Rodolfo
Valentino como Julio Desnoyers, em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, de
1921.
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse foi um grande sucesso. Mas o estúdio achava
que quem merecia os créditos de tal feito era a estrela Alice Terry (a mesma
Alice Taaffy que, como Valentino, foi figurante em Alimony, em 1918) e seu
esposo, o diretor Rex Ingram.
Embora o astro principal tivesse se
destacado, foi escalado na próxima produção para um filme de ação, Corações
Cegos (Unchanted Seas, 1921), com Alice Lake e dirigido por Wesley Ruggles.
Essa produção teria prejudicado
seriamente sua carreira se seu fascínio sobre as mulheres não se exercesse mais
uma vez.
Nessa época uma das grandes atrizes
da Metro era Alla Nazimova que insistiu em ter Valentino como par em seu
próximo filme.
Com roteiro de June Mathis e baseado
no romance La Dame aux Camélias, de Alexandre Dumas Filho, A
Dama das Camélias (Camille, 1921) foi dirigida por Ray C. Smallwood,
com decoração e vestuários expressionistas de Natasha Rambova. Alla Nazimova e
Valentino formavam o par principal.
O romance de Dumas Filho conta a
história de Marguerite Gautier, uma bela cortesã na Paris de meados do século
XIX que se apaixona pelo jovem Armand. Um amor impossível que se desenvolve em
um trágico final.
Sempre que o romance foi adaptado
para o teatro ou cinema, a época e cenários retratados se passavam no século
XIX, com todo o glamour de Paris.
Porém, na adaptação de June Mathis
com direção de arte de Natasha Rambova, a história se passava na
contemporaneidade. Chega a ser futurista o quarto de Marguerite. Creio que, até
hoje, foi a única versão moderna do romance. E nos dias de hoje ainda
impressiona pela ousadia.
Alla Nazimova era uma atriz de teatro
muito respeitada e prestigiada, tendo trabalhado vários anos com Stanislavsky e
sendo considerada a melhor intérprete das peças de Ibsen. Era russa e fez uma
carreira de sucesso em Hollywood. Foi proprietária da famosa mansão Jardim de
Allah, conhecida por suas festas suntuosas e escandalosas. Seu prestígio era
tanto no cinema que o filme começa com o nome Nazimova acima
do título do filme, que também produzia (Nazimova Productions). Ou seja,
só seu sobrenome tinha um peso enorme e era quem garantia a qualidade da
produção.
No início do filme, já sabemos que
será uma versão modernizada do romance. Há um contive para esquecer as
crinolinas do romance original e imaginar a mesma história na atual geração.
Alla Nazimova em Camille, 1921.
Nazimova e Valentino, Camille, 1921.
Nazimova e Valentino, Camille, 1921.
(Foto-poster, clique na foto para ver em tamanho natural).
Surge
Natasha
Natasha Rambova em 1922
Winifred Shaughnessy, mais conhecida
como Natasha Rambova, era natural de Salt Lake City. Filha adotiva do
milionário Richard Hudnut, “tinha um incansável desejo de guiar a vida de
outras pessoas, e Nazimova colocara-se completamente sob seu controle”. Provavelmente
fora Natasha quem influenciou sua amiga a escolher Valentino como par.
Assim como Nazimova, Mercedes de
Acosta, a própria Jean Acker, Natasha fazia parte de um seleto grupo de
lésbicas na comunidade cinematográfica de Hollywood. Mulheres belas, elegantes
e inteligentes, eram respeitadas por sua cultura e bom gosto. Vária delas
casaram-se para manter as aparências perante os estúdios e fãs, embora entre os
colegas não fosse preciso disfarçar tanto. Creio que para os atores
homossexuais deveria haver uma maior cobrança para “manter as aparências”,
pois, para a época, a imagem dos galãs e heróis das telas sempre era associada
ao perfil do homem másculo e viril. Os estúdios manipulavam severamente a vida
de seus contratados para que fosse passada ao público a melhor imagem de seus
astros; a imagem que a sociedade da época julgava melhor e apropriada...
Natasha Rambova
Natasha passou a guiar Valentino e a
fazê-lo tomar consciência de seu prestígio. Ele pediu aumento de salário usando
da arma que dispunha: a falta de cooperação.
Quando filmava Eugenia
Grandet (The Conquering Power, 1921), uma adaptação do romance de Balzac
por June Mathis, novamente com Alice Terry como protagonista e direção de Rex
Ingram, ele brigou muito com Ingram. O filme não teve um êxito retumbante e a
Metro deixou que seu contrato expirasse.
Mais uma vez sua carreira iria ser
impulsionada por uma mulher, Jeanne Cohen, que trabalhava para o chefão
da Famous Players, Jesse Lasky. Vale lembrar que Famous
Players-Lasky Corporation viria a se tornar Paramount Pictures.
Ela costumava lhe indicar textos literários que poderiam vir a serem filmados.
Um deles foi The Sheik, escrito pela romancista Edith M. Hull.
Lasky não só concordou em filmar o romance como, influenciado por Jeanne,
contratou Valentino. “Este ficou entusiasmado, pois ali estava um papel ainda
mais romântico que o de Julio, porém Natasha achou a história um lixo e tentou
persuadi-lo a não aceitar o compromisso”.
Entretanto, mesmo sofrendo forte
influência de Natascha, Valentino não deixou que ela interferisse dessa vez e
resolveu filmar Paixão de Bárbaro (The Sheik, 1921). A direção
ficou a cargo de George Melford, a protagonista era Agnes Ayres e ainda contava
com a participação de Adolphe Menjou. Quando foi lançado, em novembro de 1921,
o filme foi uma sensação.
Cartaz de The Sheik, 1921
Valentino e Agnes Ayres, The Sheik, 1921
Valentino e Adolphe Menjou, The Sheik, 1921
Se voltarmos no tempo e nos imaginar vivendo nas primeiras
décadas do século XX talvez possamos compreender o fascínio que o cinema mudo,
seus astros e estrelas exerciam nas platéias. Nos anos 1900 e 1910, começamos a
conhecer nomes como Norma Talmadge, Charles Chaplin, Pearl White, Mabel
Normand; as vamps surgiram com Theda Bara, em meados dos anos 10, seduzindo a
platéia masculina e criando tendências.
O público
feminino conhecia e se impressionava com a virilidade de Douglas Fairbanks
desde 1915.
Em 1921,
ao verem Rodolfo Valentino em The Sheik, as mulheres não só
suspiravam longamente como eram acometidas de uma estranha e gostosa sensação.
Quem seria aquele belo homem que olhava de modo diferente para as mulheres?
Valentino em The Sheik, 1921
Como escreveu A. C. Gomes de Mattos,
“não havia nenhum filme como Paixão de Bárbaro. Não havia ninguém
como Valentino. Ninguém que olhasse para suas heroínas com tal mistura de
paixão e melancolia, deixando as fãs eletrizadas, realizando seus devaneios de
amor ilícito e desinibido”.
Ou seja, nascia um novo tipo de galã.
Eu diria, até um galã contemporâneo. Os anos 20, ao contrário das duas
primeiras décadas do século XX, revolucionaram todo um comportamento. Mesmo
ainda oprimidas, a maioria das mulheres podiam sonhar por algumas horas, no
escuro do cinema, com Valentino, seus olhares e beijos, e se colocarem no lugar
de Agnes Ayres e, juntos, percorrerem o deserto em um veloz cavalo.
Valentino e Agnes Ayres, The Sheik, 1921
Logo depois, o estúdio o colocou
em De Marujo a Comandante ou A Ferro e Fogo (Moran of
the Lady Letty, 1922), adaptação de um romance de Frank Norris. A direção
era de George Melford e Dorothy Dalton era a protagonista.
O filme seguinte seria Esposa
Mártir (Beyond the Rocks, 1922), com direção de Sam Wood e tendo como
companheira a maior estrela da Paramount, Gloria Swanson.
Gloria Swanson e
Valentino em Beyond the Rocks, 1922.
Gloria Swanson e Valentino em Beyond the Rocks, 1922. (Clique na foto para ver em tamanho original).
Sua carreira estava novamente em
ascensão. Ele pediu o divórcio a Jean Acker para se casar com Natasha Rambova.
Enquanto isso, Lasky escolhia seu próximo filme. Coube à June Mathis a
adaptação para as telas de Sangre y Arena, romance de Ibañez.
Sangue e Areia (Blood and Sand, 1922), seria dirigido por
Fred Nilbo e teria duas estrelas contracenando com o astro, Lila Lee (como a
terna Carmen) e Nita Naldi (como a fatal Doña Sol). Ele interpretaria o
toureiro Juan Gallardo.
Como o toureiro Juan Gallardo, Sangue e Areia, 1922.
(Clique na foto para ver em tamanho original).
Valentino e Lila Lee, Sangue e Areia, 1922.
Doña Sol (Nita
Naldi) preparando o ataque a Juan (Valentino). Sangue e Areia, 1922.
Valentino e Nita Naldi, Sangue e Areia, 1922.
Valentino e June Mathis no set de Sangue e Areia, 1922.
Valentino, impaciente, não esperou o término do processo de divórcio
e se casou com Natasha a 13 de maio de 1922, em Mexicalli. Mesmo com o sigilo,
os jornais de todo o país alardearam a notícia, provocando um escândalo. Em um
sábado, pela manhã, Valentino foi preso, acusado de bigamia. O juiz fixou uma
fiança de 10 mil dólares. Natasha partiu sozinha para Nova Iorque, para
amenizar a situação.
Nastasha Rambova e Rodolfo Valentino
Nastasha Rambova e Rodolfo Valentino
(Clique na foto para ver em tamanho original).
Para a grata surpresa da Paramount, o escândalo não abalou a popularidade de Valentino.
No entanto, após participar (contra sua vontade) de O Jovem Rajá (The Young Rajah, 1922), com direção de Phillip Rosen, roteiro de June
Mathis e tendo Wanda Hawley como parceira, ele levou uma suspensão, rumando
“para perto de sua querida Natasha, porém, mantendo cuidadosamente residências
separadas”.
Valentino e Wanda Hawley, O Jovem Rajá, 1922.
(Clique na foto para ver em tamanho original)
Seu contrato com a Paramount o
impedia de fazer filmes para outras companhias, mas, não o impedia de se apresentar
pessoalmente. No final de 1922, George Ullman tornou-se seu agente,
“programando uma excursão dele e Natasha pelo país, formando uma dupla de
dançarinos em espetáculos patrocinados pela Mineralava Beauty Clay Company
Limited. Ele ganhava dez vezes mais o que a Paramount lhe
pagava.
Após dez dias de concedido o
divórcio, em março de 1923, Valentino e Natasha se casaram, pela segunda vez. O
show da dupla era um grande sucesso e a Paramount chegou a um acordo. Agora,
com o novo contrato, ele estava “no mesmo nível de seus grandes contemporâneos,
Mary Pickford, Douglas Fairbanks e Charles Chaplin”. À Natasha, o contrato dava
o direito de aprovação final da história e da produção. Após assinarem toda a
documentação, os dois partiram para a Europa.
No fim de 1923, começaram as
filmagens de Monsieur Beaucair (Monsieur Beaucaire), sob a direção
de Sidney Olcott, tendo no elenco Bebe Daniels, Lois Wilson e Doris Kenyon.
“Natasha mostrou suas garras. Ela ia ao set constantemente e, sem dúvida
alguma, sua palavra era lei”. O filme foi bem produzido, dando bastante lucro.
Rodolfo
Valentino e Doris Kenyon, Monsieur Beaucair, 1923.
Rodolfo Valentino e Doris Kenyon, Monsieur Beaucair, 1923.
Rodolfo Valentino em Monsieur Beaucaire, 1923.
(Clique na foto para ver em tamanho original)
Revista Cinemin nº 26, 5ª Série, Agosto de 1986,
artigo "A História de Rodolfo Valentino", de A. C. Gomes de Mattos.
Pertencente ao Arquivo Marcelo Bonavides.
EStou impressionada com estas postagens sobre Rodolfo Valentino. Tudo está extraordinariamente maravilhoso, escrito com a alma, postado com todo o coração. A seleção de imagens então... Abraço e ótima semana.
EStou impressionada com estas postagens sobre Rodolfo Valentino. Tudo está extraordinariamente maravilhoso, escrito com a alma, postado com todo o coração. A seleção de imagens então... Abraço e ótima semana.
ResponderExcluirPuxa, fico muitíssimo feliz com seu comentário.
ResponderExcluirO carinho dos amigos me motiva a procurar fazer algo de coração.