As Cantoras
Desde o início da indústria fonográfica brasileira as mulheres participaram das gravações em cilindros e/ou discos.
O repertório era vasto e retratava os ritmos e tendências da época, como modinhas, lundus, maxixes, canções, entre outros. As célebres cançonetas tinham lugar de destaque. Por si, a cançoneta já trazia um estilo jocoso, engraçado, alternando canto e falas, acompanhadas de uma encenação. Algumas delas eram carregadas de malícias. Mas, o duplo sentido podia ser observado em uma inocente valsa, bastava seus autores liberarem a criatividade.
Vamos conferir algumas!
Confira a primeira parte deste post: http://zip.net/bjtjYS
SENHORITA ODETTE
A Borboleta Gentil
Esta bela valsa fazia parte da peça A Inana, estrelada pela atriz Pepa Ruiz, que estreou em 1901.
A melodia da valsa francesa Frou Frou foi a inspiração para a bela Borboleta Gentil. Em nossa versão, uma gentil e interessada borboleta vagueia pelas rosas, jasmins, bebendo no hastil das flores o doce mel que elas lhe ofereciam. Assim, ela nunca se fixava em flor alguma, sempre variando, acabando de sugar o que uma oferecia, já partia para outra. Jasmins, rosas ou violetas, todas eram bem vindas. É uma bela figuração das famosas cortesãs da Belle Époque que, gentis que eram,se desdobravam em atenção à vários clientes, recebendo muito em troca de seus carinhos e atenções. Os versos da estrofes eram bem claros: o gozo (da vida) estava no variar. Amor constante era uma grande tolice e, quando ele se aproximasse, a borboleta gentil deveria se afastar rápido. Voar, voar, fugir, fugir, fugir...
Gravada por Senhorita Odette em 1903
Disco Zon-O-Phone X-537
No disco vem como modinha.
Foi gravada em 1902 e 1903 pelo Bahiano
Aqui, temos a versão de Senhorita Odette.
Oh, borboleta gentil
Oh, borboleta bilontra
Que vai sugando no hastil
o mel das flores que encontra
Eis o que sou, meu amigo
Eis o que sempre hei de ser
Amor constante é perigo
Foge dele após colher
Amor! Amor!
Se a voz do amor fruir
Voar! Voar!
Fugir! Fugir! Fugir!
Se enjoar primeiro um jasmim
Ébria de amor beijo a rosa
Beijo a violeta, sequiosa
Como é bom amar assim
Isto de amores, já disse
e podes acreditar
Amor constante é tolice
O gozo está no variar
SENHORITA CONSUELO
Mamãe me Enganou
Uma delícia de cançoneta!
Era do repertório da atriz Rose Méryss, que a lançou por volta de 1879.
Foi gravada por Senhorita Consuelo em 1903.
Disco Zon-O-Phone X-688.
Por que será que a mocinha citada se desiludiu tanto com o casamento?
Desde a infância, desde a escola
no casamento ouvi falar
A mamãn virou-ma bola
para que eu me fizesse casar
Eu confesso tinha medo
de alguma desilusão
Não conhecia o segredo
dessa espécie de união
Logo ao sair da igreja
rubra como a cereja
Suspirei: Ai, ai,
Que mamãe me enganou
Não é tudo, eu fui para casa
querendo risos mostrar
Mas, eu tinha o peito em brasa
Não podia o pranto abafar
Me diziam toda a gente
em coro e no mesmo tom:
Amanhã estarás contente
Que o casar é muito bom!
Dias depois, minha tia
me disse uma vez no jantar
Menina! Eu não te dizia?
Nada melhor do que casar!
Não senhora, nada! Nada!
É uma perfeita ilusão!
Já a mamãn foi a culpada
da minha dura aflição.
Chorosa, disse-lhe ao ouvido:
Eu não sei para que serve um marido!
Suspirei: Ai! Ai, que
Mamãe me enganou!
PEPA DELGADO
O Abacate
Cançoneta da autoria de Chiquinha Gonzaga, foi lançada com sucesso na revista Cá e Lá.
A atriz Pepa Delgado cantava no palco e, depois, no disco, os efeitos e benefícios que o abacate proporcionava.
A letra foi escrita por Tito Martins e Bandeira de Gouvêa, autores da peça.
Disco Odeon Record 10.059, matriz R-379, com acompanhamento de piano.
Gravado e lançado em 1904.
Obs. Esse disco pertencia à própria atriz Pepa Delgado. Hoje, faz parte do Arquivo Marcelo Bonavides.
Tem mui preciosas propriedades
Artes possui, misteriosas
Pra corrigir na terna idade
os descalabros e outras coisas
Levanta um morto
E, se nos vivos,
produz desejos de morrer
É pra de novo, e mais ativos
breve, tornarem-se a erguer!
Assim num moribundo
Que é caso sabido
Já de todo perdido
Não dava uma palavra
Tal efeito profundo fez o abacate
Em suma, em suma
até que fez
Que o homem em vez d´uma
Deu duas?
Deu três palavras,
sim, senhor!
E qual a morte houvera
às pressas erguido o voo
o morto (horror!) ainda ficou
pra mais conversa!...
Restaurador por excelência
dos organismos desfalcados
Ele não é sem consistência
como os tônus mais afamados
A Panaceia abençoada
da sua crème tem sabor
Pode salgada, pode gelada
a prova já nos dá calor!
O Eixo da Avenida
Valsa de Assis Pacheco, cantada por Pepa Delgado na revista musical Avança, em 1904, e gravada por ela em 1904, disco Odeon Record 10065. Fazia alusão, de forma maliciosa, à abertura da Avenida Central.
Obs. Esse disco pertencia à própria atriz Pepa Delgado. Hoje, faz parte do Arquivo Marcelo Bonavides.
Já não tenho prazer nesta vida
Infeliz, como eu sou, jamais vi!...
Pois por causa da tal avenida
O meu noivo querido perdi
Era um moço de louro cabelo
Olhos grandes, chamava-se Aleixo
Mas, fugiu! Nunca mais pude vê-lo...
Desde que houve...a abertura do eixo.
A princípio, era bom, amoroso
Sempre amável e sempre a sorrir...
Tão gentil, tão...tão...tão carinhoso!
E tão mau afinal me sair!
Enganou-me o tratante, o malvado!
Desse engano é que aflita me queixo
Percebi que me havia enganado
Só depois... da abertura do eixo!
Conheci-o num baile valsando...
Vê-lo e amá-lo foi quanto bastou!
Ai, Jesus! Chorarei até quando?...
Que infeliz! Que infeliz, ai que eu sou!
Enganou-me o vilão, foi esperto!...
E a culpada foi eu! É bem feito!
Mas agora que está o eixo aberto
Vou ter noivos a torto e a direito.
Infeliz, como eu sou, jamais vi!...
Pois por causa da tal avenida
O meu noivo querido perdi
Era um moço de louro cabelo
Olhos grandes, chamava-se Aleixo
Mas, fugiu! Nunca mais pude vê-lo...
Desde que houve...a abertura do eixo.
A princípio, era bom, amoroso
Sempre amável e sempre a sorrir...
Tão gentil, tão...tão...tão carinhoso!
E tão mau afinal me sair!
Enganou-me o tratante, o malvado!
Desse engano é que aflita me queixo
Percebi que me havia enganado
Só depois... da abertura do eixo!
Conheci-o num baile valsando...
Vê-lo e amá-lo foi quanto bastou!
Ai, Jesus! Chorarei até quando?...
Que infeliz! Que infeliz, ai que eu sou!
Enganou-me o vilão, foi esperto!...
E a culpada foi eu! É bem feito!
Mas agora que está o eixo aberto
Vou ter noivos a torto e a direito.
NINA TEIXEIRA
Falando da Vida Alheia
Canção alegre
Gravada por Nina Teixeira em 1910
Disco Odeon Record 108.357, matriz XR-923
Quando em Paris eu estava
conheci um rapaz
que o bonde só tomava
do lado de trás.
E outras coisas mais
Ele tomava pra ali
que seriam demais
vir dizê-las aqui...
Um ramo fui comprar
ao lado de um francês
E, então, sem reparar
saí levando três.
E outras coisas mais
ainda levei pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
As moças de Botafogo
são cheias de etiqueta
E falam da vida alheia
fazendo muita ... careta
E outras coisas mais
elas fazem pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
Também, outras que moram
pros lados de Itapiru
Quando saem de casa
nem lavam o... biju.
E outras coisas também
elas não lavam pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui.
Essas mocinhas que moram
no bairro de Catumbi
vivem a toda hora
fazendo só... xixi.
E outras coisas também
que eu aqui dizer não posso
E outras coisas mais
Lá, lá....
As meninas da Tijuca
são muito coquetes
E gostam do primo Juca
porque lhes faz... omelete.
E outras coisas mais
ele faz pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
As raparigas que habitam
a estação de Cascadura
fazem os homens ficar
num instante com a... cara dura.
E outras coisas mais
elas faz pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
Outras que moram, ainda
na estação do Riachuelo
vivem coçando com o dedo
o seu rozadinho... cabelo.
E outras coisas mais
elas coçam pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
Não cantes mais, te peço
que estás muito fatigada
Vem comigo pra casa
inventar que estás... cansada.
E outras coisas mais
tu vais fazer pra alí
Que seriam demais
vir dizê-las aqui...
Como sempre, excelente post, Marcelo!!!
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