Ótima marcha carnavalesca da autoria do maestro Eduardo Souto.
As interpretações de Norma Bruno e Francisco Alves estão impagáveis!
O autor brinca com um episódio da política de 1930.
O saudoso amigo e pesquisador Abel Cardoso Junior em seu livro Francisco Alves - As Mil Canções do Rei da Voz, explica a música: "Mais uma sátira política. Julinho, Júlio Prestes, aluno da escola, estava de 'castigo na casa do português', ou seja, exilado em Portugal. Washington Luís, o Barbado, 'raspado', em dois sentidos: deposto e exilaod em Paris, simbolicamente sem sua barba.
No futuro dessa conjugação, que ainda se conserva moderna, o menino (o povo?) vaticina que seria 'gozado' (tapeado) na sua expectativa de novos tempos".
Verbo Ser
(Conjugação Moderna)
Marcha Carnavalesca
(Eduardo Souto) c/ Norma Bruno
com Orchestra Copacabana
Disco 10748 - A, matriz 4073 - 02/12/30 - 01/31
Cenário: sala de aula de uma escola primária. Francisco Alves imita voz de menino. Norma Bruno é a professora. Tumulto na sala.
Entra a mestra, com os alunos recitando:
B a Bá! B e Bé! B o Bó! B u Bú! 2+2, 4! 2+3, 5! 2+4,6!
Profª (NB) Silêncio!
Aluno (FA) A fessora! A fessora! A fessora! A fessora aí!
NB Estão todos presentes e portanto vamos começar a lição!
FA Fessora, o Julinho não veio?
NB Cale a boca, atrevido! Eu já não lhe disse que o Julinho não vem mais?
FA Me desculpe, D. Oswaldina! Eu tinha esquecido que a fessora mandara o Julinho de castigo lá pra casa do português!
NB Bem, bem, não se fale mais nisso! Vamos agora ao ponto de hoje, a saber: Verbo Ser, conjugação moderna!
Entra a música:
NB Antigamente?
FA Eu era, tu eras, ele era!
NB O quê?
FA Barbado!
NB Atualmente?
FA Eu sou, tu és, ele é!
NB O quê?
FA Ah! Raspado!
Seu sordado não me prenda
Não me mande pro estrangeiro
pois se eu formei batalão
foi só pra ganhar dinheiro
NB Primeiramente?
FA Eu fui, tu foste, ele foi!
NB O quê?
FA Muita gente tapeado!
NB Futuramente?
FA Serei, serás, será!
NB O quê?
FA Ai, ai, gozado!
Seu sordado não me prenda
Não me mande pro estrangeiro
pois se eu formei batalão
foi só pra ganhar dinheiro
Na partitura vinha escrito: "Verbo Ser (Conjugação Moderna). Marcha carnavalesca. Letra e música de Eduardo Souto. Ao prezado amigo, e talentoso trovador brasileiro, Francisco Alves. Edição Guanabara s/nº"
O Jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, no dia 01 de fevereiro de 1931, pág. 07, publicou que Verbo Ser "é fino humorismo, que ninguém deixa de achar espirituoso. Tem profunda psicologia... É perfeitamente do gosto do povo e no entanto não descamba para a chalaça grosseira e pesada. Sua música tem muita vida, é original e brilhante".
Francisco Alves, 1930 |
Norma Bruno, 1925 Atriz do teatro de revista muito estimada nos anos 20/30 do séc. XX. Fazia impagáveis imitações de Aracy Côrtes, Mesquitinha e também da novata Carmen Miranda, em 1930. |
Fontes:
- Fotos de Francisco Alves e Norma Bruno (21/02/1925) - Revista Para Todos, site da Biblioteca Nacional (www.bn.br).
- Mp3 Verbo Ser - Arquivo Nirez
- Francisco Alves - As Mil Canções do rei da Voz, de Abel Cardoso Junior. Edição Revivendo, Curitiba, 1998.
Bravo Marcelo! Belo post!
ResponderExcluirÉ importante que as pessoas conheçam esta fase da carreira do Chico, hoje em dia muito mais lembrado numa cultura necrofílica como um senhor cinquentão que só cantava "Adeus, Adeus, Adeus" e morreu num acidente. Chico foi muitissimo mais que isso. Taí seu post paa provar.
Abraço!
Milton Baungartner