Hoje, a cidade de Fortaleza completa 286 anos.
Foi um dia comum, sem feriado.
Eu nasci e me criei aqui.
Passei minha infância convivendo com três bairros: Centro, Bairro de Fátima e Varjota.
No Centro, moravam meus avós paternos. Em uma casa ainda do século XIX, na Avenida Tristão Gonçalves, passei momentos mágicos e inesquecíveis. Entre o orgulho e a tristeza, posso dizer que fui a última geração a aproveitar o antigo casarão (então, já dividido em três casas), com seu quintal imenso, repleto de árvores, sua vizinhança conhecida, acolhedora, tradicional.
No Bairro de Fátima, na Rua Monteiro Lobato, moravam meus avós maternos, meus bisavôs e minha tia avó. Era o reduto onde se encontravam os primos, as brincadeiras, as conversas com meu bisavô, as brincadeiras com meu avô e primos, os aniversários (inesquecíveis) ao som dos últimos sucessos do Balão Mágico. Os cuidados da minha avó, que também foi mãe de todos os netos, devido ao seu zelo e cuidado.
Na Varjota, onde passei a morar, desde 1976, e continuo, é onde guardo boas lembranças. Quando chegamos aqui, ainda passava boiada na frente de casa, eu fugia e era pego sempre ao chegar na esquina (sei lá pra onde eu queria ir...), mas, mesmo com 3 anos, subia no portão para ver os bois passar ao lado de casa. Com os amigos da vizinhança, podíamos brincar na rua sem preocupação. O calçamento era ainda de pedra, passava pouco carro e ladrões, só os "meninotes" que roubavam galinhas e alguns dormentes de madeiras, que havia sido de antigos trilhos. Brincadeira na rua era até as 20:00 ou 20:30, no máximo. Os muros eram incrivelmente baixos, da altura de uma pessoa adulta, e não tinham pregos ou outro tipo de proteção. O portão era de madeira, aberto manualmente, e ninguém cobiçava o carro na garagem.
Esse foi apenas um fragmento de uma Fortaleza que eu conheci e que não existe mais. As lembranças ainda são tão vivas em minha memória que chego a pensar que estou em outra cidade, às vezes. Ainda voltarei com esses relatos pessoais. Creio que o melhor presente para nossa cidade seria que ela e sua verdadeira essência não fossem esquecidas. Quem vive e ama esta cidade, entende o que eu quero dizer.
Abraços a todos!!
Eu "estou" nesse "retrato" que você "pintou" de memória, Bonavides. Eu pintaria um bem semelhante. Eu entendo tudo que você disse e nunca vou esquecer...
ResponderExcluirMuito bonito, o seu relato.
um abraço.
Puxa, Lúcia, que bom!
ResponderExcluirSão lembranças de uma época que nós tivemos o prazer de presenciar. Obrigado pelo carinho e a amizade de sempre!