CARMEN MIRANDA Arquivo Nirez |
Quando Carmen Miranda faleceu, em 05 de agosto de 1955, o
show business perdia uma grande artista. Porém, quem mais saiu desfalcado foi o
Brasil, que perdeu uma de suas maiores intérpretes, seja de marchinhas,
batucadas e, principalmente, de samba.
Muitos conhecem a imagem de uma mulher com um turbante de
frutas.
Em alguns casos, não sabem o nome da artista, apenas
identificam a imagem mundialmente conhecida e gravada no imaginário popular.
A fase brasileira de
Carmen Miranda na música, que vai de 1929 a 1939, então, ainda é bastante
desconhecida pela maioria dos brasileiros. Para compreendermos a importância desse
período devemos esquecer a imagem da baiana estilizada. Feito isso, comecemos
por 1929, em suas primeiras gravações. Durante os anos 30 encontramos várias Carmens nas gravações, mas, com o mesmo
estilo. A jovem em início de carreira,
ainda imitando a cantora Aracy Côrtes em seus agudos, cantava músicas bem ao
estilo da moda de então: sambas (cujos ritmos lembravam o maxixe), toadas, marchas e tangos. Ao começar a gravar,
em setembro de 1929, foi levada pelo compositor e violonista baiano Josué de
Barros (seu descobridor) para gravadora Brunswick. Lá, gravou apenas um disco,
com dois sambas de Josué, Se o samba é
moda e Não vá simbora. Devido à demora do lançamento e acreditando
no potencial de sua pupila, o compositor a levou para outra gravadora, a
Victor, que também iniciava suas atividades no Brasil. Nesse novo espaço, a
cantora iniciante estaria ao lado de gente experiente e de sucesso. A estrela
da casa era Jesy Barbosa, poetisa e soprano lírico que cantava muito bem
canções regionais. O diretor artístico era o violonista e compositor Rogério
Guimarães. Nos primeiros discos, Carmen já mostrava seu talento e sua forma
única de cantar, sorrindo com toda a alma, até parecia que cantava para amigos.
CARMEN MIRANDA Arquivo Nirez |
De certa forma, era isso que acontecia. Aos poucos ela ia
conquistando fãs, através dos discos e apresentações, e também fazendo amigos
no meio artístico. A própria Jesy se lembraria dela cinquenta anos depois como
colega camarada e generosa. Os outros amigos eram os músicos que a
acompanhavam, entre eles e com frequência, os compositores e músicos Pixinguinha
e Donga.
As mudanças que o samba passou por essa época foram
acompanhadas pela interpretação de Carmen Miranda. Basta ouvirmos Será você?, de Carlos Medina, gravado em
1930, e compararmos com Mulato de
qualidade (1932), de André Filho. Nesses dois anos é bastante perceptível
sua maturidade como intérprete. A mocinha ingênua ia dando lugar à mulher
independente, refletindo também as mudanças e conquistas que as mulheres
passavam nos anos 30. Se analisarmos suas gravações ao longo dos anos veremos
essa progressão.
Por volta de 1937, já gravando na Odeon, e com muitos discos lançados, ela já era a mais famosa e bem sucedida cantora brasileira. Se antes,
ser cantora de rádio era totalmente proibido às mocinhas, então, passou a ser o
sonho de muitas, incentivadas por suas famílias. As novas cantoras, como Sônia
Carvalho e Aracy de Almeida, haviam se inspirado no estilo de Carmen para cantar.
Famosa em excursões internacionais (todos os anos se
apresentava na Argentina), no cinema, rádio, cassino e discos, a Pequena
Notável continuava com sua ginga e bossa totalmente atualizadas. Mostrava que
era bamba ao gravar Cachorro vira lata
(Alberto Ribeiro, 1937), Camisa listada
(Assis Valente, 1937), E o mundo não se
acabou (Assis Valente, 1938). Há ainda músicas (hoje) menos conhecidas,
porém, não menos belas como Veneno pra
dois (Alberto Ribeiro e João de Barro, 1938) e Candieiro (Kid Pepe e David Nasser, 1939).
Para termos uma ideia de sua importância e brasilidade para
a música brasileira dos anos 30, basta imaginarmos alguns compositores desse
período, Ismael Silva, Assis Valente, Noel Rosa, Sinval Silva e Ary Barroso, e
sabermos que ela, como intérprete, foi tão grande e talentosa quanto eles. Aqui
no Brasil, Carmen Miranda não só mudou a forma de se cantar a música popular,
mas, a tornou objeto de admiração de todas as classes.
Ao final da postagem, confiram algumas das músicas gravadas por Carmen Miranda que foram citadas nesse artigo
As gravações de seu primeiro disco serão abordadas em uma postagem especial.
CARMEN MIRANDA Arquivo Nirez |
Carmen Miranda, 1939 http://memoria.bn.br |
Carmen Miranda, 1939 http://memoria.bn.br |
Sambas de Carmen Miranda
Samba de Carlos Medina
Acompanhamento da Orquestra Victor Brasileira
Disco Victor 33.323-A, matriz 50345-1
Gravado em 21 de junho de 1930 e lançado nesse mesmo mês
MULATO DE QUALIDADE
Samba de André Filho
Acompanhamento do Grupo do Canhoto
Disco Victor 33.579-A, matriz 65505-2
Gravado em 01 de junho de 1932 e lançado em agosto desse mesmo ano
CACHORRO VIRA LATA
Samba choro de Alberto Ribeiro
Acompanhamento de Benedito Lacerda e seu Regional
Disco Odeon 11.482-A, matriz 5571
Gravado em 04 de maio de 1937 e lançado em junho desse mesmo ano
CAMISA LISTADA
Samba choro de Assis Valente
Acompanhamento do Grupo da Odeon
Disco Odeon 11.530-B, matriz 5667
Gravado em 29 de setembro de 1937 e lançado em novembro desse mesmo ano
E O MUNDO NÃO SE ACABOU
Samba choro de Assis Valente
Acompanhamento de Conjunto Regional
Disco Odeon 11.587-A, matriz 5777
Gravado em 09 de março de 1938 e lançado em abril desse mesmo ano
VENENO PRA DOIS
Samba de Alberto Ribeiro e João de Barro
Acompanhamento do Grupo da Odeon
Disco Odeon 11.613-B, matriz 5823
Gravado em 04 de maio de 1938 e lançado em julho desse mesmo ano
Acompanhamento do Grupo da Odeon
Disco Odeon 11.613-B, matriz 5823
Gravado em 04 de maio de 1938 e lançado em julho desse mesmo ano
CANDIEIRO
Partido Alto de Kid Pepe e David Nasser
Acompanhamento do Conjunto Odeon
Disco Odeon 11.729-A, matriz 6033
Gravado em 21 de março de 1939 e lançado junho desse mesmo ano.
Agradecimento ao Arquivo Nirez
Do mesmo modo que pouca gente conhece Carmen Miranda sem seu turbante de frutas, também pouca gente sabe que ela não era brasileira.
ResponderExcluirE o pior de tudo é que, pelo que tenho notado ultimamente, há muitos que nunca ouviram falar em seu nome...
E ela não é a única! Há muitos artistas ainda vivos, que fizeram parte até mesmo de nossa história política, que são totalmente desconhecidos por muita gente.
A nós, que nos preocupamos com a memória cultural, isso pode soar absurdo e até impossível, mas basta ouvirmos uma conversa de alguns minutos para constatarmos que esta é uma triste realidade.