Em
agosto de 1930, acontecia no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro o recital da
pianista e compositora pernambucana Amélia Brandão Nery.
Chegada
de Pernambuco, ela ia ao Rio de Janeiro divulgar seu trabalho, sendo bem
sucedida nesse procedimento.
Amélia
Brandão Nery teve vários discos gravados por nomes de destaque naquele
longínquo 1930. Se a data se distancia de nós, a importância das músicas e dos
intérpretes não se desbotam com o tempo, mesmo com a falta de memória que
sempre rondou nossa música.
Trago
uma matéria publicada na revista Phono Arte, nº 46, lançada em 30 de agosto de
1930, comentando o recital de Amélia Brandão Nery. Os cantores convidados eram
Jesy Barbosa, Stefana de Macedo e Vicente Cunha. Stefana e Vicente também eram
pernambucanos, mas já haviam se radicado no Rio de Janeiro há tempos. Eles
gravaram músicas de Amélia. Jesy Barbosa, nascida em Campos (RJ), não gravou
composições da pianista pernambucana, porém participou do recital, muito
provavelmente por ter em seu repertório músicas regionais.
O
artigo está transcrito na íntegra, com ortografia, pontuação e acentuação
originais. Lembrando que nessa época o Nordeste era chamado de Norte. A fotografia original do evento pertence ao Arquivo Nirez.
Confiram
depois algumas gravações de músicas compostas por Amélia Brandão Nery.
MUSICA DO NORTE
Atravez
a fertilissima inspiração de uma habil compositora – Idéas novas – Themas novos
– Assumptos ineditos de nosso “folk-lore” – A arte de D. Amelia Brandão Nery e
o seu festival, realisado no Lyrico.
Em
plena voga nas gravações nacionaes, a musica do Norte é, além disto, uma das
mais fieis expressões do nosso folk-lore musical. Este mez ella se enriquece
com mais um elemento de primeirissima ordem, constituído pela apparição de D.
Amelia Brandão Nery, musicista e compositora pernambucana.
D.
Amelia Brandão Nery, veio ao Rio afim de fazer as suas composições, que são em
grande numero, conhecidas do publico carioca atravez os discos. A distincta musicista,
distribuio uma porção dellas pelas fabricas Columbia, Victor e Brunswick. Já as
duas primeiras lançaram algumas em discos do supplemento deste mez, commentados
no presente numero de “PHONO-ARTE”.
A
produção de D. Amelia Brandão Nery, é toda ella baseada no mais authentico
folk-lore pernambucano. Harmonisando as melodias simples povo nortista, atravez
estylisações dignas dos maiores encomios, como succede, entre muitas, com Capellinha de melão, Cavallo Marinho, Casa de Farinha. D. Amelia se impoz desde logo como um dos
expoentes maximos dos rythmos e melodias de sua terra.
A
talentosa compositora e pianista, deu este mês um recital no nosso Theatro
Lyrico, coroado do mais completo exito e todo elle constituido por peças
exclusivamente suas. Ao piano, tocado com habilidade e segurança absoluta, D.
Amelia Brandão deliciou o auditorio, fazendo os acompanhamentos de Vicente
Cunha, Stefana de Macedo e Jesy Barbosa, que interpretaram as suas canções.
Stefana
assignalou verdadeiros sucessos com Cafundó do coração, Casa de farinha, Cavallo
Marinho, Preta Sinhá, que
constituem algumas das mais typicas peças da producção de D. Amelia Brandão
Nery.
Vicente
Cunha, com sua bella e possante voz de tenor foi applaudidissimo em Comtigo no céo, Peccador, Malvada, Beija-Flôr, as principaes das muitas que
constituiram sua parte no programa.
Jesy
Barbosa, fez-se ouvir com exito em Minha
viola é de primeira e outras.
O
numeroso publico que assistiu ao festival, guardou a mais suave recordação
desse recital em que o espirito e o sentimentalismo do nortista, ficou
patenteado atravez do talento de uma de suas melhores representações, como
sejam as composições de D. Amelia Brandão Nery.
Vicente
Cunha já gravou discos Victor e Columbia com musicas de D. Amelia Brandão, o
mesmo succedendo com Stefana de Macedo para a Columbia; novidades essas que se
encontram noticiadas no presente numero de “PHONO-ARTE”.
D.
Amelia Brandão possue tambem uma série de canções de concerto, das quaes o Sino da Tarde, vae ser gravada pela
Victor, com o concurso de Reis e Silva e de Carmen Gomes.
A
distincta compositora pernambucana, nos deixará por algum tempo, pois irá a
Recife, estando, porém de volta, em Dezembro, trazendo quarenta motivos
populares de Pernambuco, musicados para varias fabricas de discos.
Phono-Arte, 30 de agosto de 1930, nº 46.
Arquivo Nirez
|
GRAVAÇÕES
AMÉLIA BRANDÃO NERY Arquivo Nirez |
STEFANA DE MACEDO
STEFANA DE MACEDO Arquivo Nirez |
CAVALLO MARINHO
Samba
Regional de Amélia Brandão Nery
Gravado
por Stefana de Macedo
Acompanhamento
de Gaó, Zezinho e Chaves
Disco
Columbia 7.009-B, matriz 380807-2
Lançado
em setembro de 1930
Phono-Arte, 30 de agosto de 1930, nº 46.
Arquivo Nirez
|
PRETA SINHÁ
Canção
Regional de Amélia Brandão Nery
Gravada
por Stefana de Macedo
Acompanhamento
de Gaó, Chaves e Angelino
Disco
Columbia 7.009-B, matriz 380814-2
Lançado
em setembro de 1930
CASA DE FARINHA
Cantiga
de Amélia Brandão Nery
Gravada
por Stefana de Macedo
Acompanhamento
de Gaó, Zezinho, Chaves e Napoleão
Disco
Columbia 7.032-B, matriz 380809
Lançado
em outubro de 1930
NOS CAFUNDÓ DO CORAÇÃO
Canção
de Amélia Brandão Nery
Gravada
por Stefana de Macedo
Acompanhamento
de Gaó, Zezinho e Chaves
Disco
Columbia 7.032-B, matriz 380821
Lançado
em outubro de 1930
ELISA
COELHO
ELISA COELHO Arquivo Nirez |
CAPELLINHA
DE MELÃO
Samba
de Amélia Brandão Nery
Gravado
por Elisa Coelho
Acompanhamento
de Violões
Disco
Victor 33.322-A, matriz 50341-1
Gravado
em 21 de junho de 1930 e lançado em dezembro
MINHA
VIOLA É DE PRIMEIRA
Samba
de Amélia Brandão Nery
Gravado
por Elisa Coelho
Acompanhamento
de Violões
Disco
Victor 33.322-B, matriz 50342-2
Gravado
em 21 de junho de 1930 e lançado em dezembro
Arquivo Nirez |
VICENTE CUNHA
VICENTE CUNHA Arquivo Nirez |
MALVADA
Samba
de Amélia Brandão Nery
Gravado
por Vicente Cunha (AItaré)
Acompanhamento
de Gaó, Zezinho, Chaves e Grany
Disco
Columbia 5.240-B, matriz 380803-1
Lançado
em julho de 1930
O QUE MAIS EU APRECIO EM TI
Samba
de Amélia Brandão Nery
Gravado
por Vicente Cunha (AItaré)
Acompanhamento
de Gaó, Zezinho, Chaves e Grany
Disco
Columbia 5.240-B, matriz 380804-2
Lançado
em julho de 1930
Phono-Arte, 30 de agosto de 1930, nº 46.
Arquivo Nirez
|
Agradecimento ao Arquivo Nirez
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