sábado, 30 de dezembro de 2017

JESY BARBOSA - 30 ANOS DE SAUDADE

JESY BARBOSA em 1930.
Arquivo Nirez




Há 30 anos falecia uma de nossas mais importantes intérpretes, a cantora JESY BARBOSA, Rainha da Canção Brasileira de 1930.

Jesy de Oliveira Barbosa nasceu na cidade de Campos (RJ), em 15 de novembro de 1902. Era filha da musicista Victoria Barbosa e do jornalista e poeta Luiz Barbosa (não confundir com o cantor).

Jesy (pronuncia-se Jezí) Barbosa também foi violonista, jornalista, poetisa, rádio atriz e autora de rádio novelas.

Quando seus pais noivaram esconderam um do outro o amor pelo violão, na época, tido como instrumento de malandros. Porém, descobriram a paixão em comum depois de casados, confirmando a sensibilidade artística que os rodeava. E foi a mãe de Jesy quem a iniciou no violão, no mesmo instrumento que mantinha desde sua juventude e que a filha guardaria consigo com muito carinho.

Em 14 de janeiro de 1921 o jornal O Imparcial citava seu nome entre as senhoritas presentes na festa da nova diretoria do Tijuca Tennis. Em 1922, o Imparcial novamente a citava como participante do concurso “Rainha das nossas duas mais lindas praias – do Flamengo e de Copacabana”. Jesy Barbosa estava entre as moças que representavam a praia de Copacabana.

Em 1926, O Jornal publicava na seção “Ocultismo” a programação artística que ao grupo Dhãranã realizaria. Jesy Barbosa participou da terceira parte do programa cantando A Esperança e Maguas. Zaíra de Oliveira também tomou parte nesse evento.



O Jornal, 1926.
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JESY BARBOSA
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Jesy Barbosa estudou canto com a soprano Zaíra de Oliveira, conquistando a admiração de sua professora. Assim como o pai, começou a escrever poemas e crônicas, publicados na imprensa dos anos 20. Em 1928 seu nome começa a aparecer na programação de rádios como a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, onde foi convidada e contratada por Roquete Pinto. O jornal carioca A Manhã, de quinta-feira 13 de dezembro de 1928, trazia a programação da rádio, destacando a participação de Jesy Barbosa: “Irradiação da Radio Sociedade do Rio de Janeiro. Estação SQAA – Onda de 400 metros. Programma de quinta feira, 13 de dezembro de 1928. 21 horas e 15 minutos – Concerto no Stadio da Radio Sociedade do Rio de Janeiro com o concurso da senhorita Jesy Barbosa, dos srs. Gastão Formenti, Rogério Guimarães e professor Barros (Josué de Barros)”. O programa trazia as seguintes músicas interpretadas por Jesy Barbosa: “II – Tristezas de Gaucho – Canto e violão pela senhorita Jesy Barbosa, com acompanhamento pelos professores Rogerio e Barros. V – Toada para você – de Lorenzo Fernandes – Canto pela senhorita Jesy Barbosa, ao violão, os professores Rogerio e Barros. VIII – Vozes (Thiers Cardoso) – Canto e violão pela senhorita Jesy Barbosa, com acompanhamento pelos sr. Rogerio Guimarães. XI – Olhos pallidos (professor Barros) – Canto e violão pela sentorita Jesy Barbosa, acompanhamento pelos srs. Professor Barros e Rogerio Guimarães. XIV – Morena côr de canella – Canto pela senhorita Jesy Barbosa, ao violão, srs. Rogerio Guimarães e professor Barros”.


Programação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.
A Esquerda, sábado, 11 de fevereiro de 1928.
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Participando de festas e eventos sociais, onde cantava, Jesy Barbosa realizou seu recital na tarde de 21 de setembro de 1929 no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro. Ao seu lado, estava o compositor e violonista Rogério Guimarães.



Em 1929 a gravadora Victor instalava sua filial no Rio de Janeiro para fazer gravações nacionais. Jesy Barbosa já era uma cantora conhecida e apreciada no rádio e a Victor logo a contratou, fazendo grande publicidade em torno de seu nome. Nesse mesmo ano, Jesy gravava seu primeiro disco, sendo também a primeira intérprete feminina a gravar nesta empresa. Seu disco de estreia trazia a canção de Josué de Barros, Olhos Pálidos, que ela já cantava no rádio. Ela contou depois uma história inusitada sobre a música: um juiz havia pedido à esposa que na hora de sua morte tocasse essa canção, pois ele muito a apreciava. Do lado B, o disco trazia o samba canção de Zizinha Bessa, Medroso de Amor. Ao todo, ela gravou 48 músicas em gravadoras como Victor, Odeon, Parlophon e Columbia. No final de 1930, fez algumas gravações na Victor de São Paulo. Também fez a versão do fox trot Amor, que ela mesma gravou em 1930.


JESY BARBOSA
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JESY BARBOSA
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JESY BARBOSAO Cruzeiro, 1931
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JESY BARBOSAO Cruzeiro 1935
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Carioca, 1937
Arquivo Nirez



O Malho, 1939
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Fon Fon, 1944
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Após parar de gravar, por volta de 1933, Jesy Barbosa dedicou-se ao jornalismo e a atuar no rádio como rádio atriz e autora de rádio novelas. Trabalhou em várias rádios, como Rádio Clube do Brasil, Rádio Tupi, Rádio Globo e Rádio Nacional. Nesta última, escreveu a rádio novela Ressurreição.

Em 1930 o jornal Diário Carioca lançou um concurso para escolher a Rainha da Canção Brasileira. Várias cantoras participaram como, Yolanda Osório, Elisa Coelho, Zaíra de Oliveira, Carmen Miranda, Stefana de Macedo, entre outras. Porém, Jesy Barbosa foi a vencedora, tendo Zaíra de Oliveira ficado em segundo lugar. Carmen Miranda, que começava uma carreira de sucesso, ao perceber que não ganharia, passou a apoiar Jesy, em uma demonstração de coleguismo. Renato Murce foi eleito o Príncipe dos Cantores Regionais.



"Jesy Barbosa, que por uma votação altamente significativa foi consagrada a Rainha da Canção Brasileira e Renato Murce, o 'gentleman' perfeito, que conquistou brilhantemente o titulo ambicionado de Principe dos Cantores Regionaes".
Diário Carioca, sexta-feira, 12 de setembro de 1930.
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Sua carreira sempre foi pontuada de muito trabalho, dedicando-se à música, poesia e jornalismo. Em 1963 ela lançou o livro de poesias, Cantigas de quem Perdoa, pela livraria Freitas Bastos, de São Paulo. Mesmo com tamanha dedicação ao trabalho, foi prejudicada ao se aposentar, pois em sua carteira de trabalho constava a função de colaboradora e não a de jornalista.

Por volta de 1984, aos 82 anos, concedeu uma entrevista gravada pelo cantor e radialista Paulo Tapajós e o pesquisador cearense Jairo Severiano, onde conta fatos sobre sua vida, relembrando sua carreira no rádio e no disco. Já trouxemos trechos dessa entrevista aqui no Blog (http://bit.ly/jesybarbosa29) e traremos novamente.

Jesy Barbosa faleceu em 30 de dezembro de 1987, aos 85 anos.


Jesy Barbosa em 1928.
Revista O Violão.
Arquivo Nirez.


Segundo o pesquisador Abel Cardoso Junior, o cronista e compositor Orestes Barbosa escreveu sobre Jesy Barbosa, afirmando que ela era “uma fisionomia macerada, com os olhos esquecidos no rosto triangular, e a dicção perfeita, tirando efeitos originais, falando dentro da música, preferindo as canções de emoção e pensamento – a última romântica num raro grupo que resiste na última trincheira da valsa que é a musicalidade da carta de amor...”.


JESY BARBOSA
O Cruzeiro, 1932
http://memoria.bn.br/



Conheci o trabalho de Jesy Barbosa em 1989 através do selo Revivendo, do saudoso Leon Barg, em um LP lançado naquele ano. O disco se chamava Terna Saudade e trazia músicas em gravações originais de Sílvio Caldas, Elisa Coelho, Breno Ferreira e Jesy Barbosa. Desta última cantora tínhamos os fonogramas Olhos Pálidos, Volta e Um Beijo não é Pecado. Lembro que eu ficava horas escutando esse disco e me impressionava com a belíssima voz de Jesy, soprano dramática, tão clara e afinada. Com o tempo, e a ajuda de meu amigo Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo), fui conhecendo mais seu repertório e ficando cada vez mais seu fã. Ela gravou mais canções românticas, várias de cunho sertanejo, verdadeiras joias, Lenda Sertaneja, Romance Sertanejo, Coração de Cabocla, Minha Viola... Também gravou samba canção e maxixe, Com Yayá é assim, Coração que esqueceu, Balaio (em dueto com Mário Pessoa), além de tanguinhos canções como Canta, canta Passarinho e Coração Magoado, entre outros ritmos. Jesy Barbosa era uma cantora romântica e exalava esse romantismo em cada gravação, com uma interpretação sentida que dava um sabor especial a cada composição.


Jesy Barbosa.
Vida Doméstica, julho de 1930.
Arquivo Nirez



Vamos conferir 21 gravações de Jesy Barbosa realizadas em 1929 e 1930 na Victor, entre elas, as suas primeiras gravações.

Obs. As fotografias do Catálogo Victor com as informações das gravações está disponível no site do Instituto Moreira Salles.




OLHOS PALLIDOS


Canção de Josué de Barros
Acompanhamento da Orquestra Victor de Salão
Disco Victor 33.208-A, matriz 50037-1
Gravado em 11 de setembro de 1929 e lançado em novembro



MEDROSO DE AMOR


Samba Canção de Zizinha Bessa
Acompanhamento do Choro Victor
Disco Victor 33.208-B, matriz 50034-2
Gravado em 11 de setembro de 1929 e lançado em novembro



CISMANDO
Valsa de Rogério Guimarães
Acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira
Disco Victor 33.221-B, matriz 50050-4
Gravado em 18 de setembro de 1929 e lançado em dezembro




QUERO UM HOMEM BEM VESTIDO
Marcha Canção de B. M. de Souza
Acompanhamento da Orquestra Victor
Disco Victor 33.224-B, matriz 50066-2
Gravado em 28 de setembro de 1929 e lançado em dezembro




MINHA VIOLA


Canção de Randoval Montenegro
Acompanhamento de Rogério Guimarães ao violão
Disco Victor 33.264-A, matriz 50188-1
Gravado em 26 de fevereiro de 1930 e lançado em abril



CORAÇÃO DE CABOCLA


Toada Sertaneja de Plínio Brito
Acompanhamento de dois violões e um bandolim
Disco Victor 33.264-B, matriz 50172-2
Gravado em 18 de fevereiro de 1930 e lançado em abril



CANTIGA


Toada Sertaneja de Marcelo Tupinambá e C. Neto

Acompanhamento da Orquestra Victor de Salão
Disco Victor 33.269-A, matriz 50173-2
Gravado em 18 de fevereiro de 1930 e lançado em junho



VOLTA


Tango Canção de Mário Lopes de Castro
Acompanhamento de Conjunto Típico
Disco Victor 33.269-B, matriz 50189-2
Gravado em 26 de fevereiro de 1930 e lançado em junho



AMOR
Fox Trot de E. Goulding, Elsie Janis, arranjo de Ted Eastwood
Acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira
Disco Victor 33.274-B, matriz 50227-2
Gravado em 04 de abril de 1930 e lançado em maio



QUEM AMA VIVE A SOFRER
Canção de Sátiro de Melo
Acompanhamento de Rogério Guimarães ao violão
Disco Victor 33.283-A, matriz 50229-2
Gravado em 09 de abril de 1930 e lançado em maio



SAUDADE DANADA
Canção de Joubert de Carvalho
Acompanhamento de Rogério Guimarães ao violão
Disco Victor 33.283-B, matriz 50230-2
Gravado em 09 de abril de 1930 e lançado em maio



LENDA SERTANEJA


Canção Sertaneja de Cândido das Neves (Índio)
Acompanhamento de Rogério Guimarães e Coro
Disco Victor 33.284-A, matriz 50225-1
Gravado em 03 de abril de 1930 e lançado em julho



ROMANCE SERTANEJO


Canção Sertaneja de João Valença e Raul Valença
Acompanhamento de Rogério Guimarães e Coro
Disco Victor 33.284-B, matriz 50224-2
Gravado em 03 de abril de 1930 e lançado em julho



FRUTA DO MATO
Tanguinho de Randoval Montenegro e Domingos Magarinos
Acompanhamento de dois violões
Disco Victor 33.309-A, matriz 65040-2
Gravado em 22 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931



CORAÇÃO FECHA OS OUVIDOS
Canção de Osvaldo Orico e Zizinha Bessa
Acompanhamento de Rogério Guimarães ao violão
Disco Victor 33.309-B, matriz 50220-2
Gravado em 29 de março de 1930 e lançado em fevereiro de 1931



CANTA, CANTA PASSARINHO
Tanguinho Canção de Sátiro de Melo
Acompanhamento de dois violões
Disco Victor 33.320-A, matriz 503230-2
Gravado em 14 de junho de 1930 e lançado em agosto



CORAÇÃO MAGOADO
Tanguinho Canção de Josué de Barros
Acompanhamento de violões e bandolim
Disco Victor 33.320-B, matriz 50322-2
Gravado em 14 de junho de 1930 e lançado em agosto



EU GOSTO ASSIM
Toada de Mário Lopes de Castro e Domingos Magarinos
Acompanhamento de Violões
Disco Victor 33.332-A, matriz 50332-1
Gravado em 18 de junho de 1930 e lançado em junho



CANÇÃO DA SAUDADE
Canção de Randoval Montenegro
Acompanhamento de violões
Disco Victor 33.332-B, matriz 50348-1
Gravado em 23 de junho de 1930 e lançado em junho



COM YAYÁ É ASSIM
Samba Canção de Cândido das Neves (Índio)
Acompanhamento de orquestra e violões
Disco Victor 33.406-A, matriz 65043-2
Gravado em 24 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931



CORAÇÃO QUE ESQUECEU
Samba Canção de Randoval Montenegro
Acompanhamento de violões e violino
Disco Victor 33.406-B, matriz 65042-1
Gravado em 22 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931









Agradecimento ao Arquivo Nirez
















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