O cantor Francisco Alves iniciou sua carreira artística na segunda metade dos anos 10. Ingressando no teatro de revista onde sua irmã, Nair Alves (ou Lina), já trabalhava, ele acabou por chamar a atenção da estrela Zazá Soares (também conhecida por A Bela Zazá).
Já li em algum lugar (estou procurando onde - a fonte) que Zazá gostava de ouvi-lo cantar modinhas ao violão. Durante os intervalos dos ensaios ela sempre pedia para chamar o Chico para ouvir sua bela voz. Mas, como haviam dois Francisco (e, assim, Chico) na Companhia, muitas vezes havia engano. Daí, ela passou a pedir que chamassem o Chico da viola. Sem mais enganos, dessa forma, nascia a primeira grande alcunha do cantor, Chico Viola.
Assim, ele continuou sua carreira como ator e em 1919 gravou seu primeiro disco na gravadora A Popular, de João Batista Gonzaga, esposo de Chiquinha Gonzaga.
Na década de 1920, ele "estourou" como cantor em 1927, quando seus discos vendiam cada vez mais e sua voz se tornava conhecida nacionalmente, agradando a todos, seja na fase mecânica ou na elétrica.
Da esquerda para a direita: a irmã, Nair Alves, interpretando a Melindrosa, Francisco Alves (Almofadinha) e Marieta Field (Coronel). Sonho de Ópio, 1923. |
Porém, ainda na primeira metade dos anos 20, quando aliava ao trabalho de ator a função de chofer de praça, Francisco Alves gravou dois discos para a Casa Edison.
Um disco trazia as músicas: Chammas do Carnaval, marcha carnavalesca que ele gravou como Coro do Theatro São José (seus colegas de palco. Creio que a atriz Júlia Martins está no coro), e Miudo, samba carnavalesco gravado com o Grupo do Sebastião e Coro (parecido com o do São José), as músicas são da autoria de Sebastião Santos Neves.
Foi gravado no dia 24 de janeiro de 1924.
Chammas do Carnaval era dedicada ao cronista carnavalesco do Jornal do Brasil, Meúdo.
Também era oferecido ao Grupo das Sabinas, bloco carnavalesco.
Ela ainda foi adotada como marcha oficial do rancho União das Flores, que ficava na Rua General Bruce, em São Cristóvão, Rio de janeiro. A notícia foi dada ao Jornal do Brasil pelo folião Elmano Neves, que era Secretário da União das Flores. Ele avisava que os ensaios aconteciam às quartas-feiras (das 17h às 22h) e aos domingos(das 13h às 16h). O jornal garantia-lhe que o homenageado, Meúdo, iria surgir em algum ensaio para ouvir o corpo coral ensaiar Chammas do Carnaval.
Também foi vencedora no concurso de sambas e marchas carnavalescas promovido no Sábado de Aleluia de 1924 pela Casa Edison. O autor ganhou um conto de réis.
O autor, Sebastião Santos Neves, era famoso nessa década por seus sambas. Fez parte, com Josué de Barros e outros, do conjunto Cotubas de Macaé. Em 1928, o jornal A Esquerda o citava com Rei do Samba.
Miudo tinha uma letra maior, mas, só foram gravadas três estrofes e o refrão. Infelizmente, o jornal tinha um rasgo na última estrofe.
A música faz alusão à companhia francesa Ba-Ta-Clan (Bataclan, na grafia atual), cuja estrela era Mistinguett, que fez muito sucesso no Rio de Janeiro no começo dos anos 20, influenciando costumes e recebendo homenagens, como músicas e influenciando novas companhias teatrais.
Ao que parece, era uma crítica aos novos compositores de samba.
Freire Júnior estaria incluído neles? Afinal nesse mesmo ano de 1924, ele havia lançado o samba carnavalesco De Bam Bam Bam, um dos sucesso desse carnaval. De certa forma, a letra menciona a composição de Freire Júnior.
Dá a entender que misturando os novos modismos com a inexperiência de compositores novatos, o samba terminava por se descaracterizar, como se fosse algo estrangeiro. Afinal, segundo a letra, o samba é complicado.
O outro disco trazia: Não Me Passo Pra Você, marcha carnavalesca, e Mademoiselle Cinema (Mlle. Cinema), marcha carnavalesca, ambas de Freire Júnior. Em 1925, estrearia o filme Mlle. Cinema, estrelado por Carmen Santos.
Felizmente, chegou até nós um dos dois discos. Miudo/Chammas do Carnaval foi encontrado no Sul e doado ao pesquisador Abel Cardoso Júnior no inicio da década de 1990. Abel fez uma cópia ao seu amigo, o também pesquisador Nirez, e emprestou a Roberto Gambardella (de SP) para que fizesse cópia. O sr. Roberto também fotografou o selo de Miudo. Depois, Abel doou o disco ao pesquisador Leon Barg, de Curitiba.
Aqui, trago a cópia que Abel Cardoso Júnior fez a Nirez. A foto do selo de Miudo foi especialmente cedida pelo colecionador Djalma Candido, que fotografou o quadro do também pesquisador Roberto Gambardella.
Em minhas pesquisas, consegui a letra das duas músicas.
Aqui estão. Qualquer novidade que eu for encontrando irei acrescentando aqui ou em novas postagens.
Chammas do Carnaval
Marcha Carnavalesca de Sebastião Santos Neves
Gravado por Francisco Alves e o Coro do Theatro São José
Disco Odeon Record 122.648
Gravado em 24 de janeiro de 1924 e lançado nesse mesmo ano.
Miudo
Samba Carnavalesco de Sebastião Santos Neves
Gravado por Francisco Alves com o Grupo do Sebastião e Coro
Disco Odeon Record 122.649
Gravado em 24 de janeiro de 1924 e lançado nesse mesmo ano.
Jornal do Brasil Sábado, 24 de janeiro de 1925. http://memoria.bn.br |
CHAMMAS DO CARNAVAL
1ª parte
O Carnaval que nos dá o alento
Nos desvanece tantos tormentos
Distrae as maguas
Distrae as dores
E os dissabores do pensamento.
2ª parte
Salve estes tres dias
Que nos dão prazer
E nos esvae as maguas
Que não cessam de soffrer
O Carnaval tem chammas
Chammas, sim de sensação
É quem dá conforto a este
Ou aquelle coração.
TRIO
A Colombina
Sempre altiva e faceira que flôr!
A gigolette
Esta então nos domina o amor
Vae-se o Carnaval
Voltam as tristezas
Mas que dor!
Jornal Correio da Manhã Sábado, 19 de janeiro de 1924. http://memoria.bn.br |
MIUDO
Seus sambistas da “estrella”,
A verdade é um fato? É!
O samba é complicado
Comprehendam como quisé...
CORO
Era tam, tam, tam,
Ficou bam, bam, bam.
Dou tres pulos para o alto, oi!
Virou BA-ta-clan!...
Quatro compassos não é musica,
Ora bolas que pipoca.
Isso acaba fattigando
O pessoal carioca.
Era tam, tam, tam, etc.
Uns escrevem minha santa,
E outros minha querida!
Quatro compassos não é musica,
Vão procurar outra vida!...
Era tam, tam, tam, etc.
Esses rapazes de agora,
Que não conhecem muamba,
Nunca andaram na travanca
Como podem fazer samba!...
Era tam, tam, tam, etc.
Meus sambistas da corôa,
................uelles que tem
.......................................
.......................................
Jornal do Brasil Sexta-feira, 25 de janeiro de 1924. http://memoria.bn.br |
Agradecimento ao Arquivo Nirez e a Djalma Candido
Esses discos se perderam talvez por que foram pouco prensados e vendidos; o disco perdido dele nunca foi achado mas talvez tenha no inferno (a numeração diz tudo:122.*666* e 122.66122.667), tomara que um dia alguém ache
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