P´RA VOCÊ GOSTAR DE MIM
TA-HÍ!...
Marcha Canção do médico e compositor Joubert de Carvalho.
Com essa marchinha, Carmen Miranda ficou nacionalmente conhecida, dando início ao seu sucesso em nossa música popular.
Confiram sua história.
Em uma tarde de Janeiro de 1930, Joubert passava pela Rua Gonçalves Dias, quando o gerente da Casa Melodia, Sr. Abreu, o chamou para que ouvisse um disco recém-lançado de uma cantora novata.
Tratava-se da canção toada Triste Jandaya, da autoria de Josué de Barros e gravada pela iniciante Carmen Miranda.
Ao ouvir a música, Joubert sentiu uma emoção estranha: “Era como se eu além de ouvir a intérprete, a estivesse vendo também, tal era a personalidade marcante que jorrava da gravação. O Abreu notou o meu entusiasmo e repetimos várias vezes o disco, cada vez me agradando mais, a ponto de pedir encarecidamente ao Abreu que me apresentasse à Carmen”.
Joubert ainda conversava com seu amigo quando Carmen surgiu na loja, elegantemente vestida.
Abreu, ao vê-la, exclamou: “Taí a nova cantora...”.
Os dois foram apresentados e o compositor ficou encantado com a graça e alegria radiante da jovem intérprete, que logo exprimiu seu interesse de compor algo pra ela. Agradecendo, bastante sensibilizada, Carmen deu seu endereço na Travessa do Comércio, onde o autor de Príncipe e Bocca Pintada a procuraria no dia seguinte.
Ao sair da loja, ele já tinha uma melodia na cabeça e a frase de Abreu,
aquele “Taí a nova cantora...”, não saia de sua mente.
Em menos de 24 horas, Joubert estava na porta de Carmen. Quando ela abriu, ele não a reconheceu, pois estava com roupas de casa, ao que ela exclama: “Sou eu mesma... Você não esta me reconhecendo porque estou sem a mascara de ontem...Suba, suba.”
Diante do espanto da moça, ele entregava-lhe a música prometida. Tratava-se de uma marcha canção, com o título de P´ra Você Gostar de Mim.
“Dispunha-me a lhe ensinar a cantar a marchinha ... Quando ela, com muito espírito e seus olhos brejeiros, vivos, maliciosos, fez a seguinte observação:
‘Não precisa me ensinar que na hora da bossa eu entro com a boçalidade...”
Carmen Miranda e Nipper, a mascote da Victor, em 1930. Foto original de De Los Rios, c 4028. Sem retoques. Arquivo Nirez |
A ideia de Joubert é que a música fosse uma marcha canção, não tendo finalidade carnavalesca. Foi gravada por Carmen e a Orchestra Victor, sob regência de Pixinguinha, na Victor em 27 de Janeiro de 1930.
Nos registros da gravação vem como Marcha Carnavalesca. Entre o encontro de Joubert e Carmen e a data da gravação, tudo aconteceu em menos de um mês.
Pixinguinha deu um novo andamento à música, e com a magistral interpretação de Carmen, surgia uma deliciosa marchinha de carnaval, a qual o povo rebatizaria mais tarde como “Taí”.
Antes dessa gravação, já havia outra feita por Carmen que chegaria às lojas primeiro. Tratava-se da marcha Carnavalesca de Josué de Barros Yayá,Yoyô. O interessante é que durante a gravação Carmen errou ao cantar o refrão, dizendo Yayô, quando o certo seria Yayá. Como o disco saiu assim mesmo, é de se pensar que os responsáveis pela divulgação não acreditavam que a marchinha faria sucesso. Mas fez!
E foi uma das mais cantadas no carnaval de 1930, embora a marchinha de Josué fosse mais cantada.
Embora a marchinha de Josué fosse mais cantada, P´ra Você Gostar de Mim ou Th-aí, logo cai no gosto do povo, sendo também uma das mais repetidas, não só no carnaval como durante todo o ano de 1930, sendo um enorme sucesso no carnaval de 1931; fato raro na história do Carnaval, onde uma música “abafou a banca” dois anos seguidos!
Em 1955, durante o velório e enterro de Carmen Miranda, os fãs e amigos, como Pixinguinha e João da Bahiana, cantavam e tocavam os sucessos da cantora, principalmente o inesquecível Taí.
Registro original da Victor sobre a gravação de P´ra Você Gostar de Mim, 27 de janeiro de 1930. Arquivo Nirez, Fortalez-Ce. |
P´ra Você Gostar de Mim
Marcha Canção de Joubert de Carvalho
Gravada por Carmen Miranda
Acompanhamento da Orquestra Victor
Disco Victor 33.263-B, matriz 50.169-3
Gravado em 27 de janeiro de 1930 e lançado em fevereiro de 1930
Taí!
Eu fiz tudo p´ra você gostar de mim
Oh! Meu bem, não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração
Meu amor não posso esquecer
Se dá alegria faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não tem fim
Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor
Partitura para piano e canto de P´ra Você Gostar de Mim (Arquivo Nirez, Fortaleza-Ce).
A música Prá Você Gostar de Mim na imprensa
Revista Eu Vi, 1930 http://memoria.bn.br |
Phono-Arte, 1930. http://memoria.bn.br |
O Paiz, 23 de fevereiro de 1930, p. 08. http://memoria.bn.br |
O Paiz, 23 de fevereiro de 1930, p. 09. http://memoria.bn.br |
O Paiz, 19 e 20 de abril de 1930, p. 07. http://memoria.bn.br |
Diario Carioca, 23 de fevereiro de 1930, p. 02. http://memoria.bn.br |
Diario Carioca, 11 de junho de 1930, p. 02. http://memoria.bn.br |
Diario Carioca, 30 de julho de 1930, p. 09. http://memoria.bn.br |
O Malho, 1930. http://memoria.bn.br |
Fon Fon, 1931. http://memoria.bn.br |
Paródias
A Batalha, 11 de novembro de 1930, p. 05. http://memoria.bn.br |
Diario de Noticias, 29 de outubro de 1930, p. 14. http://memoria.bn.br |
Agradecimento ao Arquivo Nirez
Fonte - Carmen Miranda - A Cantora do Brasil, de Abel Cardoso Júnior
Que bela homenagem ao carnaval! Adoro Taí e a Carmen Miranda. Ah, como eu não daria tudo pra ser transportada por alguns minutos para a folia carnavalesca dos anos 30 e ver a Carmen cantando ao vivo!
ResponderExcluirBjos e bom carnaval!
Olá, Marcelo, Saudações! Parabéns pelo belo trabalho! Fico aqui com um comentário: Essa marcha foi gravada e se chama oficialmente "Prá você gostar de mim". Popularmente, desde a gravação original, é chamada de "Taí". Acontece que em meados dos anos cinquenta, quando do seu relançamento em LP 10" por ocasião da morte da cantora, a marcha foi nomeada "Tha-í", provavelmente por Elmo Barros, responsável, á epoca, pelas contracapas da RCA. O curioso é que, pela ortografia de 1955, "Taí" não se escrevia com H e, muito menos, pela ortografia antiga anterior a 1943. Assim, "Taí" sempre deveria ter sido "Taí", e não "Thaí" ou "Tha-í". Penso que essa denominação surgiu por puro capricho pessoal naquela contracapa.
ResponderExcluiré isso.
Abraço,
Milton
Milton!
ResponderExcluirTudo bem?
Obrigado pela informação importante.
Achei melhor corrigir pra ficar de acordo com a ortografia da época.
Grande abraço!
Olá Marcelo! Quero retificar meu comentário anterior, sobre o "Ta-hi". Em verdade, parece que Elmo Barros, na RCA, não criou o termo "Ta-hi". Em conversa recente com o Djalma, que possue partituras antigas de sucessos da Victor, a marcha "Prá você gostar de mim" aparecia em catálogo no início de 1930 sem o apelido. Já no final do mesmo ano o termo "Ta-hi" passou a acompanhar o título original, para nunca mais largá-lo, nem mesmo numa gravação de Lolita França no final dos anos 30. Assim, muda-se o papel de Elmo Barros na história: Ele não criou o termo, mas sim "ressuscitou-o", com grafia antiga e tudo, na metade da década de 50, em LP lançado pela RCA após a morte da Carmen.
ResponderExcluirÉ isso.
Abraço,
Milton