|
JESY BARBOSA em 1930. Arquivo Nirez
|
Há
30 anos falecia uma de nossas mais importantes intérpretes, a cantora JESY
BARBOSA, Rainha da Canção Brasileira de
1930.
Jesy
de Oliveira Barbosa nasceu na cidade de Campos (RJ), em 15 de novembro de 1902.
Era filha da musicista Victoria Barbosa e do jornalista e poeta Luiz Barbosa
(não confundir com o cantor).
Jesy (pronuncia-se Jezí) Barbosa também foi violonista, jornalista, poetisa, rádio atriz e autora de
rádio novelas.
Quando
seus pais noivaram esconderam um do outro o amor pelo violão, na época, tido
como instrumento de malandros. Porém, descobriram a paixão em comum depois de casados,
confirmando a sensibilidade artística que os rodeava. E foi a mãe de Jesy quem
a iniciou no violão, no mesmo instrumento que mantinha desde sua juventude e
que a filha guardaria consigo com muito carinho.
Em 14 de janeiro de 1921 o jornal O Imparcial citava seu nome entre as senhoritas presentes na festa da nova diretoria do Tijuca Tennis. Em 1922, o Imparcial novamente a citava como participante do concurso “Rainha das nossas duas mais lindas praias – do Flamengo e de Copacabana”. Jesy Barbosa estava entre as moças que representavam a praia de Copacabana.
Em 1926, O Jornal publicava na seção “Ocultismo” a programação artística que ao grupo Dhãranã realizaria. Jesy Barbosa participou da terceira parte do programa cantando A Esperança e Maguas. Zaíra de Oliveira também tomou parte nesse evento.
Jesy
Barbosa estudou canto com a soprano Zaíra de Oliveira, conquistando a admiração
de sua professora. Assim como o pai, começou a escrever poemas e crônicas, publicados
na imprensa dos anos 20. Em 1928 seu nome começa a aparecer na programação de
rádios como a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, onde foi convidada e
contratada por Roquete Pinto. O jornal carioca A Manhã, de quinta-feira 13 de dezembro de 1928, trazia a programação
da rádio, destacando a participação de Jesy Barbosa: “Irradiação da Radio
Sociedade do Rio de Janeiro. Estação SQAA – Onda de 400 metros. Programma de
quinta feira, 13 de dezembro de 1928. 21 horas e 15 minutos – Concerto no
Stadio da Radio Sociedade do Rio de Janeiro com o concurso da senhorita Jesy
Barbosa, dos srs. Gastão Formenti, Rogério Guimarães e professor Barros (Josué
de Barros)”. O programa trazia as seguintes músicas interpretadas por Jesy
Barbosa: “II – Tristezas de Gaucho – Canto e violão pela senhorita Jesy
Barbosa, com acompanhamento pelos professores Rogerio e Barros. V – Toada para
você – de Lorenzo Fernandes – Canto pela senhorita Jesy Barbosa, ao violão, os
professores Rogerio e Barros. VIII – Vozes (Thiers Cardoso) – Canto e violão
pela senhorita Jesy Barbosa, com acompanhamento pelos sr. Rogerio Guimarães. XI
– Olhos pallidos (professor Barros) – Canto e violão pela sentorita Jesy
Barbosa, acompanhamento pelos srs. Professor Barros e Rogerio Guimarães. XIV –
Morena côr de canella – Canto pela senhorita Jesy Barbosa, ao violão, srs.
Rogerio Guimarães e professor Barros”.
|
Programação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A Esquerda, sábado, 11 de fevereiro de 1928. http://memoria.bn.br |
Participando de festas e eventos sociais, onde cantava, Jesy Barbosa realizou seu recital na tarde de 21 de setembro de 1929 no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro. Ao seu lado, estava o compositor e violonista Rogério Guimarães.
Em
1929 a gravadora Victor instalava sua filial no Rio de Janeiro para fazer
gravações nacionais. Jesy Barbosa já era uma cantora conhecida e apreciada no
rádio e a Victor logo a contratou, fazendo grande publicidade em torno de seu
nome. Nesse mesmo ano, Jesy gravava seu primeiro disco, sendo também a primeira
intérprete feminina a gravar nesta empresa. Seu disco de estreia trazia a
canção de Josué de Barros, Olhos Pálidos,
que ela já cantava no rádio. Ela contou depois uma história inusitada sobre a
música: um juiz havia pedido à esposa que na hora de sua morte tocasse essa
canção, pois ele muito a apreciava. Do lado B, o disco trazia o samba canção de
Zizinha Bessa, Medroso de Amor. Ao
todo, ela gravou 48 músicas em gravadoras como Victor, Odeon, Parlophon e
Columbia. No final de 1930, fez algumas gravações na Victor de São Paulo. Também fez a versão do fox trot Amor, que ela mesma gravou em 1930.
Após
parar de gravar, por volta de 1933, Jesy Barbosa dedicou-se ao jornalismo e a
atuar no rádio como rádio atriz e autora de rádio novelas. Trabalhou em várias
rádios, como Rádio Clube do Brasil, Rádio Tupi, Rádio Globo e Rádio Nacional.
Nesta última, escreveu a rádio novela Ressurreição.
Em
1930 o jornal Diário Carioca lançou um concurso para escolher a Rainha da Canção Brasileira. Várias
cantoras participaram como, Yolanda Osório, Elisa Coelho, Zaíra de Oliveira,
Carmen Miranda, Stefana de Macedo, entre outras. Porém, Jesy Barbosa foi a vencedora,
tendo Zaíra de Oliveira ficado em segundo lugar. Carmen Miranda, que começava
uma carreira de sucesso, ao perceber que não ganharia, passou a apoiar Jesy, em
uma demonstração de coleguismo. Renato Murce foi eleito o Príncipe dos Cantores Regionais.
|
"Jesy Barbosa, que por uma votação altamente significativa foi consagrada a Rainha da Canção Brasileira e Renato Murce, o 'gentleman' perfeito, que conquistou brilhantemente o titulo ambicionado de Principe dos Cantores Regionaes". Diário Carioca, sexta-feira, 12 de setembro de 1930. http://memoria.bn.br |
Sua
carreira sempre foi pontuada de muito trabalho, dedicando-se à música, poesia e
jornalismo. Em 1963 ela lançou o livro de poesias, Cantigas de quem Perdoa, pela livraria Freitas Bastos, de São Paulo. Mesmo com tamanha dedicação ao trabalho,
foi prejudicada ao se aposentar, pois em sua carteira de trabalho constava a
função de colaboradora e não a de jornalista.
Por
volta de 1984, aos 82 anos, concedeu uma entrevista gravada pelo cantor e
radialista Paulo Tapajós e o pesquisador cearense Jairo Severiano, onde conta
fatos sobre sua vida, relembrando sua carreira no rádio e no disco. Já
trouxemos trechos dessa entrevista aqui no Blog (http://bit.ly/jesybarbosa29) e
traremos novamente.
Jesy
Barbosa faleceu em 30 de dezembro de 1987, aos 85 anos.
|
Jesy Barbosa em 1928. Revista O Violão. Arquivo Nirez. |
Segundo
o pesquisador Abel Cardoso Junior, o cronista e compositor Orestes Barbosa
escreveu sobre Jesy Barbosa, afirmando que ela era “uma fisionomia macerada,
com os olhos esquecidos no rosto triangular, e a dicção perfeita, tirando
efeitos originais, falando dentro da música, preferindo as canções de emoção e
pensamento – a última romântica num raro grupo que resiste na última trincheira
da valsa que é a musicalidade da carta de amor...”.
Conheci
o trabalho de Jesy Barbosa em 1989 através do selo Revivendo, do saudoso Leon
Barg, em um LP lançado naquele ano. O disco se chamava Terna Saudade e trazia músicas em gravações originais de Sílvio
Caldas, Elisa Coelho, Breno Ferreira e Jesy Barbosa. Desta última cantora
tínhamos os fonogramas Olhos Pálidos,
Volta e Um Beijo não é Pecado. Lembro que eu ficava horas escutando esse
disco e me impressionava com a belíssima voz de Jesy, soprano dramática, tão
clara e afinada. Com o tempo, e a ajuda de meu amigo Nirez (Miguel Ângelo de
Azevedo), fui conhecendo mais seu repertório e ficando cada vez mais seu fã.
Ela gravou mais canções românticas, várias de cunho sertanejo, verdadeiras
joias, Lenda Sertaneja, Romance Sertanejo, Coração de Cabocla, Minha Viola... Também gravou samba
canção e maxixe, Com Yayá é assim, Coração que esqueceu, Balaio
(em dueto com Mário Pessoa), além de tanguinhos canções como Canta, canta Passarinho e Coração Magoado, entre outros ritmos.
Jesy Barbosa era uma cantora romântica e exalava esse romantismo em cada
gravação, com uma interpretação sentida que dava um sabor especial a cada
composição.
|
Jesy Barbosa. Vida Doméstica, julho de 1930. Arquivo Nirez |
Vamos
conferir 21 gravações de Jesy Barbosa realizadas em 1929 e 1930 na Victor,
entre elas, as suas primeiras gravações.
Obs. As fotografias do Catálogo Victor com as informações das gravações está disponível no site do Instituto Moreira Salles.
OLHOS PALLIDOS
Canção
de Josué de Barros
Acompanhamento
da Orquestra Victor de Salão
Disco
Victor 33.208-A, matriz 50037-1
Gravado
em 11 de setembro de 1929 e lançado em novembro
MEDROSO DE AMOR
Samba
Canção de Zizinha Bessa
Acompanhamento
do Choro Victor
Disco
Victor 33.208-B, matriz 50034-2
Gravado
em 11 de setembro de 1929 e lançado em novembro
CISMANDO
Valsa
de Rogério Guimarães
Acompanhamento
da Orquestra Victor Brasileira
Disco
Victor 33.221-B, matriz 50050-4
Gravado
em 18 de setembro de 1929 e lançado em dezembro
QUERO UM HOMEM BEM VESTIDO
Marcha
Canção de B. M. de Souza
Acompanhamento
da Orquestra Victor
Disco
Victor 33.224-B, matriz 50066-2
Gravado
em 28 de setembro de 1929 e lançado em dezembro
MINHA VIOLA
Canção
de Randoval Montenegro
Acompanhamento
de Rogério Guimarães ao violão
Disco
Victor 33.264-A, matriz 50188-1
Gravado
em 26 de fevereiro de 1930 e lançado em abril
CORAÇÃO DE CABOCLA
Toada
Sertaneja de Plínio Brito
Acompanhamento
de dois violões e um bandolim
Disco
Victor 33.264-B, matriz 50172-2
Gravado
em 18 de fevereiro de 1930 e lançado em abril
CANTIGA
Toada Sertaneja de Marcelo Tupinambá e C. Neto
Acompanhamento
da Orquestra Victor de Salão
Disco
Victor 33.269-A, matriz 50173-2
Gravado
em 18 de fevereiro de 1930 e lançado em junho
VOLTA
Tango
Canção de Mário Lopes de Castro
Acompanhamento
de Conjunto Típico
Disco
Victor 33.269-B, matriz 50189-2
Gravado
em 26 de fevereiro de 1930 e lançado em junho
AMOR
Fox
Trot de E. Goulding, Elsie Janis, arranjo de Ted Eastwood
Acompanhamento
da Orquestra Victor Brasileira
Disco
Victor 33.274-B, matriz 50227-2
Gravado
em 04 de abril de 1930 e lançado em maio
QUEM AMA VIVE A SOFRER
Canção
de Sátiro de Melo
Acompanhamento
de Rogério Guimarães ao violão
Disco
Victor 33.283-A, matriz 50229-2
Gravado
em 09 de abril de 1930 e lançado em maio
SAUDADE DANADA
Canção
de Joubert de Carvalho
Acompanhamento
de Rogério Guimarães ao violão
Disco
Victor 33.283-B, matriz 50230-2
Gravado
em 09 de abril de 1930 e lançado em maio
LENDA SERTANEJA
Canção
Sertaneja de Cândido das Neves (Índio)
Acompanhamento
de Rogério Guimarães e Coro
Disco
Victor 33.284-A, matriz 50225-1
Gravado
em 03 de abril de 1930 e lançado em julho
ROMANCE SERTANEJO
Canção
Sertaneja de João Valença e Raul Valença
Acompanhamento
de Rogério Guimarães e Coro
Disco
Victor 33.284-B, matriz 50224-2
Gravado
em 03 de abril de 1930 e lançado em julho
FRUTA DO MATO
Tanguinho
de Randoval Montenegro e Domingos Magarinos
Acompanhamento
de dois violões
Disco
Victor 33.309-A, matriz 65040-2
Gravado
em 22 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931
CORAÇÃO FECHA OS OUVIDOS
Canção
de Osvaldo Orico e Zizinha Bessa
Acompanhamento
de Rogério Guimarães ao violão
Disco
Victor 33.309-B, matriz 50220-2
Gravado
em 29 de março de 1930 e lançado em fevereiro de 1931
CANTA, CANTA PASSARINHO
Tanguinho
Canção de Sátiro de Melo
Acompanhamento
de dois violões
Disco
Victor 33.320-A, matriz 503230-2
Gravado
em 14 de junho de 1930 e lançado em agosto
CORAÇÃO MAGOADO
Tanguinho
Canção de Josué de Barros
Acompanhamento
de violões e bandolim
Disco
Victor 33.320-B, matriz 50322-2
Gravado
em 14 de junho de 1930 e lançado em agosto
EU GOSTO ASSIM
Toada
de Mário Lopes de Castro e Domingos Magarinos
Acompanhamento
de Violões
Disco
Victor 33.332-A, matriz 50332-1
Gravado
em 18 de junho de 1930 e lançado em junho
CANÇÃO DA SAUDADE
Canção
de Randoval Montenegro
Acompanhamento
de violões
Disco
Victor 33.332-B, matriz 50348-1
Gravado
em 23 de junho de 1930 e lançado em junho
COM YAYÁ É ASSIM
Samba
Canção de Cândido das Neves (Índio)
Acompanhamento
de orquestra e violões
Disco
Victor 33.406-A, matriz 65043-2
Gravado
em 24 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931
CORAÇÃO QUE ESQUECEU
Samba
Canção de Randoval Montenegro
Acompanhamento
de violões e violino
Disco
Victor 33.406-B, matriz 65042-1
Gravado
em 22 de novembro de 1930 e lançado em fevereiro de 1931
Agradecimento ao Arquivo Nirez