ARACY CÔRTES O Cruzeiro, 1931. http://memoria.bn.br |
Há 114 anos nascia a cantora e atriz ARACY CÔRTES.
Nascida
Zilda de Carvalho Espíndola, no Rio de Janeiro, em 31 de março de 1904, com o
nome de Aracy Côrtes ela se tornaria uma das maiores estrelas do Teatro de
Revista brasileiro e uma das maiores intérpretes de nossa música.
Vamos
conhecer um pouco de sua origem como artista.
Quando
a jovem Zilda decidiu ser artista, iniciou suas atividades no grupo amador
Filhos de Talma, também atuando no Circo Spinelli ao lado de Benjamin de
Oliveira.
O
pesquisador Roberto Ruiz, em sua biografia de Aracy Côrtes - Linda Flor, de 1984 (Funarte), explicou
o surgimento do nome artístico. Em um tarde, na redação do jornal A Noite, estavam conversando Mário
Magalhães, crítico teatral do jornal, e Otávio Viana, o China, irmão de
Pixinguinha. Eles estavam decidindo o repertório de uma série de apresentações
dos Oito Batutas. Como havia somente homens no grupo, eles pensaram em inserir
uma figura feminina, alguém que interagisse bem com o conjunto. China, que era
compadre da mãe de Zilda, lembrou logo da garota que, desde pequena,
acompanhava a ele e aos irmãos nas rodas de choro. Ele disse que a menina era
boa mesmo! Porém, Mário Magalhães não gostou do nome Zilda para uma artista.
Depois de pensarem bem, e citarem vários nomes, chegaram conclusão de que Aracy
era um nome bem brasileiro. Mas Aracy de quê? A essa altura, outras pessoas se
juntavam à conversa, como o secretário do jornal, Silva Ramos. Era preciso
encontrar um sobrenome eufônico, que combinasse com o prenome. Eis que, nesse
momento, entrou esbaforido, trazendo uma notícia urgente, um repórter policial
da casa, conhecido por Côrtes. Mário Magalhães deu um pulo da cadeira, saudando
o colega de jornal, que não entendera patavina do que estava acontecendo. Silva
Ramos caiu na gargalhada e Mário se voltou para China com o novo nome da
artista: Aracy Côrtes.
Porém,
antes dela, já existia uma Aracy Côrtes. Que não era artista, mas professora.
Sobre
Aracy Côrtes, a professora, encontramos algumas informações desde 1905, quando
fazia seus exames finais de instrução primária através da Escola Modelo
Benjamin Constant. Estagiou no ensino público, sendo efetivada em 1912. Fez
seus estudos com distinção e ensinou em várias instituições, sendo uma
professora conhecida e respeitada nas décadas de 1910 e 1920.
Grupo de alunos da professora Aracy Côrtes. O Malho 1912. http://memoria.bn.br |
Já
idosa, Aracy Côrtes, a artista, relembraria a coincidência: “... quem me arranjou
esse nome foi o Mário Magalhães, de A Noite e eu não queria pseudônimo. Só
Zilda estava bom; ficava mais cartaz. De repente, me aparece esse Aracy Côrtes
que eu nem sabia quem era. Resultou que era uma inimiga pavorosa, uma
professora que achou que eu tinha feito de propósito para achincalhá-la. Mas
por quê? A arte é uma missão divina. Enquanto às vezes meu lar está de luto, o
de vocês está alegre por causa da minha pessoa. De qualquer maneira pegou e
ficou Aracy Côrtes”.
Na
segunda metade de 1921, ainda resistindo ao seu nome artístico, apresentava-se
como Zilda Côrtes, atuando ao lado dos Oito
Batutas, liderado por seu amigo de infância, Pixinguinha.
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas. A Noite, 10 de outubro de 1921, p.5. http://memoria.bn.br |
Aliás,
seria como Zilda Côrtes que ela faria sua estreia no teatro, em 15 de outubro
de 1921 na burleta Na casa da Chica do
Velho, onde interpretava Chica. O
resto do elenco era interpretado pelos integrantes dos Oito Batutas e outros artistas: Mané Piqueno (Galleguinho), Octavio Vianna (Bolacha),
José de Lima (Juca Ficha), Ernesto
dos Santos (Porfirio Grosso), João
Thomaz (Pinga-Fogo), Alfredo Santos (Pé Leve), Nelson Alves (Cambucá), Sizenando de Oliveira (Pendenga), José Monteiro (Boa Vida).
O teatro era o Polytheama
Meyer, onde o grupo fazia apresentações. Em 22 de outubro, apresentavam a mesma
peça no Theatro Eden.
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas em Na casa da Chica do Velho. A Noite, 15 de outubro de 1921, p.5. http://memoria.bn.br |
Zilda Côrtes ao lado dos Oito Batutas em Na casa da Chica do Velho. O Fluminense, 22 de outubro de 1921, p2. http://memoria.bn.br |
Em
31 de dezembro de 1921, pouco depois de dois meses, ela estreava como Aracy
Côrtes na revista Nós, pelas Costas,
no Theatro Recreio. Até hoje, essa seria considerada sua estreia oficial. Ao
menos foi a primeira como Aracy Côrtes.
Atravessando as décadas de 1920, 1930 e 1940 com grande sucesso no teatro musicado, em especial na Revista, ela fixaria seu nome na história de nossa música popular como uma de suas principais intérpretes.
Aracy Côrtes faleceria no Rio de Janeiro aos 80 anos, em 08 de janeiro de 1985.
Aracy Côrtes Vida Doméstica, 1924. http://memoria.bn.br |
Trago
algumas gravações de Aracy Côrte na Columbia, onde ela registrou algumas de
suas mais bonitas músicas. No samba À La
Aracy, ela canta em francês “abrasileirado”, misturando francês com palavras em
português. Quem me compreende é uma belíssima
canção de Ary Barroso, muito dolente. Teu
Desprezo é um ótimo samba onde Aracy faz seus improvisos; essas duas composições chegaram a ser
tocadas na novela Kananga do Japão, da Rede Manchete, em 1989. Verde e Amarelo quase teve problemas com
a censura, ao inserir acordes do Hino Nacional Brasileiro. A Minha Dor é um lindo samba, onde Aracy é puro sentimento. Moreno Faceiro também seria interpretado
por ela aos 80 anos. Todas as músicas de primeiríssima qualidade na bela voz de
Aracy Côrtes.
À LA ARACY
Samba
de Júlio Cristóbal
Gravado
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
de Seu Conjunto
Disco
Columbia 22.024-B, matriz 381016
Lançado
em maio de 1931
QUEM ME COMPEENDE
Canção
de Ary Barroso e Bernardino Vivas
Gravada
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
de Orquestra
Disco
Columbia 22.035-B, matriz 381012-2
Lançado
em julho de 1931
TEU DESPREZO
Samba
de Arthur Costa
Gravada
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
de Regional
Disco
Columbia 22.035-B, matriz 381017-2
Lançado
em julho de 1931
VERDE E AMARELO
Samba
de Orestes Barbosa e J. Thomaz
Gravada
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra de Concertos Columbia, com Armando de Araújo ao piano
Disco
Columbia 22.127-B, matriz 381262-3
Lançado
em junho de 1932
A MINHA DOR
Samba
de Oscar Cardona
Gravada
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra de Concertos Columbia
Disco
Columbia 22.127-B, matriz 381263-3
Lançado
em junho de 1932
RECORDAÇÕES DE UM PASSADO
Samba
de Benedito Lacerda e Alcebíades Barcelos (Bide)
Gravada
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra Columbia
Disco
Columbia 22.134-B, matriz 381281
Lançado
em julho de 1932
MORENO FACEIRO
Samba
de Custódio Mesquita
Gravado
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra Columbia
Disco
Columbia 22.153-B, matriz 381325
Lançado
em dezembro de 1932
VOCÊ É O HOMEM DO MEU PEITO
Samba
de J. Cabral e M. Rodrigues
Gravado
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra Columbia
Disco
Columbia 22.153-B, matriz 381332
Lançado
em dezembro de 1932
TENHO VONTADE
Samba
de Guilherme Pereira
Gravado
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra Columbia
Disco
Columbia 22.203-B, matriz 381419
Lançado
em 1933
BATE BATE
Samba
de Ildefonso Norat
Gravado
por Aracy Côrtes
Acompanhamento
da Orquestra Columbia
Disco
Columbia 22.203-B, matriz 381437
Lançado
em 1933
Agradecimento ao Arquivo Nirez
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