quinta-feira, 12 de março de 2015

PEPA DELGADO, 70 ANOS DE SAUDADE



Na foto acima, Pepa Delgado está em frente de sua casa, no bairro do Encantado (RJ).
Essa fotografia é especial de várias formas.
Foi tirada por Heitor, filho de Pepa, no último aniversário da cantora, em 21 de julho de 1944, quando ela completou 57 anos, e está dedicada à ela em seu verso. Na década de 2000, a neta de Pepa iria fazer uma nova dedicatória no verso, logo abaixo da escrita por seu pai, e oferecer a mim, que guardo com muito carinho e admiração.


No inicio da década de 1990 eu participava das reuniões de colecionadores e amantes da MPB que acontecia todo sábado na Praça do Ferreira, aqui em Fortaleza. Eu chegava por volta das 11:00 e ficava até umas 13:00 ouvindo histórias, vendo discos e fazendo amizades. Nessa época eu já tinha alguns anos de pesquisa e conhecia os intérpretes dos anos 30, 40. Graças ao saudoso amigo sr. Célio Oliveira eu recebi uma fita cassete com várias gravações de diversos intérpretes. Entre eles estavam Pepa Delgado e Mário Pinheiro cantando O Vendeiro e a Mulata. Costumo dizer que minha relação com Pepa foi "amor a primeira audição". Logo, fiquei curioso para saber quem era aquela cantora da Casa Edison tão desenvolta e extrovertida. Já conhecia o Mário de outras gravações, mas ela era novidade. Meus colegas colecionadores sabiam pouca coisa sobre ela. Sobre sua família, então, nem pensar. Talvez nem existissem mais ninguém. 

Através de amigos como o sr Aldo Santiago e Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo), pude saber alguns dados sobre sua vida e ouvir mais gravações. Em um livro do Ary Vasconcelos, Pepa Delgado era um dos nomes enfocados. Lá, havia o nome de seu filho e netos. E, por incrível que pudesse parecer, entrei em contato com o sr. Heitor Delgado, único filho da cantora. Cada vez mais ela fazia parte de minha vida como uma realidade. Sua neta me escrevia e enviava fotografias e objetos pessoais da avó. Seu filho me falava sobre sua mãe, se dizia emocionado por eu estar lembrando dela, e relembrava seu grande sucesso Vem cá, mulata, dizendo que entre os discos que guardados por Pepa ele se recordava de um: O Carnaval de 1910, gravado pela Banda da Casa Faulhaber.

Infelizmente ele faleceu repentinamente, sem que eu pudesse conhecê-lo. Não sei se chegou a ver meu artigo no site Brasil em Cena, onde pela primeira vez as fotos de Pepa foram à internet, com informações sobre sua vida. Anos depois, conheci sua neta em um encontro cheio de emoções. Também conheci mais integrantes da família, inclusive a nora de Pepa Delgado. 

Há 70 anos ela faleceu, em 11 de março de 1945.

Herdei de Pepa e do sr. Heitor várias fotografias, discos e objetos pessoais que guardo com o carinho e admiração de um familiar. Me envolver com Pepa Delgado não foi só descobrir a grande atriz-cantora que ela foi, pioneira na gravação de discos e no cinema, mas, foi conhecer uma mulher que teve uma vida plena de realizações, seja no trabalho ou na vida pessoal. Alguém que era feliz e repartia essa felicidade com quem estivesse próximo, fossem pessoas ou animais, que ela adotava sempre que encontrava na rua. Estar imerso nessas memórias musicais é gratificante e me faz feliz.







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