Jovem pianista patrícia, uma
das figuras mais aplaudidas do nosso mundo artístico, regressou recentemente da
Europa, em cujas principais cidades de cultura musical, da Alemanha e França,
se fez ouvir com grande êxito. - Deu um recital no nosso Theatro Municipal,
este mês, que constituiu uma nota finíssima de arte. (Revista Phono-Arte, 30 de agosto de 1930).
Muitas vezes uma ligeira satisfação domina um profundo aborrecimento.
Quando quiser alegrar o seu espírito pelo paladar - quem negará que o paladar é um dos melhores veículos do bom humor? - exija do seu fornecedor os deliciosos biscoitos Aymoré "Champagne".
São biscoitos finíssimos, levemente adocicados e tão apetitosos que basta a sua simples aparência para fazer vir água à boca. (Revista O Cruzeiro, 20 de junho de 1931).
Há 111 anos, nascia no Rio de Janeiro, em 24 de março de 1902, o cantor, humorista e compositor Januário de Oliveira Januário de Oliveira Chirico).
Januário de Oliveira consolidou sua carreira em São Paulo.
Estreou na Rádio Sociedade, indo depois para a Rádio Clube do Brasil. O compositor Sinhô (José Barbosa da Silva), o levou para São Paulo em 1929.
Foi um dos grandes cantores populares da década de 1930.
Ele faleceu em 22 de fevereiro de 1963.
Januário de Oliveira foi um dos grandes intérpretes de nossa música. Hoje, esquecido pela maioria das pessoas e lembrado por poucos que se interessam em descobrir nosso passado musical. Sua discografia é de primeiríssima qualidade, revelando o que de melhor havia em sambas, canções, valsas, no final dos anos 20 e durante os anos 30.
Felizmente, ele seria relembrado pelo selo Revivendo de Curitiba, fundado pelo saudoso pesquisador Leon Barg. Foi através dessa empresa que conheci o trabalho de Januário de Oliveira. Entre as músicas que mais me marcaram estavam Cauhã e Engenho Novo.
Vamos ouvir Januário de Oliveira interpretando Sinhô (José Barbosa da Silva), nas treze músicas gravadas por ele.
Sinhô (José Barbosa da Silva).
"Chequerê"
Choro, gravado na
Colúmbia, em São Paulo
Sinhô estava
presente, pois havia viajado em maio de 1929 para São Paulo para o lançamento
da candidatura de Júlio Prestes. Aproveitou e realizou cinco gravações na
Colúmbia, inclusive fazendo o acompanhamento de piano e violão. O outro violão
era de Pedroso, famoso instrumentista de São Paulo.
Acompanhamento de
Sinhô e Pedroso
Disco Colúmbia
5.084-B, matriz 380269
Lançado em setembro
de 1929
Como Se Gosta
Valsa
Acompanhamento de
Sinhô ao piano e Pedroso ao violão.
Disco Colúmbia 5.104-B,
matriz 380270-1
Lançado em setembro
de 1929
Minha Branca
Samba gravado na
temporada paulistana de Sinhô.
Acompanhamento de
Sinhô ao piano e Pedroso ao violão.
Disco Colúmbia 5.085-B,
matriz 380271
Lançado em setembro
de 1929
“Nossa Senhora do
Brasil”
As aspas no título
desta canção se justificam pelo fato da santa não ser a de Aparecida do Norte,
e sim, a pintora Tarsila do Amaral, que recebeu Sinhô com muito carinho em São
Paulo, em 1929, e, de certa forma, foi sua protetora.
Nos versos Sinhô
cita: “Nossa Senhora Tarsila, é a santa brasileira. Que a gente não vacila, em
chamar bem brasileira”.
No estúdio de
gravação, só “feras”.
Sinhô ao piano,
Pedroso ao violão, Januário de Oliveira no canto e, na segunda voz o ator
Henrique Chaves.
Disco Columbia 5.084-B,
matriz 380272
Lançado em setembro
de 1929.
Missanga
Marcha chula
editada com o nome de Ó Rosa (Muito Brasileira), para o carnaval de 1926, em
homenagem a N. S. da Penha, sendo gravada por Pedro Celestino. Foi regravada
com o nome de Miçanga pelo Jazz Band Columbia em 1930, na voz de Januário de
Oliveira, cujo nome não aparece no selo do disco. Sinhô assina como J. Curangi,
um de seus pseudônimos.
Marcha com
estribilho
Disco Colúmbia 5.167-B,
380544
Lançado em
fevereiro de 1930
Sem amor
No selo do disco
vem como marcha, mas, trata-se de um samba.
Foi gravada
originalmente por Carlos Serra em 1927.
A gravação de
Januário de Oliveira tem o acompanhamento de Gaó, Jonas, Petit, Zezinho, Sutte
e Grany (alguns dos melhores músicos de São Paulo).
Disco Colúmbia 5.185-B,
matriz 380610
Lançado em março de
1930.
Viva a Penha
Editado em 1926 (e
dedicado aos Irmãos Vitale), era tido como maxixe, e assim foi gravado nesse
mesmo ano pelo American Jazz-Band Sílvio de Sousa.
Gravado com letra
somente em 1930 por Januário de Oliveira, foi designado como samba.
Acompanhamento do
Jazz-Band Columbia.
Disco Colúmbia 5.212-B,
matriz 380679
Lançado em junho de
1930
Cauhã
Cauã (também
conhecido como acauã) é um pássaro brasileiro. Sinhô amava os pássaros e compôs
várias músicas com seus nomes: Bem-te-vi, Sabiá, Maitaca...
Cauã é uma valsa
choro e, por sinal, uma das mais bonitas valsas brasileiras. Foi tocada na
novela Kananga do Japão, de 1989, somente instrumental, enquanto os personagens
Sílvia (Júlia Lemmertz) e Henrique (Paulo Castelli) dançavam.
Acompanhamento de
Orquestra
Disco Colúmbia 5.215-B,
matriz 380671
Lançado em junho de
1930
Sou da Fandanga
Marcha
carnavalesca.
Aqui, eis uma
dúvida: como já dissemos, Januário de Oliveira imitava diversas vozes,
inclusive soprano. Mas, nesta gravação, penso que a voz feminina seja da
cantora Elsie Houston. Januário e Elsie gravaram três músicas juntos. Pela
numeração dos discos, Sou da Fandanga está muito próximo a uma gravação que os
dois fizeram (provavelmente feitas no mesmo dia). Como no selo do disco não vem
o nome de Januário de Oliveira, somente Jazz Band Columbia, é provável que
Elsie Houston tenha participado da gravação.
Disco Colúmbia 5.226-B,
matriz 380709
Acompanhamento do
Jazz Band Columbia
Lançado em julho de
1930
Salve-se quem puder
Samba com
estribilho. No selo do disco não vem o nome de Januário de Oliveira, somente da
Jazz Band Columbia.
Disco Colúmbia 5.226-B,
matriz 380732
Lançado em julho de
1930
Bemzinho
Choro canção
No selo do disco
não consta o nome de Januário de Oliveira, apenas traz o da Jazz Band Columbia.
Disco Columbia 5.229-B,
matriz 380687
Lançado em julho de
1930
Antes, ainda teve
gravações feitas por Gustavo Silva e Arthur Castro, ambas em 1926.
Fala macacada
Samba toada
Januário de
Oliveira gravou com o Jazz Band Columbia, dirigido pelo maestro Gaó.
Disco Columbia 7.017-B
Lançado em setembro
de 1930, um mês após o falecimento de Sinhô
Professor de Violão
Samba
Foi gravado em
disco Arte Fone, uma pequena gravadora de São Paulo instalada, no fim de 1931,
no alto da Moóca, na Rua Hípia.
Uma gravação de
Januário de Oliveira muito rara.
Segundo Abel
Cardoso Junior, Sinhô havia sido professor de violão e, neste samba, celebrava
a aceitação do instrumento, da música popular e do preto (ele) na casa da “fina
elite”. Deve ter sido composto em São Paulo, sob a impressão da recepção
calorosa que teve. Foi gravado mais de um ano depois do falecimento de Sinhô.
Acompanhamento de
Regional
Disco Arte Fone
4.020-A, matriz 4020-A
Lançado em 1932.
Agradecimento ao Arquivo Nirez Fonte dos dados: Abel Cardoso Junior e Marcelo Bonavides http://www.dicionariompb.com.br
Há 150 anos nascia o pianista e compositor ERNESTO NAZARETH.
Assim como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth foi de uma importância fundamental para a formação de nossa música. Foi considerado um dos grandes nomes do Tango Brasileiro, gênero hoje visto como uma vertente do choro. Sua obra, quase toda voltada ao piano, muitas vezes retrataram o ambiente das serestas e choros. Mozart de Araújo escreveria sobre ele: "As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a qualquer compositor de sua categoria".
Sua obra começou a ser gravada no início do século XX, pela Casa Edison. Ele participaria de algumas gravações, em outras a melodia era sua, porém, os versos de outros autores. Várias melodias suas deram origens a outras composições, muitas delas vindas do Teatro de Revista.
Trago em sua homenagem 42 músicas em gravações originais. Algumas interpretadas por ele, porém, a maior parte por músicos ou orquestras contemporâneas dele.
Antes das músicas, umas curiosidades muito interessantes:
Ernesto Nazareth participou ao lado da soprano Zaíra de Oliveira na programação da Rádio Clube do Brasil em 1929, como nos informou o amigo e biógrafo de Ernesto Nazareth, Luiz Antônio de Almeida.
Em janeiro de 1929, Ernesto Nazareth participava de um evento beneficente realizado pelo deputado baiano Anníbal Duarte no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Entre os artistas que cantaram várias músicas regionais estava um grupo de amadoras (mocinhas que eram alunas de canto do compositor Josué de Barros). Entre elas, as futuras cantoras Carmen e Aurora Miranda. Na ocasião, Carmen estava prestes a completar 20 anos e ainda era completamente desconhecida. Esta era a sua primeira aparição perante a um público que não era sua família ou amigos. Ela ensaiava os primeiros passos como cantora. Aurora, então com 13 anos, nem sonhava em cantar, apenas acompanhava sua irmã. Na foto, publicada em fevereiro desse ano na revista O Violão, e embora com várias pessoas conhecidas, só aparece o nome do homenageado Ernesto Nazareth. O de Carmen e Aurora, por serem desconhecidas, nem sequer foram mencionados.
A legenda da foto traz (na grafia e pontuação da época): "Grupo tirado no Instituto Nacional de Musica por occasiçao do recital de musicas regionaes ali realisado por um grupo de rapazes e senhoritas de nossa melhor sociedade. Entre elles, no centro, vê-se a figura sympathica do rei do tango, o grande pianista Ernesto Nazareth que num gesto de requintada gentileza tomou parte no recital".
ASMÚSICAS
Vamos as gravações que Ernesto Nazareth fez ao longo de sua vida.
Para ouvir mais gravações de suas composições:
Ernesto Nazareth Intérprete
CHORO E POESIA
https://discografiabrasileira.com.br/
Polca de Pedro de Alcântara
Gravada por Pedro de Alcântara ao flautim e Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon Record 108.788, matriz XR-1461
Lançado em 1912
LINGUAGEM DO CORAÇÃO
https://discografiabrasileira.com.br/
Polca de Joaquim Antônio da Silva Calado
Gravada por Pedro De Alcântara ao Flautim e Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon Record 108.789, matriz XR-1462
Lançado em 1913
FAVORITO
https://discografiabrasileira.com.br/
Tango de Ernesto Nazareth
Gravado por Pedro de Alcântara ao flautim e Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon Record 108.790, matriz XR-1463
Lançado em 1912
ODEON
https://discografiabrasileira.com.br/
Tango de Ernesto Nazareth
Gravado por Pedro de Alcântara na flauta e Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon Record 108.791, matriz XR-1464
Lançado em 1913
APANHEI-TE CAVAQUINHO
Choro de Ernesto Nazareth
Gravado por Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon 10.718-A, matriz 3941
Gravado em 10 de setembro de 1930 e lançado em dezembro
ESCOVADO
Tango Brasileiro de Ernesto Nazareth
Gravado por Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon 10.718-B, matriz 3939
Gravado em 10 de setembro de 1930 e lançado em dezembro
TURUNA
Tango de Ernesto Nazareth
Gravado por Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon, matriz 3942
Gravado em 10 de setembro de 1930 e lançado em 1930
NENÊ
Tango de Ernesto Nazareth
Gravado por Ernesto Nazareth ao Piano
Disco Odeon, matriz 3940
Gravado em 10 de setembro de 1930 e lançado em 1930
Agradecimento ao Arquivo Nirez e a Alexandre Dias Foto de Ernesto Nazareth e Carmen Miranda: Arquivo Nirez Demais fotos de Ernesto Nazareth: site João do Rio (Acervo de Luiz Antônio de Almeida)