Na foto acima, Pepa Delgado está em frente de sua casa, no bairro do Encantado
(RJ).
Essa fotografia é
especial de várias formas.
Foi tirada por
Heitor, filho de Pepa, no último aniversário da cantora, em 21 de julho de
1944, quando ela completou 57 anos, e está dedicada à ela em seu verso. Na
década de 2000, a neta de Pepa iria fazer uma nova dedicatória no verso, logo
abaixo da escrita por seu pai, e oferecer a mim, que guardo com muito carinho e
admiração.
No inicio da década
de 1990 eu participava das reuniões de colecionadores e amantes da MPB que
acontecia todo sábado na Praça do Ferreira, aqui em Fortaleza. Eu chegava por
volta das 11:00 e ficava até umas 13:00 ouvindo histórias, vendo discos e
fazendo amizades. Nessa época eu já tinha alguns anos de pesquisa e conhecia os
intérpretes dos anos 30, 40. Graças ao saudoso amigo sr. Célio Oliveira eu
recebi uma fita cassete com várias gravações de diversos intérpretes. Entre
eles estavam Pepa Delgado e Mário Pinheiro cantando O Vendeiro e a Mulata. Costumo
dizer que minha relação com Pepa foi "amor a primeira audição". Logo,
fiquei curioso para saber quem era aquela cantora da Casa Edison tão desenvolta
e extrovertida. Já conhecia o Mário de outras gravações, mas ela era novidade.
Meus colegas colecionadores sabiam pouca coisa sobre ela. Sobre sua família,
então, nem pensar. Talvez nem existissem mais ninguém.
Através de amigos
como o sr Aldo Santiago e Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo), pude saber alguns
dados sobre sua vida e ouvir mais gravações. Em um livro do Ary Vasconcelos,
Pepa Delgado era um dos nomes enfocados. Lá, havia o nome de seu filho e netos.
E, por incrível que pudesse parecer, entrei em contato com o sr. Heitor
Delgado, único filho da cantora. Cada vez mais ela fazia parte de minha vida
como uma realidade. Sua neta me escrevia e enviava fotografias e objetos
pessoais da avó. Seu filho me falava sobre sua mãe, se dizia emocionado por eu
estar lembrando dela, e relembrava seu grande sucesso Vem cá, mulata, dizendo
que entre os discos que guardados por Pepa ele se recordava de um: O Carnaval de 1910, gravado
pela Banda da Casa Faulhaber.
Infelizmente ele
faleceu repentinamente, sem que eu pudesse conhecê-lo. Não sei se chegou a ver
meu artigo no site Brasil em
Cena, onde pela primeira vez as fotos de Pepa foram à internet, com
informações sobre sua vida. Anos depois, conheci sua neta em um encontro cheio
de emoções. Também conheci mais integrantes da família, inclusive a nora de
Pepa Delgado.
Há 70 anos ela faleceu, em 11 de março de 1945.
Herdei de Pepa e do
sr. Heitor várias fotografias, discos e objetos pessoais que guardo com o
carinho e admiração de um familiar. Me envolver com Pepa Delgado não foi só
descobrir a grande atriz-cantora que ela foi, pioneira na gravação de discos e
no cinema, mas, foi conhecer uma mulher que teve uma vida plena de realizações,
seja no trabalho ou na vida pessoal. Alguém que era feliz e repartia essa
felicidade com quem estivesse próximo, fossem pessoas ou animais, que ela
adotava sempre que encontrava na rua. Estar imerso nessas memórias musicais é
gratificante e me faz feliz.
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