Soprano, Aracy foi quem adaptou o canto lírico para cantar a nossa música popular.
Ela sabia valorizar a melodia e em cada registro seu deixou sua marca, seus “erres”, sua dicção e os agudos maravilhosos.
E sua improvisação, apenas com sons? Perfeita!
Basta ouvirmos Reminiscências, de Jota Soares e Carlos Medina.
Aí, percebemos porque ela era considerada soberana.
Uma curiosidade: Aracy gravou essa música duas vezes.
Talvez em nossa discografia não apareça esse detalhe.
Mas, se ouvirmos atentamente alguns exemplares da música veremos, na parte do improviso, que se trata de versões diferentes.
Ela troca de lugar com a orquestra e, com improvisação através de sua voz, interpreta a parte dos instrumentos que a acompanham e estes solam a parte que seria cantada por ela.
Não foi à toa que Abel Cardoso Junior ao escrever sobre essa música, afirmou: Aracy dá uma verdadeira aula de voz e interpretação!
Em suas gravações ela assumia as personagens que interpretava nos palcos ou que faziam sucessos.
Podia ser a mulher bem resolvida de Sim, mas desencosta (Cândido das Neves); como poderia ser triste e bela com A Minha Dor, de Oscar Cardona (que também era ator).
O tema “mulher de malandro” nos deu Tu qué tomá meu home (Ary Barroso e Olegário Mariano) e Você é o homem do meu peito (J. Cabral e M. Rodrigues).
A Bahia foi cantada através de Meu Sinhô do Bonfim (Pedro de Sá Pereira, Luís Peixoto e Marques Porto), Zomba (do cantor Francisco Alves) ou a já citada Baianinha.
Os Quindins de Yayá (de Pedro de Sá Pereira e Cardoso de Menezes e Carlos Bittencourt – não confundir com a homônima de Ary Barroso) nos davam idéia da malícia de sua atuação.
E Um Sorriso (de Benedito Lacerda) ainda nos deixa emocionados.
Gravou também na Odeon e na Colúmbia.
Aproximadamente foram 71 músicas em discos 78 rpm.
É uma pena que não tenha gravado mais.
Basta citarmos alguns títulos de músicas que devem a ela seu sucesso para desejarmos mais gravações suas: Aquearela do Brasil, No Morro, Eh, Eh (depois rebatizada de Boneca de Pixe), Na Grota Funda – Esse mulato vai ser meu (que viraria No Rancho Fundo), Guacyra, Harmonia das Flores, Ai Yoyô, Jura, Na Pavuna, Tem Francesa no Morro, Tico Tico no Fubá, Yes, Nós temos Banana...
Excursionou com sucesso por Paris, Portugal e Espanha.
Criou sua própria companhia teatral: Companhia Aracy Côrtes/Pinto Filho.
Pinto Filho foi um de nossos grandes atores cômicos.
Teve destaque no rádio e foi eleita a Rainha da Atrizes de 1939.
Após décadas de êxitos ela se afastou dos palcos.
Retornou com grande sucesso no show Rosa de Ouro (de 1965), em que dividia o palco com os estreantes Clementina de Jesus Paulinho da Viola. Sua entrada era anunciada com a música Senhora Rainha, de Hermínio Bello de Cravalho.
Por conta desse espetáculo fez mais algumas gravações e lançou mais composições, também interpretando seus sucessos.
Em 1984, aos 80 anos, participou em um show na Sala Funarte ao lado da cantora Marília Barbosa que, segundo a própria Aracy, era a única que poderia ser sua sucessora.
Em 8 de Janeiro de 1985 ela falece no Rio de Janeiro. Seu corpo é velado no Teatro João Caetano. A imprensa dedica homenagens à artista; afirmando que, com ela, ia embora toda uma era do nosso teatro.
E foi verdade...