Pelo Rio de Janeiro muitas celebridades já passaram e ainda irão passar.
Em 1935, a revista Carioca, em seu primeiro exemplar,
Em 1935, a revista Carioca, em seu primeiro exemplar,
cobria a vinda do Rei de Hollywood à Cidade Maravilhosa.
Reproduzi a matéria na íntegra, com pontuação, grifos,
acentuação e, até, erros originais.
CLARK GABLE NO RIO
Uma viagem de repouso
transtornada pelo enthusiasmo das "fans"
"A celebridade tem tambem as suas desvantagens. Se nos offerece prazeres e vantagens materiaes, não deixa, todavia, de ter os seus inconvenientes. O individuo famoso já não pertence a si proprio. É um escravo da notoriedade. Não tem tranquilidade, não tem socego, não póde viver calma e docemente como o commum dos mortaes. Esse é o caso de Clark Gable, o notavel actor cinematographico, que acaba de visitar o Rio, em viagem de recreio. Saiu o interprete de “Mares da China” silenciosamente da California, para realisar um “raid” de avião em torno do continente. Começou pela costa do Pacifico, para, em seguida, percorrer a do Atlantico, demorando-se alguns dias em cada uma das grandes cidades sul-americanas. Apesar de não desejar exhibir-se, furtando-se o mais possivel ao contacto com as multidões, pois o seu unico proposito era gosar tranquilamente suas férias, Clark Gable teve que arrostar em Lima, Santiago e Buenos Aires o enthusiasmo de milhares de “fans”.
Foi comprimido por multidões em delirio, obrigado a assignar centenas e centenas de autographos, posar para milhares de photographias, deixar-se entrevistar por dezenas e dezenas de jornalistas. A viagem, que era de repouso, transformou-se, assim, em verdadeira roda viva. O “astro” não conseguiu repousar um dia sequer, pois quando terminavam as homenagens ruidosas dos “fans” recolhia-se á cabine do avião, para ouvir o ronco ensurdecedor dos motores. Em Buenos Aires, Clark Gable não teve outro remedio. Mandou cancellar a passagem do avião e tomou um dos mais morosos navios americanos, para fazer em sete duas o trajecto da capital argentina ao Rio, tendo assim a opportunidade de descansar uma semana, muito embora não goste de andar embarcado. Isso limitou o prazo de permanência do celebre artista na nossa capital. As “fans” brasileiras foram prejudicadas, desse modo, pelo excesso de enthusiasmo das peruanas, chilenas e argentinas. É natural, porém, o enthusiasmo do publico feminino do continente, em face da “personal appearence” de Clark Gable, que é, hoje, o que era Rodolpho Valentino ha doze annos atrás. Verdadeiro idolo dos “fans”, Clark Gable, com suas maneiras masculas, um tanto rudes, não é uma figura de salão, um galã elegante, mas encarna, sem duvida, o typo sportivo, energico, decidido, audacioso, que realisa o ideal da mocidade moderna.
Sua carreira cinematographica, um tanto accidentada, mostra que elle tem, na vida real, a mesma decisão que revela nos films. Começou trabalhando em pequenas produções da Universal e da Warner ?, projectando-se, mais tarde, como figura de primeiro plano em films de Joan Crawford e Norma Sheare. Quando as sympathias do publico, depois de “Uma alma livre”, se definiram em seu favor, Clark Gable fez greve contra a Metro, exigiu augmento de salarios, primeiros papeis, vantagens de varias ordens, ameaçando ir trabalhar no theatro em Nova York. Foi assim que se impoz como “astro”, pois a Metro se curvou aos seus desejos. Entre seus melhores trabalhos figuram “A irmã branca”, com Helen Hayes; “Possuida”, “Redimida” e “Quando o diabo atiça”, com Joan Crawford; “Susan Lennox”, com Greta Garbo; “Terra de paixão”, com Jean Harlow, e “Gigante do Céo”, com Wallace Beery.".
Os "fans", no cáes, aguardando a chegada do famoso "astro" |
Clark Gable, no "deck" do Pan American", quando o navio se achava em frente ao edificio d´A NOITE |
"Em Santos, São Paulo e no Rio, recebeu Clark gable expressivas manifestações dos “fans”. Sua passagem pela nossa capital foi rápida, pois o notável intérprete de “Aconteceu naquella noite” tem pressa de chegar aos Estados Unidos, para recomeçar o trabalho nos estúdios. Quando o “Pan American” atracou no cáes, era enorme a multidão de “fans”, que o aguardava, predominando o elemento feminino. Clark Gable foi vivamente ovacionado quando appareceu no, “deck” do navio. E milhares de jovens se contentaram em contemplar, á distancia, a figura elegante do galã celebre, que é o novo ídolo masculino do écran. Clark Gable declarou que não desembarcaria. Mais tarde, porém, illudindo a multidão de admiradores e, sobretudo, de admiradoras, tomou uma lancha e foi desembarcar ao longe, percorrendo a cidade em tranquillo icognito.". (Revista Carioca, 1935. O artigo não estava assinado).
Entre os jornalistas, a bordo do "Pan American" |
Agradecimento ao ARQUIVO NIREZ