Marlene
Dietrich foi, sem dúvida, uma grande mulher. Não somente por sua beleza e
glamour, mas, por ter se engajado durante a II Guerra Mundial contra o Nazismo,
indo diretamente para o Front, onde a guerra estava acontecendo e (correndo
risco de morte) entretendo milhares de soldados que, por algum momento, se
esqueciam dos horrores da guerra ao som de sua voz. Depois da Guerra, Marlene
passou a cantar cada vez mais. Cantar os amores, dissabores e, principalmente,
cantar pela paz.
Alemã
de nascimento, naturalizou-se americana nos anos 30, em resposta aos nazistas
que a queriam como musa. Quando foi para Hollywood, já como estrela de O Anjo
Azul, ingressou como musa exótica. Hollywood sempre contratou estrelas
internacionais, como Pola Negri, Greta Garbo, Asta Nielsen, entre outras, para
exibi-las como mulheres fatais envoltas em mistério. A época pedia isso e até
atrizes americanas, como Theda Bara, teriam suas biografias mudadas para se
tornarem pessoas vindas de muito longe, do oriente ou de algum lugar onde só
nossa imaginação podia vislumbrar.
A
matéria de Raul Lellis, para O Cruzeiro, de 04 de junho de 1931, mostra essa realidade, onde o exótico
encantava. Mas, também nos mostra o nascimento do mito Marlene Dietrich, cujas
belas pernas encantaram até a idade avançada.
Marlene
mulher, beleza e talento, das páginas de O Cruzeiro para o nosso blog, graças
ao Arquivo Nirez.
Marcelo Bonavides de Castro
AS MAIS BELLAS PERNAS DO CINEMA
Por Raul Lellis
“Exotica
flor meridional, nascida e creada na estufa dos valles germânicos, Marlene
Dietrich tem em si, a um só tempo, no rosto a frieza estranha das mulheres nordicas,
e no corpo a morna perfeição de linhas que é o maior thesouro das mulheres do
sul.
Nos
seus olhos, na curvatura forte dos seus labios, no arqueado leve dos seus supercilios,
parece haver a sombra de um mysterio que a vontade e o espirito humano não
penetram. Quando, lentas e doces, as suas palpebras descem, velando-lhe a
luminosidade dos olhos irisados de fulgurações perturbadoras, quem a contempla,
na tela embora, lembra, involuntariamente, a preguiça luxuriosa de um felino
que cerrasse os olhos para melhor sonhar, nas trevas interiores, com a presa
que lhe desperta a gula...
Mas
a vida, toda a vida dessa mulher fascinadora e differente de todas a mulheres,
parece que se concentrou nas suas pernas, nessas pernas que falam mais do que
os olhos, do que os labios, do que o corpo todo, nessas pernas que são como
columnas talhadas por cinzel de mestre para sustentar-lhe a maravilha
esculptural do corpo.
Hoje,
depois de ter visto Marrocos e Deshonrada, os dois films da estrella, a critica
americana, elogiando-lhe o trabalho, elogia-lhe tambem as pernas, por conta das
quaes corre, no dizer de Von Sterneberg, cincoenta por cento de seducção da
artista...
Que
mulher!...
Della
não dizem bastante os flagrantes photographicos que aqui ficam?
Seria
crueldade exhibir mais...
Raul
Lellis.”
Obs. Matéria copiada na íntegra, com grafia, acentuação e pontuações originais.