Há
132 anos nascia a atriz e cantora PEPA DELGADO.
Em
minhas pesquisas sobre Pepa Delgado, iniciadas no começo da década de 1990, fui
descobrindo várias informações importantes sobre essa interessante e pioneira
artista. Apesar das dificuldades e colher material sobre sua vida e obra, tive
e tenho várias boas surpresas nesse percurso. Novas fontes continuam aparecendo
e enriquecendo minha pesquisa. Há pouco mais de um mês, defendi a dissertação
Pepa Delgado: a trajetória de uma atriz-cantora (1886-1945), referente à
conclusão de meu curso de graduação em História na Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Poucos meses antes da defesa tive uma descoberta interessante: a
data de nascimento de Pepa Delgado.
Até
recentemente eu atribuía o ano de 1887 como sendo o correto, relativo ao seu
nascimento, baseado em pesquisas e no depoimento de pessoas próximas a ela.
Porém, ao consultar seu atestado de óbito, notei que a idade que constava por
ocasião de sua morte (ocorrida em 11 de março de 1945) era a de 58 anos de
idade. Isso me levou a pensar que, nesse caso, o ano de nascimento seria 1886.
Eu pude comprovar essa informação quando descobri o registro de casamento civil
de Pepa Delgado e Almerindo de Moraes, ocorrido em setembro de 1936. Na
ocasião, o filho do casal já tinha onze anos de idade e a data de nascimento de
Pepa Delgado, no documento, era 21 de julho de 1886. A partir de então, passei
a adotar essa nova data.
Nascida
em Piracicaba, interior de São Paulo, em 21 de julho de 1886, Maria Pepa
Delgado era filha da sorocabana Ana Alves e do espanhol Lourenço Delgado, que
era toureiro na Espanha e continuou suas façanhas na arena aqui no Brasil,
excursionando pelo Sudeste e Sul do País. Entre suas atrações, ele enfrentava
touros com as mãos atadas.
No
primeiro semestre de 1900, Pepa Delgado já está no Rio de Janeiro, atuando na
Companhia Dias Braga. Ainda nessa época, ela excursionou com a empresa pelo
Norte e Nordeste do País, onde vamos encontrar o primeiro registro de sua
aparição em peças em Belém (Pará), em uma ponta no drama O Domador de Feras.
Sua participação nas peças, dramas e
comédias, se dava em pequenos papéis, onde ela ia aprendendo as lides teatrais
e conquistando seus primeiros admiradores. Em julho de 1901, estando em
temporada em Vitória (Espírito Santo), o jornal O Estado do Espírito, de 27 de
julho de 1901, p.2, profetizava sobre ela e uma colega: “Pepa Delgado e Maria
Layrot são ainda muito jovens e revelam que terão um bello futuro artistico”.
Em 1904, Pepa Delgado teve sua primeira
grande oportunidade nos palcos. No primeiro semestre ela atuava na
revista Cá e Lá..., da autoria de Tito Martins e Bandeira de
Gouveia. A música da pela era de vários autores, entre eles, Chiquinha Gonzaga
e José Nunes, Luiz Moreira, Raul Saldanha e algumas composições de Carlos
Gomes.
As estrelas eram as atrizes Cinira
Polonio e Aurélia Delorme; Cinira interpretava doze personagens e Aurélia, dez
personagens. Pepa Delgado interpretou: “O caso do dia, Uma hespanhola, Uma
visitante do Pantheon, Outra florista... officiosa, A Republica Brasileira” (O
Paiz, 06 de março de 1904, p.8).
Nesse espetáculo Pepa Delgado dançava
com o ator Marzullo o famoso Maxixe Aristocrático, tendo
interpretado mais um personagem, A Prostituição. Porém, com algumas
mudanças na peça e o afastamento de Aurélia Delorme, Pepa Delgado assumia seus
papeis. A imprensa a saudava pelo novo desafio: “[...] Pepa Delgado, uma atriz
de muito pouco tempo, mostra qualidades notaveis para estrella de genero
ligeiro, revistas, etc. Está ella agora a substituir Delorme nos seus multiplos
papeis e com muita vivacidade e graça o faz, com muito agradavel voz canta
todos os numeros e com muita denguice causa (sic) os tangos langorosos. Queira
Pepa aperfeiçoar-se, trabalhar com esforço e respeito pela sua arte e será uma
triunphadora [...]” (Jornal do Brasil, 30 de maio de 1904, p.2).
Jornal de Theatro & Sport, 14 abril 1917, p.7. Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional. |
Ao
estrear em Cá e Lá..., Pepa Delgado
dava início a uma vitoriosa carreira no teatro musicado, em especial no Teatro
de Revista. Agora, ela investia em seu talento como cantora, aliando à
interpretação. Surgia, dessa forma, uma atriz-cantora que iria lapidar sua arte
através dos próximos anos.
Coincidência
ou não, nesse mesmo ano de 1904 (após também fazer sucesso na revista Avança!), Pepa Delgado começou a gravar
seus primeiros discos pela Casa Edison, através do selo Odeon Record. E muito
do que gravou inicialmente fazia parte do repertório de Cá e Lá... e Avança! Algumas
músicas ela havia lançado no palco, outras foram lançadas por Cinira Polonio,
Aurélia Delorme ou Lucília Peres.
Ao
longo dos anos, Pepa Delgado foi se especializando em sua carreira, seguindo
conselhos de grandes nomes do teatro como Arthur Azevedo que, em 1905, publicou
a seguinte crítica sobre ela no periódico O Theatro: “[...] Pepa Delgado,
actriz que, se tomar o theatro a sério, poderá dar alguma coisa de si [...] (O Theatro, de 24 de abril de 1905).”
Revista Comedia, 05 de outubro de 1918. Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional. |
Ao
que parece, ela seguiu os conselhos do célebre dramaturgo, se destacando como
atriz até o final da década de 1900, tendo atuado no cinema em 1908 e,
juntamente com um grupo teatral, levado famosas peças que estavam em cartaz na
Praça Tiradentes (o núcleo teatral do Rio de Janeiro) para o subúrbio do Meyer,
numa iniciativa muito elogiada pela imprensa.
Em
1911, ao ingressar na empresa do Theatro São José, de propriedade de Pascoal
Segreto, Pepa Delgado atingia seu apogeu como artista, sendo um dos principais
nomes da empresa, atuando em célebres peças e interpretando personagens
marcantes.
Seguiria
no meio artístico até 1924, tendo saído da empresa do Theatro São José em 1917.
Chegou a formar a Companhia Pepa Delgado e atuou em várias outras.
Em
1925 nasceu Heitor, seu único filho, e em 1936 casou-se com Almerindo de
Morais, com quem já convivia.
Pepa
Delgado faleceu em 11 de março de 1945, vitima de hepatite.
Trago
dez músicas de seu repertório gravadas na década de 1900 na Casa Edison e
lançadas em discos Odeon Record.
FADO
PORTUGUÊS
Fado
Fado
Disco Odeon Record 10.045
Lançado em 1904
Acompanhamento de piano
O ABACATE
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga, Tito
Martins e Gouveia.
Gravado por Pepa Delgado
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.059, matriz R-379
Lançado em 1904
Da Revista “Cá e Lá”
UM SAMBA NA PENHA
Maxixe de Assis Pacheco, Álvaro Peres e
Álvaro Colás.
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Pinheiro
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 10.063, matriz R-489
Lançado em 1904
A RECOMENDAÇÃO
Cançoneta de Assis Pacheco.
Gravado por Pepa Delgado
Disco Odeon Record 10.064
Lançado em 1904
Acompanhamento de piano
Da Revista “O Avança”
CAFÉ
IDEAL
Maxixe de Chiquinha Gonzaga e letra de Tito Martins
Maxixe de Chiquinha Gonzaga e letra de Tito Martins
Disco Odeon Record 10.074
Lançado em 1904
Acompanhamento de piano
De Revista “Cá e Lá”
MARIXE
ARISTOCRÁTICO
Maxixe de José Nunes
Gravado por Pepa Delgado e Alfredo
Silva
Acompanhamento de piano
Disco Odeon Record 40.224, matriz
RX-161
Lançado em 1905
Da Revista “Cá e Lá”
VEM
CÁ, MULATA
Maxixe de Arquimedes de Oliveira e Bastos
Tigre
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Pinheiro
Disco Odeon Record 40.407
Lançado em 1906
Acompanhado de piano
O
QUINDIM DA MODA
Cançoneta sobre a melodia de “O Angu do
Barão”, de Ernesto de Souza.
Disco Odeon 40.487
Lançado em 1906.
Acompanhamento de piano
O VENDEIRO E A MULATA
Dueto
Gravado por Pepa Delgado e Mário
Disco Odeon Record 40.599
Lançado em 1906
Acompanhamento de piano
A
COZINHEIRA
Cançoneta
Acompanhamento de Orquestra
Disco Columbia Record B-31, matriz
11.626
Lançado em 1912
Agradecimento ao Arquivo Nirez