ZAÍRA CAVALCANTI, aos 16 anos "Á sympathica Phono-Arte, com carinhosa admiração offerece, Zaíra Cavalcanti 1-8-30" Arquivo Nirez |
Brejeira e com um jeitinho menineiro (segundo o crítico Jotaefegê), começou a cantar, "Essa mulher há muito tempo me provoca"; as coristas, dançando ao ritmo da música cantavam o refrão: "Dá nela! Dá nela!". A garota continuava, "É perigosa, fala mais que pata choca", e as coristas, sentindo a boa recepção por parte do público, diziam, empolgadas, “Dá nela! Dá nela!"
Na segunda parte da música, já não era só a garota e as girls que cantavam a
música contagiante, todo o teatro acompanhava entusiasmado: "Fala, língua
de trapo; Pois da tua boca eu não escapo!".
Ao findar a apresentação, o público não as deixou sair de cena, fazendo com que
o número se repetisse por três vezes.
Dessa forma, nascia uma nova estrela no teatro musical brasileiro: Zaíra
Cavalcanti.
Zaíra Baltazar Cavalcanti nasceu em Santa Maria, no Rio Grande do
Sul, em 01 de outubro de 1913. Seus pais eram Conceição Baltazar e Otávio (ou Otaviano) Cavalcanti.
Obs. Nosso amigo e pesquisador Dijalma Candido fez descobertas sobre o nascimento e morte de Zaíra Cavalcanti e algumas datas estavam diferentes. Em breve, com mais consultas, iremos falar sobre o assunto.
Ela foi descoberta em Porto Alegre pelo ator e empresário Mário Ulles (ou
Hulles), que a convidou para ir ao Rio de Janeiro. Porém, antes de embarcarem,
ele a testou no Teatro Guarany, dessa cidade. Ela cantou Luar do Sertão,
agradando em cheio e o convite foi confirmado. No Rio, ela estreou como cantora
no Alcazar (a segunda casa de espetáculos com esse nome), na Rua do Passeio. Na
época, havia uma companhia se apresentando no local, tendo como principais
atores, o célebre Alfredo Silva e Juvenal Fontes (Jéca Tatu). Zaíra foi
anunciada, solenemente, pelo compositor, empresário e cabaretier De
Chocolat, que a apresentou como a "nova estrela que o Rio iria
conhecer".
Depois viajou para Santos, com a Companhia Arruda, fazendo parte do elenco da
revista Manda-chuva de Lampeão. De volta ao Rio, sem ter vaidades
de estrela, foi ser corista da Companhia Tró-ló-ló, no Teatro Glória, na
Cinelândia; indo depois para o Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes.
Isso se deu entre fins de 1928 e meados de 1929 e ela tinha quinze anos. Porém,
em 1927, vamos encontrar a jovem atriz como uma das protagonistas do filme Flôr
do Pântano, da Artistas Unidos do Brasil. O filme, que teve alguns
problemas em sua produção, não foi concluído.
Zaíra Cavalcanti e Sylvio Rollando |
Zaíra Cavalcanti e Francisco Oliveira |
Dá Nela!
Em 1929, a Casa Edison, que nessa época produzia os discos Odeon, anunciou a
realização de um concurso para a escolha dos sambas e marchas que gravaria para
o carnaval de 1930. O prazo de entrega das composições se encerrava em 31 de
dezembro de 1929. Ary Barroso não mostrou interesse, mas, seu amigo e diretor
de gravações da Casa Edison, o maestro e compositor Eduardo Souto, o animou a
participar. Mesmo assim, Ary só entregou sua música no dia do encerramento do
prazo de inscrições e na hora final, às cinco da tarde. Para atender a
insistência de seu amigo, o compositor mineiro levou a marcha Da
Nela!... .
Com um júri formado por Aracy Côrtes, Oswaldo Santiago e Assis Pacheco, a
marcha de Ary ficou entre as cinco finalistas. O julgamento público aconteceu
em um sábado, 18 de janeiro de 1930, no Teatro Lírico, sendo interpretada por
Francisco Alves, com acompanhamento da Orquestra Pan American, de Simon
Bountman. À entrada do teatro, o público recebia uma cédula para declarar qual
a música de seu maior agrado. Quem ganhou o primeiro lugar foi Dá
Nela!....
Curiosidade: os autores das músicas apareciam sob pseudônimos nas cédulas. O de Ary Barroso era Aba.
A empresa A. Neves & Cia, assessorada por Marques Porto e Luiz Peixoto, que assinavam quase todas as peças da companhia, sempre com sucessos de público e, como consequência, bilheteria, escreveram a revista A Melhor de Três, porém, dois dias antes da première (que seria em 24 de janeiro), o nome da peça aparecia nos jornais e na fachada do teatro com o novo título: Dá Nela!... .
No elenco, nomes de peso: Aracy Côrtes, Mesquitinha, J. Figueredo, Olga
Navarro, Elsa Gomes, Palitos, Luísa Fonseca, Isabelita Ruiz, Tina de Jarque,
Oscar Cardona...
Quando a jovem Zaíra, de apenas dezesseis anos, surgiu ao palco com as
coristas, cantando a marchinha, o público a consagrou como grande estrela.
A marcha, mesmo sendo o primeiro lugar no concurso promovido pela Casa Edison,
não foi reivindicada pela estrela da companhia, Aracy Côrtes, ficando para a
atriz gaúcha. Aracy laçaria outro clássico nessa revista: Na Pavuna,
trazendo pela primeira vez instrumentos de percussão. Mas, isso é uma história
futura...
Para o crítico Lafayette Silva, ela era "a mais séria ameaça do teatro
popular", e seria um enorme sucesso, pois, "bisou e trisou seus
números".
Os personagens interpretados por Zaíra eram: Colombina da Fuzarca, Desiludida,
Dá Nela, Baiana e Fenianos.
Cartaz de Dá Nella! no dia de sua
estréia, em 24/01/1930, no Jornal do Brasil. |
Zaíra (ao centro) e as girls (coristas) no quadro Colombina da Fuzarca. Peça Dá Nela!, janeiro de 1930. |
A marcha de Ary Barroso, Dá
Nela!... , foi gravada em disco por Francisco Alves.
O periódico O Malho, publicou uma foto de Francisco Alves e a Orchestra Pan American no palco, quando apresentavam a música de Ary Barroso. Abaixo, vemos a plateia que a elegeu primeiro lugar.
O Malho, 01 de fevereiro de 1930 |
O Malho, 01 de fevereiro de 1930 (detalhe) |
Pouco tempo depois de seu triunfo, Zaíra Cavalcanti foi convidada
a gravar um disco na gravadora Parlophon, que era subsidiária da Odeon.
De
Osvaldo Santiago e Eduardo Souto, ela gravou o samba Pedaço de Mau Caminho;
no lado B, gravou o samba de José Luís da Costa (Zé Pretinho), Gongá.
O acompanhamento ficou a cargo da Simão Nacional Orchestra, dirigida por Simon Bountman.
Novas peças foram surgindo, confirmando e firmando o prestígio da jovem estrela. As excursões pelo país e exterior a fariam levar sua arte para a Argentina e Chile, sendo uma das primeiras artistas brasileiras a se apresentar nesse último país.
O artigo Continua:
ZAÍRA CAVALCANTI - UMA ESTRELA BRASILEIRA (PARTE II): https://bit.ly/3n6MXws
Agradecimento a Dijalma Candido e ao Arquivo Nirez
Que postagem primorosa, amei ler sobre a vida e obra de Zaíra Cavalcanti.
ResponderExcluirParabéns