entre suas alunas estava a futura cantora Jesy Barbosa, a quem Zaíra de Oliveira muito estimava. Jesy seria um cantora bem sucedida nos anos 30, com uma bela voz. Já idosa, ela ainda lembrava de Zaíra de Oliveira e suas aulas de canto. Quando Jesy Barbosa foi eleita Rainha da Canção Brasileira, em 1930, em concurso promovido pelo jornal Diario Carioca, Zaíra de Oliveira ficou em segundo lugar.
Zaíra de Oliveira era muito requisitada para cantar em casamentos.
O Malho, 11 de janeiro de 1934, p.11. http://memoria.bn.br
Atuando no rádio desde os anos 20, Zaíra de Oliveira sempre recebeu a atenção dos fãs e quando se afastou do meio artístico, era lembrada com saudade.
Illustração Moderna, 1924 http://memoria.bn.br
Jornal das Moças, 02 de outubro de 1924 http://memoria.bn.br
Illustração Moderna 1925 http://memoria.bn.br
Radiocultura, 15 de janeiro de 1929, p.21 http://memoria.bn.br
Fon Fon, 17 de maio de 1941, p.61 http://memoria.bn.br
Em 15 de agosto de 1951, ela faleceu vitimada por um ataque cardíaco.
Diário de Pernambuco, 17 de agosto de 1951, p.04 http://memoria.bn.br/
Diário de Notícias (RJ), 17 de agosto de 1951, p.08
http://memoria.bn.br/
Em 17 de agosto de 2018, Zaíra de Oliveira foi homenageada no Memorial Getúlio Vargas, que ganhou a sala Zaíra de Oliveira, em um evento repleto de talento e emoção: http://bit.ly/salazairadeoliveira
Já apresentamos uma postagem sobre a Canção dos Infelizes, da qual Zaíra de Oliveira participou: https://bit.ly/2EiaIjM
Vamos ouvir a bela voz de Zaíra de Oliveira em gravações realizadas entre 1925 e 1932. Dominando o canto lírico, Zaíra de Oliveira também se destacou na música popular, deixando várias páginas importantes para nossa história musical. Será sempre um prazer reviver essa grande Dama de nossa música.
GRAVAÇÕES DE ZAÍRA DE OLIVEIRA
Canto Solo
Gravações Mecânicas
CABELEIRA À LA GARÇONNE
https://discografiabrasileira.com.br/
Fox Trot de Américo F. Guimarães e Pedro de Sá Pereira
Gravado por Zaíra de Oliveira
Disco Odeon Record 122.768
Lançado em 1925
Obs. Da Revista “À LA GARÇONNE”, estrelada e lançada por Margarida Max em 1924.
LA MONTERIA
https://discografiabrasileira.com.br/
Fox Trot de J. Guerrero
Gravado por Zaíra de Oliveira
Disco Odeon Record 122.769
Lançado em 1925
AMARGURA
Canção de Eduardo Souto
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Odeon 122.772
Lançado em 1925
GUITARRADA
Fado Tango de Eduardo Souto
Gravado por Zaíra de Oliveira
Disco Odeon Record 122.773
Lançado em 1925
O TEU OLHAR
https://discografiabrasileira.com.br/
Marcha de Eduardo Souto
Gravada por Zaíra de Oliveira e Bahiano
Disco Odeon Record 122.798
Lançado em 1925
EU SÓ QUERO É CONHECER
https://discografiabrasileira.com.br/
Cateretê Carnavalesco de Eduardo Souto
Gravado por Zaíra de Oliveira e Bahiano
Disco Odeon Record 122.799
Lançado em 1925
DONDOCA
https://discografiabrasileira.com.br/
Marcha Carnavalesca de José Francisco de Freitas
Gravada por Zaíra de Oliveira e J. Gomes Jr.
Disco Odeon Record 123.250, matriz 1095
Lançado em 1926
Gravações Elétricas
É PRECISO FINGIR
Samba de Gentil Torres e Osvaldo Santiago
Gravado por Zaíra de Oliveira
Acompanhamento da Orquestra Guanabara
Disco Parlophon 13.279-A, matriz 131002
Lançado em janeiro de 1931
PODE BATER
Samba de Luperce Miranda e Osvaldo Santiago
Gravado por Zaíra de Oliveira
Acompanhamento da Orquestra Guanabara
Disco Parlophon 13.279-B, matriz 131003
Lançado em janeiro de 1931
SOLANGE
Valsa de A. Amorim Diniz (Duque)
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon 13.323-A, matriz 131145
Lançado em julho de 1931
LUA CULPADA
Canção de A. Amorim Diniz (Duque)
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon 13.323-B, matriz 131146
Lançado em julho de 1931
MEU PRETINHO
Museu da Imagem e do Som
Samba de Heitor dos Prazeres
Gravado por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon Matriz 131.149
Lançado em 1931
CANÇÃO DOS INFELIZES
Canção de Ernesto dos Santos (Donga) - Luís Peixoto
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon 13.361-A, matriz 131246
Lançado em 1931
FADO DA BOSSA
Fado de Ernesto dos Santos (Donga) e Augusto Calheiros
Gravada por Zaíra de Oliveira
Disco Parlophon 13.361-B, matriz 131245
Lançado em 1931
JÁ ANDEI
Batucada de Pixinguinha, Donga e João da Bahiana
Gravada por Zaíra de Oliveira e Francisco Sena
Acompanhamento do Grupo da Guarda Velha
Disco Victor 33.509-A, matriz 65300-2
Gravado em 24 de novembro de 1931 e lançado em janeiro de 1932
QUE QUERÊ
Macumba Carnavalesca de Pixinguinha, Donga e João da Bahiana
Gravada por Zaíra de Oliveira e Francisco Sena
Acompanhamento do Grupo da Guarda Velha
Disco Victor 33.509-B, matriz 65299-2
Gravado em 24 de novembro de 1931 e lançado em janeiro de 1932
INDANTHREN
Samba de Cor Firme de José Francisco de Freitas
Gravado por Zaíra de Oliveira e J. B. de Carvalho
Acompanhamento da Orquestra Indanthren, sob a direção de João Martins
Disco Indanthren 65515-2
Gravado em 10 de junho de 1932 e lançado em 1932
A CULPA É SUA
Marcha de José Alves
Gravada por Zaíra de Oliveira e J. B. de Carvalho
Acompanhamento da Orquestra Indanthren, sob a direção de João Martins
Disco Indanthren 65514-1
Gravado em 10 de junho de 1932 e lançado em 1932
Conjunto Tupy
ROMPENDO A MADRUGADA
Batuque de J. B. de Carvalho
Gravado pelo Conjunto Tupy
Disco Victor 33.718-A, matriz 65293-2
Gravado em 18 de agosto de 1931 e lançado em novembro de 1933
QUANDO O SOL SAIR
Jongo de J. B. de Carvalho
Gravado pelo Conjunto Tupy
Disco Victor 33.784-A, matriz 65441-1
Gravado em 08 de abril de 1932 e lançado em maio de 1934
BOIADEIRO
Batuque de J. B. de Carvalho
Gravado pelo Conjunto Tupy
Disco Victor 33.718-B, matriz 65422-1
Gravado em 18 de agosto de 1931 e lançado em novembro de 1933
MIRONGA DE MOÇA BRANCA
Macumba de Gastão Viana e J. B. de Carvalho
Gravada pelo Conjunto Tupy
Disco Victor 33.586-B, matriz 65494-2
Gravado em 14 de maio de 1932 e lançado em agosto
As Três Marquesas
GUARDE A ÚLTIMA VALSA PARA MIM
Valsa de Walter Hirsch e De Chocolat
Gravada por As Três Marquesas
Acompanhamento de Harry Kosarin e Seus Almirantes
Disco Victor 33.563-B, matriz 65447-2
Gravado em 11 de abril de 1932 e lançado em junho
Com Carmen Miranda
SONHEI QUE ERA FELIZ
Samba de Ary Barroso
Gravado por Carmen Miranda e Zaíra de Oliveira
Acompanhamento do Grupo da Guarda Velha
Disco Victor 33.508-A, matriz 65329-1
Gravado em 14 de dezembro de 1931 e lançado em janeiro de 1932
Agradecimento à Thais Matarazzo, Gilberto Inácio Gonçalves, Luiz Antônio de Almeida e e ao Arquivo Nirez
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