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CARMEN MIRANDA, 1930 Arquivo Nirez |
No começo da década de 2000, publiquei um longo artigo sobre Carmen Miranda na revista virtual Visão Real.
Hoje, trago esse mesmo artigo, atualizado.
Com vocês:
A Outra Carmen Miranda
Quando falamos de Carmen Miranda nos vem à mente a figura da baiana estilizada,
com um turbante de frutas e dançando alegremente. Porém, existe outra, pouco
conhecida por várias pessoas: a Carmen Miranda que, aos 21 anos obteve fama
nacional com sua graça e um modo especial de interpretar nossa música, uma das
intérpretes mais bem pagas na MPB (quando o samba ainda era marginalizado), a
colega generosa que estava sempre pronta a ser solidária.
Carmen, ou melhor, Maria do Carmo Miranda da Cunha, nasceu a 09 de Fevereiro de
1909, na Freguesia de Várzea da Ovelha, pertencente ao Concelho de Marco de Canaveses,
no Distrito do Porto, em Portugal.
Seus pais eram José Maria Pinto da Cunha e Maria Emília Miranda da Cunha. O
nome Maria do Carmo foi uma homenagem a Nossa Senhora e à sua madrinha de
batismo D. Maria do Carmo Pinto Monteiro.
Em busca de melhores condições de vida, José Maria vem ao Brasil, onde passa a
trabalhar como barbeiro. Pouco tempo depois, em 1910, D. Maria Emília vem com
as filhas Olinda (1907-1931) e Maria do Carmo, com um pouco mais de um ano de
idade. No Rio de Janeiro, então a Capital Federal, nasceriam seus outros
irmãos: Amaro (1911 - ?), Cecília (1913 - 2011), Aurora (1915 - 2005) e Oscar
(1916-?).
A família Miranda da Cunha passa a morar na Lapa. Em 1919, Carmen é matriculada
na Escola Santa Tereza, dirigida por irmãs vicentinas. Uma de suas professoras,
a irmã Maria de Jesus, se referia à aluna, anos depois, como disciplinada,
solícita e alegre. A menina Carmen era solicitada sempre a declamar e cantar
nas festinhas da escola.
Em 1925, a família se mudou para um sobrado na Travessa do Comércio. Lá, foi
aberta uma pensão, dirigida por D. Maria Emília, que era auxiliada por seus
filhos. No local, também se serviam refeições às pessoas que trabalhavam nas
redondezas, e Carmen viria a conhecer alguns dos futuros compositores de suas
músicas.
Sua irmã Olinda havia, contraindo tuberculose, foi enviada a Portugal, em tratamento. Para ajudar nas despesas, Carmen empregou-se na loja de gravatas A Principal, onde passou a ser balconista. Depois, trabalhou na loja de modas La Femme Chic, situada na Rua do Ouvidor, onde era frequentemente surpreendida pela gerente da loja, cantando à meia voz as canções populares de seu agrado. Madame Boss, apesar de gostar da voz da garota, a advertia brandamente, para manter a disciplina: “Menina, aqui não é lugar para se cantar”. Carmen soltava uma gostosa gargalhada, mostrando os dentes perfeitos, e voltava sua concentração à confecção de chapéus.
Aos 17 anos, tinha vontade de trabalhar no cinema. Mas, nessa época, só
conseguiu fazer alguns extras ou participar de algumas filmagens como
figurante. Em 1926, sua foto aparece na revista Selecta, porém, seu
nome não é mencionado. Apenas vemos, abaixo de sua foto, mas numa alusão a ela:
“Uma ‘extra’ da nossa filmagem... E depois ainda haverá quem duvide ai podemos
ou não ter estrellas?”.
Nas festas familiares sua presença era fundamental. Ela cantava, era divertida,
sabia todo o repertório de Carlos Gardel e imitava as cantoras populares da
época. Sua melhor imitação era da cantora e atriz Aracy Côrtes, o grande nome
do Teatro de Revista e da MPB, que foi responsável pelo lançamento de Ai,
Yoyô, nosso primeiro samba-canção, da autoria de Henrique Vogeler, em 1928.
E foi com uma música do repertório de Aracy Côrtes que Carmen se aproximou de
seu “descobridor”, o compositor baiano Josué de Barros. Em uma ocasião, ela
cantou a toada Chora Violão, que havia sido gravada por Aracy em
1928. O próprio autor da música acompanhou Carmen ao violão. Ao final, a jovem
amadora comentou: “Estou encantada com a maneira com que o senhor me
acompanhou. O senhor acompanha maravilhosamente com o seu violão”. Josué, emocionado,
apenas disse: “É que eu sou o autor da letra e música...”.
O Acervo Nirez possui alguns exemplares de uma revista chamada O Violão.
No exemplar de fevereiro de 1929 há uma foto com a seguinte legenda: “Grupo
tirado no Instituto Nacional de Música por ocasião do recital de músicas
regionais, ali realizado, por um grupo de rapazes e senhoritas de nossa melhor
sociedade. Entre eles, no centro, vê-se a figura simpática do rei do tango, o
grande pianista Ernesto Nazareth que, num gesto de requintada gentileza, tomou
parte no recital”. Na foto podemos ver, à esquerda, o cantor Breno Ferreira,
que também iniciava sua carreira nessa época, tendo ao seu lado o compositor
Josué de Barros. Logo abaixo dos dois, à esquerda, está Aurora Miranda e a seu
lado, Carmen. É uma foto rara e de alto valor histórico, pois retrata o início
da promissora carreira de Carmen e, também, mostra Aurora Miranda, com apenas
13 anos de idade, que anos depois seria uma das maiores cantoras brasileiras,
criadora da marcha Cidade Maravilhosa, sucesso de 1935.
A revista O Violão era especializada em assuntos ligados a
esse instrumento musical, bem como na divulgação de artistas, compositores,
músicas... A revista chama a atenção pelo fato de incentivar e enfocar a
presença feminina no meio artístico quer amadora ou profissionalmente,
exaltando as professoras ou intérpretes e alunas desse instrumento, que era
ligado à boemia e impensável ser usado por senhoritas ou senhoras, porém, nas
mãos de ilustres damas, recebia sua redenção.
Uma dessas senhora viveu até 2008, falecendo meses antes de completar 99 anos: Olga
Praguer Coelho, uma das mais importantes cantoras/pesquisadoras de nosso
folclore, tendo divulgado nossa música na Europa e EUA, onde tinha como fã a
esposa do presidente Franklin Roosevelt, Eleanor. Olga foi considerada a melhor
violonista do mundo.
Nesse mesmo ano de 1929, a jovem cantora gravou seu primeiro disco na gravadora
Brunswick, com as músicas Não Vá S´imbora, samba e Se o
Samba é Moda, choro, ambas de autoria de Josué de Barros.
Em 1929 a gravadora Victor (que depois seria denominada RCA
Victor) começava a lançar seus discos com intérpretes brasileiros. Entre o
elenco selecionado, a cantora Jesy Barbosa já desfrutava notoriedade devido
suas atuações em algumas emissoras de rádio. Quando o primeiro elenco foi
divulgado, o nome de Carmen ainda não aparecia. Pouco tempo depois, quando ela
passou a fazer parte desse elenco, a gravadora já divulgava a nova cantora.
Isso ocorreu em dezembro do mesmo ano. Seu disco de estreia (na época, 78 rpm,
na maioria das vezes com uma música de cada lado) trazia a canção-toada Triste
Jandaya e o samba Dona Balbina, ambas de Josué de Barros.
Mas seu grande sucesso, que a consagrou nacionalmente, veio no terceiro disco
com a marchinha do médico Joubert de Carvalho P´ra Você Gostar de Mim,
que logo ficou conhecida por Taí. A música foi gravada no dia 27 de
janeiro de 1930 e Carmen era acompanhada por Pixinguinha e sua orquestra.
Carmen foi considerada a primeira artista a cantar de um modo diferente, sem
usar muito notas agudas, como outras cantoras faziam. Porém, em 1928, a cantora
pernambucana e pesquisadora de folclore Stefana de Macedo já fazia sucesso no
Rio de Janeiro com músicas de temas populares. Stefana também não usava um tom
agudo em suas gravações.
Carmen adicionou uma brejeirice até então desconhecida no disco. Em suas
gravações, incluía palavras e expressões com uma habilidade que só ela era
capaz.
Até 1927, as gravações fonográficas eram feitas pelo processo mecânico. Para se
conseguir um bom registro em disco, a cantora ou cantor deveria possuir uma
grande potência vocal; sem falar que nos teatros não havia microfones e os
artistas tinham que ter suas vozes mais elevadas que a orquestra que os
acompanhavam.
Ainda em 1930, compôs um samba com Pixinguinha. Os Home Implica Comigo tinham
seus versos e foram gravados por ela nesse mesmo ano.
Depois disso, sua carreira foi fortemente impulsionada. A cada música gravada a
crítica lhe era favorável e o público ficava cada vez mais apaixonado
pela Garota com o It na voz ou, com a batizaria o locutor
César Ladeira, a Pequena Notável. Carmen media 1,53 de altura...
Carmen Miranda, que nos anos 20 já havia se apresentado esporadicamente e como
amadora em algumas rádios, encontrou a partir de 1930 o disco como grande
divulgador de suas músicas. A partir de 1935, a cantora seria exclusiva da
gravadora Odeon.
Outra forma usada, no início de sua carreira, foram os recitais de música, algo
muito comum na época, que depois dariam continuidade às suas famosas e
concorridas apresentações públicas, quer em rádios, cassinos ou teatro.
Cantando ao lado de nomes consagrados como Zaíra de Oliveira e
Francisco Alves, ou de artistas em início de carreira como Elisinha Coelho e
Breno Ferreira, Carmen conquistava admiradores entre o público e os
compositores.
A grande cantora Jesy Barbosa, que também era jornalista e poetisa, venceu o
concurso intitulado “Qual a melhor intérprete da música brasileira?”, em 1930,
que lhe deu o título de Rainha da Canção Regional. No começo, o
nome de Carmen aparecia em segundo lugar; mas, no decorrer das apurações, seus
votos foram insuficientes, e coube à Zaíra de Oliveira, outra grande cantora e
esposa do compositor Donga, ficar em sua posição. Jesy lembra que Carmen “se
retirou do pleito... mas, na última apuração compareceu ...para torcer por
mim.”.
Carmen Miranda, que nos anos 20 já havia se apresentado esporadicamente e como amadora em algumas rádios, encontrou a partir de 1930 o disco como grande divulgador de suas músicas. A partir de 1935, a cantora seria exclusiva da gravadora Odeon.
Outra forma usada, no início de sua carreira, foram os recitais de música, algo
muito comum na época, que depois dariam continuidade às suas famosas e
concorridas apresentações públicas, quer em rádios, cassinos ou teatro.
Em 1931, Carmen fez sua primeira excursão a Buenos Aires. Ia acompanhada por
grandes nomes como Francisco Alves e sua esposa, a atriz e dançarina Célia
Zenatti, Mário Reis e o bandolinista Luperce Miranda.
O sucesso do grupo foi noticiado pelo jornal carioca Diário da Noite, do dia 11
de novembro de 1931: “O samba e a canção sertaneja nunca alcançaram no
estrangeiro tanto êxito, como o que vêm de verificar-se na capital argentina”.
Aloysio de Oliveira integrante do Bando da Lua, que a acompanhou
posteriormente, lembrava que “Carmen ficava impaciente com uma fã que não saia
do apartamento. Era uma jovem atriz com certo nome nos círculos teatrais de
Buenos Aires. A sua profunda admiração a tornava, às vezes, um pouco
inconveniente. Chamava-se Eva Duarte. Mais tarde virou Eva Perón, Evita Perón
ou simplesmente Evita”.
No ano seguinte fez uma excursão pelo Nordeste. Carmen ia acompanhada por “sêo”
Pinto (seu pai), Josué de Barros e seu filho Betinho (Alberto), também
violonista. Apresentou-se na Bahia (Salvador, Cachoeira – São Felix - e
Alagoinha), seguindo para Recife. O cantor e radialista Almirante foi ao
encontro de Carmen, passando a se apresentar com a cantora. Almirante era líder
do Bando de Tangará, o grupo onde estreou Noel Rosa.
Um dos espectadores em Salvador foi um jovem de 18 anos, que anos mais tarde
iria influenciar definitivamente a carreira de Carmen: Dorival Caymmi.
Em Recife, o Theatro Santa Isabel, o mesmo onde Castro Alves declamara seus
versos à Eugênia Câmara, foi palco dos artistas vindo do Rio de Janeiro.
Carmen, apresentada à plateia pelo poeta Ascenso Ferreira cantou, entre outros
sucessos, o samba Eu Gosto da Minha Terra, afirmando em seus
versos, toda a sua brasilidade.
A plateia, em delírio, recebia a cantora aos gritos: “Morena do Céu”.
Sua irmã caçula Aurora, que sempre a acompanhava, também seguiu carreira
artística. Carmen apoiou totalmente e Aurora, com sua graça e bela voz, foi uma
das mais famosas cantoras brasileiras.
A Pequena Notável foi a primeira cantora no Brasil que fez sucesso surgindo do disco. A grande Aracy Côrtes havia estreado no disco pouco antes de Carmen, em 1925, e em 1928 já batia recordes nas lojas por seu sucesso Jura!..., de Sinhô. Aracy, porém, já era um nome consagrado no Teatro de Revista, sendo considerada uma de suas mais queridas Rainhas. Foi ela quem lançou, nos palcos, vários clássicos da MPB, do já citado Ai, Yoyô à Aquarela do Brasil. Infelizmente, não gravou todos os seus êxitos, dedicando-se mais às Revistas Musicais.
A estreia de Carmen no cinema (não mais como figurante) aconteceu em 1933, no
filme A Voz do Carnaval, produzido por Adhemar Gonzaga e Humberto
Mauro, com roteiro de Joracy Camargo. Era uma produção do estúdio
cinematográfico Cinédia. Carmen cantava, ao microfone, Moleque
Indigesto, marcha de Lamartine Babo, e Good-Bye, marcha de
Assis Valente. Ambas foram gravadas por Carmen (Lamartine fez participações nas
gravações dos discos).
Depois, vieram:
Alô, Alô Brasil e Estudantes,
de 1935;
Alô , Alô Carnaval, de 1936
Banana da Terra, de 1938.
Os filmes reuniam os grandes nomes do rádio como Elisa Coelho, Dircinha
Batista, Francisco Alves, Mário Reis, Mesquitinha, Jayme Costa, Sylvinha Melo,
Oscarito e apresentava Carmen divulgando seus sucessos, tais como Primavera
no Rio, E Bateu-se a Chapa, Sonho de Papel, Querido
Adão.
Em Alô, Alô Brasil, Aurora Miranda cantava seu mais novo
sucesso Cidade Maravilhosa. No filme seguinte, ao lado da irmã
Carmen, apresentava a cena clássica de Alô, Alô Carnaval, onde
cantam Cantoras do Rádio, acompanhadas pela Orquestra de Simon
Bountman.
Em 1938, Carmen aparece em Banana da Terra. Ela cantaria a música
de Ary Barroso Na Baixa do Sapateiro. Porém, o compositor pediu uma
grande quantia pela música, e essa ficou de fora. Para contornar o problema,
incluíram a música de um jovem compositor baiano.
O mesmo rapaz que assistira às apresentações de Carmen, na Bahia, em 1932.
Dorival Caymmi incluiria sua composição O Que é Que a Baiana Tem? no
filme e ajudaria Carmen nos movimentos, quando fosse citar as indumentárias que
a baiana possuía.
Essa passou a ser uma fantasia usada pela cantora em seus números no Cassino da
Urca, de onde era contratada exclusiva.
Outras atrizes e cantoras já se vestiam de baiana 50 anos antes de Carmen. A
atriz grega Ana Manarezzi e a espanhola Pepa Ruiz faziam sucesso nos palcos do
Teatro de Revista, aqui no Brasil, fantasiadas de baiana. As cantoras e atrizes
brasileiras Aurélia Delorme, Plácida dos Santos, Pepa Delgado, Nina Teixeira,
Otília Amorim, Aracy Côrtes faziam sucesso em palcos brasileiros e europeus com
mesma fantasia. A carioca Elsie Houston, pesquisadora de folclore e cantora,
também apareceu vestida de baiana em Paris e na Alemanha. Elisinha Coelho
também usou a fantasia no final dos anos 30, em uma peça de Raul Roulien.
Em 1939, Carmen, foi contratada pelo empresário americano Lee Shubert, para
cantar no espetáculo Ruas de Paris, que estrearia na Broadway.
Carmen foi acompanhada pelo conjunto Bando da Lua. Logo na primeira noite, sua
apresentação foi um grande sucesso. Embora não tenha sido a primeira artista a
triunfar na Broadway logo na primeira noite, chama a atenção o fato de ter
conseguido isso cantando em um idioma quase desconhecido pelo público que a
assistia. Ela cantou O Que é Que a Baiana Tem?, Mamãe Eu
Quero, Touradas em Madrid, Bambo do Bambu e South
American Way.
Em pouco tempo seu sucesso foi se espalhando e ela passou a fazer apresentações
em algumas casas noturnas. Vários astros e estrelas de Hollywood faziam questão
de ver seu número: Errol Flynn, Norma Sheare, Frederick March, Judy Garland,
Robert Taylor...Dorothy Lamour fez questão de aprender seus movimentos de mãos
e Greta Garbo, pela primeira vez na vida, entrou em um nigth club, somente para
apreciar a Pequena Notável.
O que seria inevitável aconteceu. Logo, a contrataram para filmar em Hollywood.
Como estava presa aos contratos e não poderia se deslocar de Nova York até a
Califórnia, o estúdio FOX enviou uma equipe especialmente para filmar alguns de
seus números.
Em 1940, Carmen fazia uma participação especial em Serenata Tropical,
cantando Mamãe eu Quero, Bambo do Bambu e South
American Way.
Nesse mesmo ano, retornou ao Brasil, onde seria madrinha de casamento de sua
irmã Aurora. Uma multidão foi recepcioná-la no cais do porto. Nesse mesmo mês,
em sua apresentação no Cassino da Urca, Carmen foi recebia com frieza pelo
público. Havia uma suspeita de que a cantora estava “americanizada”.
Dois meses depois, os compositores Luís Peixoto e Vicente Paiva prepararam
algumas músicas para seu novo espetáculo, no mesmo local. Cantando Voltei
Pro Morro, Diz Que Tem, Disso é Que Eu Gosto, Bruxinha
de Pano e Disseram Que Voltei Americanizada, Carmen Miranda
não só deu a resposta à todas as duvidas sobre sua “brasilidade”, como fez mais
uma temporada de sucesso. Essas composições foram as últimas que ela gravou no
Brasil.
Com um novo contrato, retornou aos EUA onde permaneceu 14 anos
consecutivos.
Em 1941, após seu segundo filme, Uma Noite no Rio, gravou suas mãos
e seus famosos tamancos na calçada do Teatro Chinês.
Logo que chegou aos EUA, a “Brasilian Bombshell” foi uma das
personalidades que mais apareciam na imprensa. Sua fantasia de baiana logo
virou moda, e várias lojas da Quinta Avenida exibiam em suas vitrines roupas
inspiradas em seus trajes. Em 1945, chegou a ser a atriz mais bem paga
de Hollywood e dos EUA, ultrapassando nomes como Joan Crawford, Big
Crosby, Paulette Goddard, Humphrey Borgat...
Em 1947 casou-se com David Sebastian, ligado à indústria cinematográfica.
Com uma exaustiva vida profissional, sua saúde foi profundamente abalada. Em
1954, após uma forte depressão, Aurora a convenceu de visitar o Brasil, 14 anos
depois de sua última viagem.
Na madrugada do dia 5 de agosto de 1955, horas após gravar um programa de TV
com Jimmy Durante, Carmen faleceu de ataque cardíaco em sua residência, em
Beverly Hills.
Seu sepultamento, no Rio de Janeiro, foi o mais concorrido do Rio de Janeiro,
reunindo quinhentas mil pessoas. Só no Hospital Souza Aguiar foram atendidas
182 pessoas devido a crises emocionais e desmaios.
O compositor Hervé Cordovil contava que Carmen, quando ainda estava na Victor,
recebeu o presidente geral desta gravadora, responsável pela América do Sul.
Era um americano, radicado na Argentina. Em visita aos estúdios, aproveitou
para ouvir sua mais famosa intérprete brasileira. Quando a música já havia
iniciado, abriram a porta de leve e um rapaz, pediu licença. Era Carlos
Galhardo, que ainda não era tão conhecido, em início de carreira. O presidente
virou-se pra ele e lhe disse, irritado: “O que o senhor quer? Estamos aqui
ocupados e o Sr. Vem atrapalhar?”. Carmen se irritou mais ainda, parou a mão de
Hervé no piano e disse: “Eu não canto mais pra esse gringo! Não canto mais para
quem trata mal os meus amigos, os meus patrícios. Eu sou é brasileira e ele
também é brasileiro. O senhor tem que respeitar a gente”. Abriu a porta e foi
embora...
A cantora, portuguesa de nascimento, sempre se considerou brasileira. Em suas
músicas, gravadas aqui, pode-se ver isso, como no samba Eu Gosto da
Minha Terra, de Randoval Montenegro, gravado em 1930. Carmen afirmava um
desejo, que viria a se concretizar 25 anos depois: “... Que eu fique na minha
terra, permita Deus, Nosso Senhor!”.
Fontes:
Arquivo Nirez
Arquivo Marcelo Bonavides
Carmen Miranda, a cantora do brasil - Abel Cardoso Junior
Carmen Miranda - Cássio Barsante
Foto:
Arquivo Nirez
Bravíssimo, Marcelo! Texto Excelente!!!
ResponderExcluirObrigado!
ResponderExcluirVem mais novidade aí!
Não deu foi tempo de esta notável cantora voltar e fincar suas raízes em definitivo por aqui: foi tudo rápido demais... Mas assim parece acontecer com esses fenômenos que Deus botana Terra, não é mesmo?!
ResponderExcluirBravo pelo ótimo texto de levantamento histórico: "taí" que eu não sabia de tantas cantoras "baianas"antes de Carmen!
Talvez possas ajudar-me com uma dúvida: acho que a Globo (que, imbecilmente, nada produziu em homenagem ao centenário de Carmen!),certa feita, lá pelos idos dos anos 80, levou ao ar um especial onde Carmen aparecia novinha, servindo numa casa brasileira como uma doméstica e, a certa altura, cantarolava quando servia à mesa, no que era drasticamente interrompida pela patroa (cena aqui descrita como numa loja de chapéus) - procede?!
Sou ardoroso fã de Carmen Miranda e acho de um absurdo quando alguém critica qualquer coisa do seu cantar! Tenho "Os Home Implica Comigo" numa edição especial em CD de 100 anos de Pixinguinha (sou ou não um felizardo?)!
Um abraço, já o seguindo e já o elenquei em meu blogue - apareça por lá!
Esse texto deveria ser publicado em algum jornal ou revista, é simplesmente perfeito e rico em detalhes que para mim, em sua maior parte, são inéditos.... Obrigado por nos proporcionar esse direito de saber mais sobre essa verdadeira embaixatriz brasileira de coração,
ResponderExcluirAbração
A vida de Carmen Miranda nos emociona até hoje! Lindo post!
ResponderExcluirObrigado a todos!
ResponderExcluirDilberto, a personagem "baiana" era comum no teatro de revista, era um número obrigatório.
A Globo parece que esbarrou em direitos para fazer algo sobre Carmen. A família da cantora está com uma empresa administrando os direitos de imagem, então, quem sabe mais pra frente.
Quanto ao episódio que você viu, eu nunca li nada sobre ela trabalhando em casa de família, aliás, ela nunca trabalhou como doméstica.
Que bom você ter a gravação de Os home... é um samba muito bonito.
As críticas que ouvimos sobre Carmen nem sempre tem uma base sólida. Eu sou fã dela há décadas, mas, sempre procuro mostrar aos novos fãs que ela não foi a única grande cantora, o que nem de longe diminui seu talento e importância, ao contrário, só nos mostra como foi e é rica nossa MPB.
Jefferson e Magda, sempre bom tê-los por aqui.
E, continuem nos visitando, pois logo, logo, mais BOAS novidades sobre Carmen Miranda!!
Grande abraço!
Perfeito, Marcelo. Belíssimo texto.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Obrigado Antonio!
ResponderExcluir