Em 1889, tivemos várias peças. Algumas fracassaram, outras, foram retumbantes sucessos.
Magalhães e Coimbra lançaram, em 18 de janeiro, no Theatro Lucinda, a inusitada Abolidenrepcotchindengó. Isso mesmo... o título era um anagrama formado pelas primeiras sílabas do seis assuntos mais comentados durante o ano de 1888: abolição da escravatura, indenizações aos senhores de escravos, propaganda republicana, queda do primeiro-ministro Cotegipe, a passagem de chineses pelo Rio de Janeiro, e a chegada à Corte do meteorito Bendengó, que caíra no sertão da Bahia, sendo encontrado em 1784 (isso mesmo, só chegou ao Rio 104 anos depois). A peça permaneceu apenas cinco noites em cartaz.
Chama de Abolidenrepcotchindengó O Paiz, 1889 |
Moreira Sampaio lançou no Theatro Santana, Dona Sebastiana.
Mesmo sem entusiasmar a crítica, teve agrado do público, estreando em 22 de janeiro.
A italiana Amélia Lopiccolo, já nossa conhecida do Blog, era a estrela. Com ela, ninguém menos que Correia Vasques, João Colás, Antônio Joaquim de Mattos, Isabel Porto, Blanche Grau... alguns dos melhores nomes do teatro de então.
A graciosa Amélia Lopiccolo. |
Chamada Dona Sebastiana O Paiz, 1889 |
Os irmãos Azevedo, Arthur e Aluísio, escreveram o segundo maior sucesso do ano, Fritzmac.
Era uma revista (leia-se peça de teatro de revista, para quem ainda não sabia) escrita em prosa e verso.
Estreou em 01 de maio no Theatro Variedades Dramáticas.
Retratava um episódio policial ocorrido em 1888: fabricação de bebidas alcoólicas pela firma Fritz Mack & Cia, do Rio de Janeiro.
Com essa referência, o público ia (re)vendo os acontecimentos do ano que findara, através da mistura da realidade com a fantasia (uma característica das revistas da época). Os assuntos retratados: pessoas sem casa pra morar, fugindo de malfeitores; debates entre o Carnaval e o Entrudo (na peça, eles eram personagens); mendigos pelas ruas, vendedores de canivetes, festejos pela abolição da escravatura, briga de caixeiros contra patrões; engenheiros discutindo reformas nos prédios dos teatros (assunto bem atual); e, aqui, seria preconceito dos autores, crítica contra a imigração chinesa.
O quatro final, saudava a participação do Brasil na Exposição Universal, em Paris; a mesma exposição que inauguraria a Torre Eiffel...
Chamada de Frotzmac (sic) no jornal O Pai, 1889. |
Fachada do pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Paris, 1889. |
Mas, o grande sucesso do ano foi, sem dúvidas, a peça intitulada Bendengó.
Estreou no Theatro de Variedades Dramáticas (Theatro Recreio Dramático), entre 25 a 28 de janeiro de 1889.
Era da autoria de Oscar Pederneiras que, além de dramaturgo, advogado e jornalista.
Como vemos pelo título, a base era a queda do famoso meteorito Bendengó, que na ocasião de sua chegada ao Rio de Janeiro, despertava interesse entre os brasileiros.
Era uma revista ágil e bem engraçada.
Trazia a personagem, a heroína da cidade do Rio de Janeiro (São Sebastião do Rio de Janeiro),
Dona Sebastiana.
O elenco trazia a nata das belas e talentosas atrizes que virariam musas (e a cabeça) de muita gente: Hermínia Adelaide (também conhecida apenas como atriz Hermínia; só bastava o primeiro nome pra saber de quem se tratava), Rosina Bellegrandi, Adelaide Rangel e sensual Elisa de Castro (cuja beleza levava seus admiradores ao duelo nas ruas). Alfredo Silva, Domingos Braga, Ferreira de Sousa, entre outros, estavam entre os atores.
O público lotava a casa de espetáculos e enlouquecia quando Rosina Bellegrandi dançava, com um remelexo especial de quadris. Bellegrandi era italiana e, como outras colegas, teve que se abrasileirar para expandir seu prestígio em nosso País. Ela rivalizava no palco com a brasileira Aurélia Delorme.
Mas, sobre a Delorme, falaremos em breve.
Chamada de O Bendegó. Jornal O Paiz, 1889. |
Tirei essa foto do meteorito Bendengó (ou Bendegó) em 2008. Ele fica exposto no saguão de entrada do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista (RJ). |
Imagens de 1889:
A moda, segundo o Journal des Demoiselles
Anuncio do Diário Popular, 30/04/1889:
Biblioteca Nacional (www.bn.br)
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