domingo, 17 de junho de 2012

LINDA BATISTA e suas impressões do Norte e Nordeste

No final de 1936, Linda Batista estava em excursão pelo Norte e Nordeste.
Em Recife, apresentou-se no Theatro Santa Isabel interpretando músicas de Capiba, sendo acompanhada pela Jazz-Band Acadêmica.
A revista Carioca, em edição nº 60, de 12 de dezembro de 1936, publicou uma cronica e fotografias de Raymundo Pinheiro, onde destacava Linda aprovando o gosto do açaí.

Linda Baptista se diverte... amassando assahy...

Linda correndo o perigo de ficar...




Ao voltar de sua tournée pelo Norte e Nordeste, Linda Batista escreveu um artigo onde falava de cada lugar onde esteve, suas impressões e o encantamento de ter conhecido diversas culturas.
Transcrevo aqui, na íntegra o artigo publicado pela revista Carioca, nº 68, em 06 de fevereiro de 1937.
Obs. Grafia, acentuação e pontuações originais.

Visão panoramica do Norte
por Linda Baptista
(Do elenco artistico da PRE-8, 
Sociedade Radio Nacional).

Especial para
CARIOCA.


Linda Baptista, em companhia de sua irmã Dircinha Baptista, no jardim da Radio Nacional ,
ambas trajando fantasias inspiradas no film "Daqui a cem annos", de Vells.



Chego ao Rio encantada com a viagem maravilhosa que realisei pelo norte.
Meu desejo seria fixar numa pagina impressiva e vibrante as impressões dessa viagem inesquecivel, em que pude conhecer as riquezas da sensibilidade de um povo aconlhedor e das bellezas de um grupo de cidades que orgulhariam qualquer paiz do mundo.
Manáos tem um aspecto especial. Seu cáes está sempre cheio de pequenas embarcações, de estylo hiate, á margem do rio deslumbrante. Cidade pittoresca, com modernas construcções, seu theatro, do tempo do esplendor da borracha é de notavel belleza architectonica e possue decorações de admiravel gosto artistico. Viajando no caudaloso Amazonas, observei quadros interessantes da vida rustica, á passagem do navio pelas casinholas dos caboclos, deitados no alpendre em suas rêdes de tucum, tecidas por elles proprios...
Manáos é uma cidade-encantamento; o Amazonas, um scenario de lenda.

Belém do Pará... terra do assahy gostoso, do pato no tucupy, com farinha dagua, creação culinaria de outro mundo.
E as mangueiras lindas na sua imponencia, embellezando a cidade, de ponta a ponta, e refrescando-a com as suas sombras protectoras.
Obrigando todo e qualquer transuente a levar para casa duas ou tres gostosissimas mangas, diariamente, pois ellas lhe offerecem depositando-se a seus pés.
A festa de Nazareth, padroeira de Belém, tem pouca repercussão entre nós; é uma das festas mais interessantes que já vi.
Ha verdadeiras romarias vindas do interior. No dia do Cyrio, que é o dia das promessas, milhares de pessoas de todas as classes, descalças, cumprindo votos, uns com tartarugas na cabeça. outros com potes de barro; outros com velas, desfilam pela cidade. Depois de transportar a santa em procissão de uma egreja distante ao largo de Nazareth, onde se realisam os festejos, começam as diversões que duram quinze dias. Ha theatros, jogos e mil e um divertimentos. A illuminação é que é notavel. Illuminam-se as ruas todas que dão para o largo de Nazareth e pintam-se as arvores de branco, ficando toda a egreja contornada por lampadas multicores.

São Luiz é uma velha cidade, romantica, com muitos edificios antigos, do tempo colonial, monumentos preciosos, reliquias historicas que testemunharam sua evolução, desde a época das capitanias até o nosso tempo. Terra de poetas, de literatos, nella se sente um clima espiritual elevado. O prazer dos maranhenses é louvar em poemas a sua terra. Mas todos os poemas não bastam para cantar oMaranhão, e muito menos para exprimir o carinho de seu povo.

O Ceará, a terra do sol, o berço de Iracema, deixou-me, também, recordações gratissimas. Como nota turistica, o restaurante da praia de Iracema é interessantissimo. E como documento de heroismo, a vida dos jangadeiros, no alto mar, é verdadeiramente épica. É commum aos que viajam na costa cearense encontrar, em arrojadas incursões, muitas milhas fóra da praia, dois caboclos sobre a sua fragil jangada, dando, a todo instante, a impressão de que vão ser tragados pelas ondas...
Mas não o são, porque elles vencem o mar, dominam a borrasca... Deve ser a saudade da terra, da linda terra natal, com seus coqueiraes, que os traz de novo, que lhes dá força para taes victorias...

Recife, coração de Pernambuco... Recife é um centro quasi inexplorado de thesouros "folk-loricos", com o seu "frêvo", o seu "passo, o seu "maracatú". Quando ouço o "maracatú" fortes emoções me subjugam, e, francamente, sinto-me como que cansada. Elle, antes de tudo, domina o ouvinte; domina e sugjuga.
O mais interessante e o mais dificil, porém, é o "passo".
Ao som do "frêvo" é que o pernambucano vibra. É muito interessante vêr-se blocos dansando-o de maneira incrivel. A tesoura é um dos passos mais interessantes. Tive a impressão exacta que as duas pernas do dansarino tinham-se desconjuntado. Uma coisa doida!

Bahia, terra do Nosso Senhor do Bonfim, com as suas bahianas, faceiras e cheirosas, que enfeitam a cidade de esquina a esquina. O elevador da Bahia é uma das originalidades de lá. ligando duas cidades; a cidade alta e a cidade baixa.
Da cidade alta, descortina-se um panorama soberbo do caes e de toda a cidade baixa.
E aqui encerro, sob a impressão final que trouxe da Bahia, as minhas descoloridas impressões dessa viagem maravilhosa, tão maravilhosa que parece um sonho vivido...



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Nota do autor do Blog:
Daqui a Cem Anos (Things to come), de 1936.
Dirigido por William Cameron Menzies.
Baseado no romance de H. G. Wells, que também escreveu o roteiro do filme.
No elenco: Raymond Massey, Edward Chapman e Ralph Richardson.







Fontes:
Arquivo Nirez
Revista Carioca
www.imdb.com








Agradecimento ao Arquivo Nirez

2 comentários:

  1. que delícia de matéria ! fabulosa ! Adorei ! Parabéns Marcelo por mais essa preciosidade. PARABÉNS !!!

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  2. Além do belo rosto, com seu eterno sorriso, sua deliciosa voz, Linda Batista escrevia muito bem.

    Obrigada, Bonavides, por nos trazer essas inusitadas descobertas.

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