BAHIANO Arquivo Nirez |
Entre
as gravações do começo do século XX, muitas fazem alusões à comidas e frutas. Algumas
trazem versos de duplos sentidos, maliciosos. Trago hoje o lundu A Farofa, de Francisco Teles, gravado
por Bahiano em 1912 (em 1916 ele o regravaria como cançoneta cômica). Um
simples e saboroso prato de nossa culinária pode causar alvoroço, sendo motivo
até de confissão.
Apresento
as duas gravações. A regravação apresenta versos adicionais.
A
FAROFA
(Versão
de 1912)
Lundu de Francisco Teles
Gravado por Bahiano
Acompanhamento de violão
Disco Odeon Record 10.324
Lançado em dezembro de 1912
Ando
há muito procurando
Eu
mesmo não sei o quê
De
fazer uma farofa
Misturada
com dendê
-
Eu gosto de farofa sem o rabisco
Tanto
que dizem que ela é boa
Mas
é possível levar pimenta, gordura e etc
Um
pouquinho de manteiga
Por
isso dizem que:
A
farofa misturada,
Muita
força a gente dá.
Faz
assim uns tremeliques
Se
é comida com vatapá
Bem
me disse o padre Chico
Não
se coma com fartura
Que
faz mal muita farofa
Com
pimenta e com gordura
-
Mas vejam, eu fui me confessar
E
o padre Chico perguntou
Por
que é que eu andava tão endiabrado
Eu
disse a ele, eu não sei, seu padre
Ah,
eu acabei de jantar uma farofazinha
Que
eu ando comendo aí.
Ele
perguntou, é bom?
Eu
digo, é.
Então
eu cantei o padre
Não!
Eu cantei pra o padre ouvir, assim:
Essa
farofa misturada
Muita
força, a gente dá
Faz
ficar endiabrado
Se
é comida com vatapá.
-
Imagine que depois disso, o padre caiu na farofa que foi uma garapa!
A
FAROFA
(Versão
de 1916)
Cançoneta de Francisco Teles
Gravada por Bahiano
Acompanhamento de cavaquinho e violão
Disco Odeon Record 121.061
Lançado em 1916
Ando,
há muito, procurando
Eu
mesmo não sei o quê
De
fazer uma farofa
Misturada
com dendê
-
Olhe, a farofa é uma coisa boa, não resta dúvida, hein? Quando ela leva bem
pimenta, bem gordura, um pouquinho de azeite de dendê, e já sabe que:
A
farofa misturada
Muita
força a gente dá
Faz
ficar endiabrada
Se
é comida com vatapá
Bem
me disse o padre Chico
Não
se coma com fartura
Que
faz mal muita farofa
Com
pimenta e com gordura
-
Ahhahaha, ai, essa foi boa. Uma vez eu fui me confessar. E quando cheguei lá na
igreja, o padre Chico me perguntou: Oh, seu Bahiano, por que o senhor anda tão
levado do diabo? Eu não sei, não seu padre. Quem sabe se não será por causa de
uma farofazinha que eu ando comendo aí, e tal. E ele: E é bom? Eu digo: É sim.
Então você cante isso aí lá pra eu ver. Então, eu cantei o padre. Não! Cantei o
padre, não. Cantei pra o padre ouvir, assim. Cantei assim:
A
farofa misturada
Muita
força a gente dá
Faz
ficar endiabrada
Se
é comida com vatapá
Certa
moça que eu conheço
Ficou
como um pimentão
Por
comer muita farofa
Numa
certa ocasião
-
Ahahaha, ai. Ora, eu conheci uma moça muito pálida! Depois de um tempo passado
eu encontrei ela muito encarnada! Então, perguntei, assim: Venha cá, menina,
por que é que você está assim? E ela: Eu não sei não, seu Bahiano. Acho que é
por causa de farofa que eu ando comendo, aí. E o que é que tem a farofa? Não, é
que a farofa leva pimenta, sabe que a pimenta... Ah! Dessas farofas, minha
filha, tá doido!?
É
que a farofa misturada
Muita
força a gente dá
Faz
ficar muito encarnada
Se
é comida com vatapá.
E
a farofa remexida
Existe
uma rapariga
Eu
tô vendo ela demais
Ver
crescendo a barrida
-
Raios parta o diabo da farofa! Imagine que a rapariga foi comer farofa e comeu
com um pouquinho de feijão, feijão grosso, feijão fava, sabe? Acontece que a
barriga foi crescendo... Ahahaha ai!
A
farofa misturada
Muita
força a gente dá
Faz
crescer muito a barriga
Se
é comida com vatapá.
Agradecimento ao Arquivo Nirez
Nenhum comentário:
Postar um comentário